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​Prémio Camões 2020 vai para o professor e ensaísta Vítor Aguiar e Silva, crítico do novo Acordo Ortográfico

27 out, 2020 - 18:30 • Redação, com Pedro Mesquita

Júri reconhece a "importância transversal" da obra ensaística do escritor português, "e o seu papel ativo relativamente às questões da política da língua portuguesa e ao cânone das literaturas de língua portuguesa”. O Prémio Camões é considerado o principal galardão da lusofonia.

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A edição deste ano do Prémio Camões vai para Vítor Manuel de Aguiar e Silva, anunciou esta terça-feira o Ministério da Cultura. O professor, escritor, poeta e investigador português é um crítico do novo Acordo Ortográfico.

“A atribuição do Prémio Camões a Vítor Aguiar e Silva reconhece a importância transversal da sua obra ensaística, e o seu papel ativo relativamente às questões da política da língua portuguesa e ao cânone das literaturas de língua portuguesa”, refere o júri do Prémio Camões, em comunicado.

No âmbito da teoria literária, a obra Vítor Aguiar e Silva "reconfigurou a fisionomia dos estudos literários em todos os países de língua portuguesa".

"Objecto de sucessivas reformulações, a Teoria da Literatura constitui-se como exemplo emblemático de um pensamento sistematizador que continuamente se revisita. Releve-se igualmente o importante contributo dos seus estudos sobre Camões", sublinha a nota.

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, destaca as “qualidades intelectuais e académicas" de Vítor Aguiar e Silva, mas também pelo "perfil humanista com que marcou de um modo decisivo gerações de alunos, um pouco por todos os lugares onde ensinou, bem como leitores”.

Uma escolha "justa" e "inspirada" do júri

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, felicitou o professor e ensaísta Vítor Aguiar e Silva pela distinção com o Prémio Camões 2020, considerando que "é um justíssimo vencedor".

"Felicito vivamente Vítor Manuel Aguiar e Silva pela atribuição, hoje, do Prémio Camões 2020, a mais importante distinção literária de língua portuguesa", afirma Marcelo Rebelo de Sousa, numa nota publicada no portal da Presidência da República na Internet.

De acordo com o chefe de Estado, "ao escolher o professor Aguiar e Silva, o júri reforça a ideia de que não há géneros maiores ou secundários e de que uma cultura vive de obras de invenção (ficção, teatro, poesia) e de trabalhos de ensaísmo e crítica, quer no âmbito académico quer fora dele".

"Ligado à fundação do Instituto Camões, uma das entidades que atribui este Prémio, e a outras organizações culturais e pela defesa da cultura, o professor Aguiar e Silva é um justíssimo vencedor, e uma escolha inspirada do júri deste ano", considera o Presidente da República.

Nesta nota, Aguiar e Silva é descrito como "autor da mais importante obra de teoria da literatura publicada em Portugal" e "exímio estudioso da cultura e literatura quinhentista e seiscentista" e destaca-se "a sua obra de camonista, atenta aos 'fascínios' e aos 'labirintos' do poeta".


Muito mais do que um crítico do novo Acordo Ortográfico

Em declarações à Renascença, o presidente do Centro Nacional de Cultura (CNC), Guilherme d’Oliveira Martins, considera que Vítor Aguiar e Silva é uma “referência fundamental da cultura portuguesa”.

“Acaba de publicar um conjunto de ensaios de teoria e crítica literária e é um especialista da teoria literária, dos estudos camonianos e na literatura portuguesa”, sublinha Guilherme d’Oliveira Martins.

Em relação às críticas de Vítor Aguiar e Silva ao novo Acordo Ortográfico, o presidente do CNC “não atribuiu significado especial, é um direito de cidadania que o professor exerceu.”

“Ele é muito mais do que isso. Quando lemos a sua obra e compreendemos os seus ensinamentos, não nos podemos reduzir apenas à questão ortográfica. A questão cultural é muito mais vasta e abrange todos os elementos mais importantes de um lado e de outro do Atlântico, em relação à Língua Portuguesa e à cultura da Língua Portuguesa”.

O ensaísta e professor universitário nasceu em Penalva do Castelo, em 1939, e é um dos signatários da Petição em Defesa da Língua Portuguesa Contra o Acordo Ortográfico, que desde de maio de 2008 recolheu mais de 120 mil assinaturas.

Formado na Universidade de Coimbra, foi professor catedrático da Faculdade de Letras da mesma Universidade até 1989, ano em que solicitou a sua transferência para a Universidade do Minho.

Nesta Universidade, foi professor catedrático do Instituto de Letras e Ciências Humanas, fundou e dirigiu o Centro de Estudos Humanísticos e a revista Diacrítica e desempenhou as funções de vice-reitor de junho de 1990 a julho de 2002, data em que passou à situação de professor aposentado.

Tem-se dedicado especialmente ao estudo da Teoria da Literatura, domínio em que a relevância do seu ensino e da sua investigação é nacional e internacionalmente reconhecida, e da Literatura Portuguesa do Maneirismo, do Barroco e do Modernismo. Os estudos camonianos têm constituído objeto constante da sua atividade de investigador.

Entre vários prémios, a Universidade de Évora atribuiu-lhe o Prémio Vergílio Ferreira de 2002. Em 2007, foi-lhe atribuído o Prémio Vida Literária, instituído pela Associação Portuguesa de Escritores e pela Caixa Geral de Depósitos. Em 2018, recebeu o Prémio Vasco Graça Moura de Cidadania Cultural.

O Prémio Camões é considerado o principal galardão da lusofonia e é atribuído desde 1989, por um júri internacional.

Nas últimas cinco edições os premiados foram Chico Buarque (2019), Germano Almeida (2018), Manuel Alegre (2017), Raduan Nassar (2016) e Hélia Correia (2015).

Outras personalidades da lusofonia, como Miguel Torga José Craveirinha, Vergílio Ferreira, Raquel de Queiroz, Jorge Amado, José Saramago, Eduardo Lourenço, Pepetela, Antonio Candido, Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade e Maria Velho da Costa, também já foram distinguidas com o Prémio Camões.

[notícia atualizada às 21h21]

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  • Joa d'Arievilo
    27 out, 2020 SANTA CLARA-A-VELHA 23:49
    Não conheço a obra do senhor, mas espero que de facto mereça o prémio. Eu passei toda a minha vida ligada às artes, mas infelizmente, nunca fiz parte de nenhum daqueles grupos ou posições sociais que permitem publicar. Hoje ouvem-se muitas queixas da falta de leitores, mas estes têm razão; eu próprio não tenho paciência para ler o que se escreve denominado de arte literária. Deixo aqui um link, pois, acho ridículo que com tanta gente aplaudida de genial, não se tenha feito nada para modernizar, internacionalizar, a nossa escrita, de modo a que a possamos escrever em qualquer teclado, e não crie problemas em programa ou lado nenhum. Vejam como é simples: https://joagues.blogspot.com/2019/02/sem-notacyoes-lexicas.html

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