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Ratinho regenerou sistema nervoso após lesão. Portugueses desvendam mecanismo

05 jan, 2022 - 19:12 • Pedro Mesquita com Redação

A descoberta de uma equipa de cientistas portugueses pode vir a revolucionar, nas próximas décadas, o tratamento de lesões da medula espinhal em humanos. O caminho da investigação é muito longo mas, em fim de linha, abre uma nova esperança, por exemplo, para os paraplégicos.

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Uma equipa de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto desvendaram, num animal mamífero, os mecanismos moleculares que permitem regenerar o Sistema Nervoso Central (SNC) após uma lesão da medula.

Publicado na revista científica "Developmental Cell", o artigo revela os mecanismos moleculares que permitiram ao ratinho espinhoso (Acomys cahirinus) regenerar a espinhal medula após uma lesão.

“Nós descobrimos que há uma espécie de ratinho que é capaz de regenerar e recuperar função espontaneamente, após uma lesão completa da medula espinhal”, explica Mónica Sousa, em declarações à Renascença.

Para a investigadora que coordena este estudo, a descoberta traduz-se “numa mudança de paradigma grande”, uma vez que, até agora, “pensava-se que nenhum mamífero adulto seria capaz de regenerar nenhum tipo de tecido do SNC, coisa que este ratinho consegue fazer”.

Ainda há muito trabalho cientifico pela frente e a ideia, a partir de agora, é tentar compreender os mecanismos dessa autorregeneração, para os recriar noutros mamíferos até chegar, por fim, aos humanos.

“Esse é o nosso objetivo a muito longo termo, conseguir perceber quais os mecanismos que este ‘Acomys cahirinus’ usa para ser capaz de regenerar espontaneamente, para depois vermos se somos capazes de os recapitular em mamíferos que não regeneram”, usando outras espécies de ratinhos, “sempre com o objetivo, a longo prazo, de chegar a humanos”, acrescenta a investigadora.

Longo caminho a percorrer

Mas, até chegar aos ensaios clínicos com humanos, há um longo caminho a percorrer, de “vários anos”, admite Mónica Sousa, além do investimento necessário, que será, seguramente, avultado.

“Vivemos num mundo sem fronteiras e, claro, que gostávamos de fazer esse caminho em Portugal, mas se surgirem oportunidades de o fazer com parceiros estrangeiros, é algo que, obviamente, não pomos de lado”, sublinha.

O trabalho, agora divulgado, pode ser uma espécie de “ponta do iceberg", para um bem maior que é poder dar esperança e otimismo às pessoas que sofreram lesões, incapacitantes, no SNC.

“Sim, estamos a falar em lesões da medula espinhal, como por exemplo uma paraplegia”, admite, cautelosa, Mónica Sousa.

“Eu quero dizer que sim, mas sempre com cautela, pois estes estudos só têm implicações clínicas vários anos depois das descobertas fundamentais terem sido realizadas”, realça a investigadora, nesta entrevista à Renascença.

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