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Poeta e tradutor Pedro Tamen morre aos 86 anos

29 jul, 2021 - 18:40

As cerimónias fúnebres serão reservadas à família. Ministra da Cultura e Gulbenkian já manifestaram pesar.

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O poeta Pedro Tamen, de 86 anos, morreu esta quinta-feira em Setúbal, onde estava hospitalizado, disse à agência Lusa fonte próxima da família.

Pedro Tamen estreou-se em 1956 com "Poema para todos os dias", em edição de autor, pouco antes de assumir a direção da editora Moraes, até 1975 e onde dinamizou a coleção "Círculo de Poesia".

A extensa obra poética foi coligida em diferentes ocasiões, nomeadamente em "Tábua das Matérias" (1991) e "Retábulo das Memórias" (2013), com cerca de mil páginas, coligindo 19 livros e poemas soltos.

"À margem de escolas e movimentos, a sua poesia afirma-se como das mais cultas e inovadoras surgidas a partir da segunda metade dos anos 1950. O pendor religioso dos dois primeiros livros desvaneceu-se progressivamente, em favor de uma óbvia ambiguidade discursiva, por vezes sarcástica, de tónica anti-convencional e rigor ático", lê-se no Dicionário Cronológico de Autores Portugueses.

Pedro Mário de Alles Tamen, nascido em Lisboa em 1934, licenciou-se em Direito na Universidade de Lisboa, mas não exerceu; integrou o jornal Encontro, da Juventude Universitária Católica, foi cineclubista, professor do ensino secundário, diretor-adjunto da revista Flama e editor em O Tempo e o Modo.

Nos anos 1970 integrou ainda a primeira direção da Associação Portuguesa de Escritores.

Foi administrador da Fundação Calouste Gulbenkian durante mais de duas décadas, entre 1975 e 2000, com o pelouro das Belas-Artes. No final desse ano, depois de se reformar da fundação, iniciou a tradução do romance em sete volumes "Em busca do tempo perdido", de Marcel Proust.

Em 2003, em entrevista no programa televisivo "Por outro lado", Pedro Tamen afirmava que a tradução literária era um vício, adquirido muito cedo, e que no caso da obra de Proust atingiu um grau de "possessão", de uma obra que é "um dos grandes livros que a Humanidade produziu até agora".

Além de Proust, Pedro Tamen traduziu obras de Flaubert, Camilo Jose Cela, Georges Pérec, Jean Paul Sartre, Gabriel Garcia Marquez, Mario Vargas Llosa e Michel Foucault.

Em 2000, quando publicou "Memória indescritível", Pedro Tamen disse em entrevista ao Diário de Notícias que "os poetas não fazem mais do que arranhar a crosta do mundo para encontrar o que está por baixo".

"Parto por isso da consciência de que nada é totalmente o que parece e que subterraneamente há algo que não aparece e que desconhecemos. Tacteamos, vagamente. Quem faz isso, como eu, está dentro do caldo da poesia", afirmou.

Pedro Tamen teve um percurso literário premiado, nomeadamente com o Grande Prémio de Tradução Literária, em 1990, o Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários, em 1991, o Prémio P.E.N. de Poesia, em 2001, o Prémio Luís Nava, em 2006.

Em 2010 venceu o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, com "O livro do sapateiro", e no ano seguinte o Prémio Literário Casino da Póvoa.

Em 1993, foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.

A cerimónia religiosa, privada, realiza-se no sábado numa capela em Palmela, no distrito de Setúbal, seguindo o corpo para o crematório da Quinta do Conde, no concelho vizinho de Sesimbra.

"Será depois rezada uma missa de sétimo dia", disse Teresa Tamen, filha do poeta.

Marcelo "já com saudade"

Marcelo Rebelo de Sousa reagiu à notícia da morte de Pedro Tamen através de uma mensagem de condolências intitulada "Presidente da República lembra Pedro Tamen, já com saudade".

"Durante mais de meio século, Pedro Tamen foi uma figura ativíssima da nossa vida cultural e cívica", lê-se nesta nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet.

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamentou a morte do escritor, que classificou de "figura maior da literatura portuguesa".

Numa mensagem publicada na rede social Twitter, a ministra salientou que Tamen "construiu uma obra poética extraordinária, com um domínio magistral da língua portuguesa e das suas sonoridades".

Também o conselho de administração da Fundação Calouste Gulbenkian lamentou a morte de Pedro Tamen, administrador da instituição entre 1975 e 2000, apontando-o como "um dos mais notáveis vultos da poesia portuguesa".

Em comunicado, a presidente da Fundação Gulbenkian, Isabel Mota, lembra o "inestimável contributo [de Pedro Tamen] ao longo de 25 anos, estando o seu nome indissociavelmente ligado à história da Fundação e às áreas que tutelou" na entidade.

O Centro de Arte Moderna, as Belas Artes, o Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte, e a Biblioteca de Arte foram algumas dessas áreas.

"A sua dedicação foi inexcedível e lembrá-lo-emos sempre", vincou a responsável sobre a atividade do escritor que morreu hoje numa unidade hospitalar em Setúbal, como disse à agência Lusa uma fonte próxima da família.

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