03 jun, 2022 - 10:49 • Maria João Costa
É “obvia a importância progressiva” do português, sublinha o Presidente da República. Em entrevista ao Ensaio Geral da Renascença, na Festa do Livro que Marcelo Rebelo de Sousa promove nos jardins do Palácio de Belém até domingo, o chefe de Estado defende que o português “deveria ser” uma língua oficial das Nações Unidas.
Segundo o Presidente da República, “é evidente” que o idioma de Camões já “deveria” ter esse estatuto. Marcelo lembra que Portugal tem “batalhado” para isso, mas questionado sobre o que tem tardado o processo, o presidente aponta a “concorrência de outras línguas” que, no seu entender, “não têm comparação”.
Há ainda outro aspeto que passa pelo “peso político dos países que ficam melindrados”. No entanto, o Presidente considera que “não há comparação”. “É obvio que o português no hemisfério sul é esmagador, para além do castelhano. E mesmo no hemisfério norte, é tão obvia essa importância, e vai ser tão obvia a importância progressiva até em países que são francófonos ou anglófonos”, refere Marcelo que conclui que “são lutas que temos que continuar a travar”.
“A situação é dramática”, é desta forma que Marcelo Rebelo de Sousa reage aos indicadores apontados num estudo promovido pela Fundação Gulbenkian e o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa que revela que 61% dos portugueses não leu um livro em 2020.
O Presidente para quem “é impensável a vida sem livros”, aponta que “temos de fazer tudo”, para pôr termo à preguiça na leitura. Contudo, reconhece que a situação “piorou com a pandemia”.
“A dificuldade de ter famílias ao mesmo tempo em casa, durante tanto tempo, e não haver espaço mental nem físico para ler, fez com que se lesse menos, se comprasse menos livros, se fosse menos a bibliotecas e isso tem um custo.”
Marcelo que recorda os seus pais que “liam coisas diferentes” fala das consequências a longo prazo dos baixos índices de leitura. “Não se vê logo! Passa-se meio ano, um ano, ano e meio, dois anos e ainda temos a pandemia a andar por aí, e o resultado é esse. As pessoas não leram, descolaram da leitura”, critica.
O Presidente que admite que “não era feliz, não lendo”, sublinha que “há sempre uns resistentes”, mas são “poucos, muito poucos”, lamenta. Evocando a sua atividade académica, no Ensaio Geral, o Presidente diz que “sendo professor é preciso convidar a ler”.
Embora continue a preferir ler em papel, e a comprar livros numa livraria, Marcelo Rebelo de Sousa diz que “tem a alegria de ter netos que leem”. No entanto, também tem outros que não são leitores. Questionado sobre como estimula esses resistentes à leitura, o presidente indica que é “oferendo livros que sejam interessantes para eles poderem ler”. “É um bocado um jogo sinuoso. Chega-se lá por caminhos diferentes”, reconhece Marcelo Rebelo de Sousa, o anfitrião da Festa do Livro, organizada em conjunto com a APEL, até domingo nos jardins do Palácio de Belém.
Pode ouvir Marcelo Rebelo de Sousa esta sexta-feira, depois das 23h, no programa Ensaio Geral em que se discute o estado da edição em Portugal e onde são também convidados o presidente da APEL, Pedro Sobral, a editora da Tinta-da-China Bárbara Bulhosa e Manuel Fonseca da Guerra e Paz.
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Na abertura da Festa do Livro, no Palácio de Belém(...)