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​Lembra-se de gravar cassetes e trocar vinis? Esta peça fala dessa memória

15 jun, 2021 - 18:53 • Maria João Costa

“Aquilo que ouvíamos” é a nova peça de teatro escrita por Joana Craveiro que estreia hoje no Lux Frágil, em Lisboa. Até dia 25, reviva a memória dos tempos em que se guardava a mesada para comprar um disco.

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“Era um tempo em que havia tempo, em que as coisas demoravam”. É assim que Joana Craveiro recorda a sua adolescência, o tempo em que gravava cassetes e trocava discos de vinis com os amigos. Esta ideia de comunidade musical atravessa nova peça que escreveu e que apresenta a partir desta terça-feira no Lux Frágil, em Lisboa.

Enquanto o espaço noturno continua com atividade encerrada, serve de palco à peça de teatro que poderá ver até dia 25. “Aquilo que ouvíamos” é uma coprodução do São Luiz Teatro Municipal, Teatro do Vestido e Teatro Nacional São João.

A peça, explica Joana Craveiro ao Ensaio Geral da Renascença, nasceu “do desejo de explorar estas memórias de um consumo cultural mais ou menos alternativo”. A peça passa-se “entre o final dos anos 80 e o início dos anos 90” e por isso parte das “partilhas” feitas entre os vários atores a partir das suas memórias pessoais.

“A ideia foi fazer um espetáculo que tivesse muita música, muita dela original, e refletir sobre o papel que a música tinha como veículo identitário nessa altura, no final da adolescência”, explica Joana Craveiro.

Com música original de Bruno Pinto, Francisco Madureira e dos Loosers de Guilherme Canhão, José Miguel Rodrigues e Rui Dâmaso, a peça tem interpretação de Estêvão Antunes, Inês Rosado, Joana Craveiro e Tânia Guerreiro e as participações especiais de Ricardo Jerónimo, Sónia Guerra e Tatiana Damaya

Comprar vinis com mesadas magras, trocá-los no pátio da escola secundária, fazer amigos por causa disso era parte dessa experiência geracional e que está espelhada em “Aquilo que ouvíamos”.

Joana Craveiro explica que a rádio, pelos programas que alguns faziam ou outros ouviam, “tem um papel bastante importante” em toda a peça. “Há várias cenas ligadas à rádio. Ela surgiu naturalmente por causa das memórias partilhadas” entre os atroes. “Temos uma sequência de cenas que remete para esse imaginário”.

“Fazer teatro neste momento é muito difícil”, é um ato de resistência enorme

Acompanhar esta viagem no tempo às memórias das personagens de “Aquilo que ouvíamos” é também perceber como o consumo e a noção de tempo eram diferentes. Joana Craveiro explica: “Era um tempo em que havia tempo, todas as coisas demoravam para se conseguir. Havia que fazer um esforço para ouvir aquela música ou ir à procura”. Serve esta explicação da encenadora para fazer um paralelismo com os tempos de pandemia que vivemos.

“Nós estamos num tempo, neste momento, numa contingência que tem um pouco deste esforço. Fazer teatro é neste momento muito difícil com todas as regras e o que implica. Acreditamos que a cultura é segura, e eu tenho essa profunda convicção, mas estamos obrigados a uma série de regras. Tudo isto acaba por ser um ato de resistência enorme”, diz Joana Craveiro.

Segundo a encenadora, “era muito mais fácil não fazer!”. Craveiro acrescenta: “Creio que para o público, este ato de sair de casa para ir ver um espetáculo nestas condições também acaba por ser uma resistência. Tal como naquela altura, para conseguirmos consumir aquilo que consumíamos em termos culturais, também exigia imenso esforço. O consumismo era muito diferente. Por isso, é levar o público a pensar que quando decide ir ver um espetáculo como este é também um ato de resistência que é salutar”.

“Aquilo que ouvíamos” é uma peça que pode ver de terça a sexta-feira no Lux Frágil em Lisboa às 20h00, até 25 de junho.
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