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Entrevista a Maribel López

"ARCOlisboa é muito especial". Edição digital vai ser uma "experiência" para o mercado de arte

20 mai, 2020 - 10:00 • Maria João Costa

​Começa esta quarta-feira a primeira edição digital da ARCOlisboa. Durante quatro semanas, 70 galerias portuguesas e estrangeiras mostram arte e há 11 debates, tudo através da internet. É a resposta possível em ano de pandemia.

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Maribel López está numa das cidades mais afetadas pelo novo coronavírus. A partir de Madrid, a diretora da ARCO confessa que têm sido dias difíceis para uma espanhola, mas prefere “falar de coisas boas” como a edição da ARCOlisboa que começa esta quarta-feira.

Chegaram a anunciar o adiamento da feira de arte contemporânea para 2021, mas depois de ganhar tempo para pensar, a organização da IFEMA (Feria de Madrid) resolveu apostar em montar uma edição toda digital.

Maribel López, que fala do impacto negativo que a pandemia teve no mercado da arte, propôs uma edição da ARCOlisboa que vai durar quatro semanas, com vendas e debates online. A diretora está curiosa em saber o que os artistas vão criar depois desta “bolha de silêncio” gerada pela pandemia.

Chegaram a anunciar o adiamento da ARCOlisboa, mas resolveram fazer uma edição este ano digital?

Tivemos de inventar algo novo. No início de março, quando estávamos a trabalhar intensamente no projeto da ARCOlisboa, estavam selecionadas todas as galerias e tínhamos o projeto já em fase muito avançada de produção, chegamos a pensar mudar as datas da ARCOlisboa.

O que vos fez mudar de ideias?

Precisávamos de tempo para pensar. Era difícil porque queríamos atuar de forma rápida, mas percebemos que neste caso não fazia sentido. A data da ARCOlisboa é maio, é o momento do encontro na Cordoaria. É algo muito especial e quisemos proteger isso de algum modo. Foi aí que decidimos adiar a ARCOlisboa para 2021. Mas depois apercebemo-nos de que tínhamos a possibilidade dar alguma coisa às galerias, que com as ferramentas digitais que, entretanto, começamos todos a usar com tanta intensidade, tínhamos a oportunidade de dar visibilidade às galerias.

Quiseram dar uma mensagem de confiança também aos galeristas?

Era mostrar que confiamos no futuro. Foi transferir para o online essa experiência e esse espírito de uma feira que é pequena e que tem 70 galerias, que é feita com tanto carinho pelos agentes que estão envolvidos, desde a cidade de Lisboa até aos galeristas e artistas. É dar aos galeristas uma oportunidade de venda e dar à feira uma existência. Daí surgiu a ideia.

Vão manter as mesmas galerias portuguesas e estrangeiras que estavam previstas para a edição deste ano na Cordoaria?

Claro, as 70 galerias selecionadas que formaram parte do projeto deste ano e que foram escolhidas pelo comité organizador em janeiro, bem como as equipas curatoriais, tanto da secção Opening, que são as galerias que participam pela primeira vez na feira, como as da Africa Focus. São as mesmas galerias.

Como serão feitas as compras de arte?

Temos uma plataforma, a artsy.net, que colabora connosco há muitos anos. Antes era um complemento digital que oferecíamos às galerias que participavam na ARCO, para que tivessem a máxima visibilidade, possibilidade de negócio e mostra de artistas, agora passa a ser o centro de negócios.

E alargaram a duração da feira.

Fizemos um acordo para quatro semanas de feira, em vez do normal que era uma semana. Estas quatro semanas vamos usá-las para animar toda a gente a visitar as galerias e para que vejam as suas obras que vão mudando a cada semana. Assim garantimos que vai ser interessante visitar este projeto da ARCOLisboa a cada semana.

Por outro lado, vamos ter outros conteúdos com conversas e debates. O Fórum é algo que faz parte do ADN da ARCO e não queríamos deixar de o realizar. Vai ser para nós o momento possível de encontro, poderemos lançar perguntas aos participantes ou fazer comentários no live no Instagram. Esse vai ser o nosso lugar de encontro com a comunidade.

Vão ser vários momentos de debate?

São 11 conversas durante as quatro semanas. Vamos começar este dia 20 com um debate entre a Kunsthalle Lissabon e a Nadia Belerique, nas ART Talks; dia 21 vamos ter o luxo de ouvir Catarina Vaz Pinto, da Câmara de Lisboa, a conversar com Tobi Maier e irão falar sobre os projetos que a autarquia está a fazer. São dois grandes cúmplices da ARCOlisboa e, por isso, era para nós muito importante ouvi-los. A cena portuguesa vai estar muito presente, com colecionadores e comissários. É tentar que esta experiência de nos encontramos em Portugal seja ampliada no digital.

Esta experiência de fazer uma edição digital pode servir de exemplo para a ARCO Madrid do próximo ano, caso também não se possa realizar por causa da Covid-19?

Em Madrid, tentamos ser o mais positivos possível. Não podemos pensar de outro modo. Claro que responderemos perante as circunstâncias, como o fizemos para Lisboa. Certo é que esta experiência da feira digital vai-nos servir para percebermos quantos mais passos podemos dar neste âmbito digital. Vamos ver se esta ferramenta digital veio para ficar, se a podemos utilizar em benefício das nossas galerias e dos artistas na ARCO.

Creio que será uma ferramenta que ficará e que nos ajudará no futuro. A feira física tem de continuar a ser uma prioridade, mas podemos trabalhar a ideia de comunidade e do que representa fazer parte da ARCO nestas ferramentas digitais. Futuramente vamos dar-lhes novos usos, sem dúvida.

Como está a ser o impacto da pandemia no mercado de arte?

Vamos precisar de algum tempo para avaliar isso, para ter dados. Agora é uma situação muito complicada para as galerias que não podem trabalhar, têm as portas fechadas e viram as feiras canceladas. Vamos apostar em tornar esta feira um êxito, temos várias estratégias, mas é difícil. As galerias precisam de ser vistas, precisam desse encontro com os colecionadores.

Também vemos que há cumplicidade entre os colecionadores e as galerias. Quando lhes vamos dizendo que isto está a acontecer, mostram muita vontade de participar, ver o que as galerias têm para oferecer. Isso dá-nos ânimo. É importante o seu apoio.

Acha que a pandemia também se vai refletir no trabalho dos artistas?

Acredito que sim, não só vamos ver obras com referências explicitas à pandemia, como também vamos ver esta espécie de "bolha de silêncio" que se gerou para todos ter um valor específico para os nossos criadores. Estou convencida de que vamos ver obras que vão espelhar isso, ou de forma direta, ou a mostrarem-nos outras formas de pensar. Todos nós temos muita curiosidade em saber o que vai sair desta crise em termos criativos.

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