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Nobel da Literatura atribuído a Peter Handke (2019) e Olga Tokarczuk (2018)

10 out, 2019 - 12:01 • Redação

Os prémios anunciados são relativos a este e ao ano anterior, dado que em 2018 não houve galardoados, devido a um escândalo de assédio sexual e fugas de informação.

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O Prémio Nobel da Literatura deste ano foi atribuído, esta quinta-feira, ao austríaco Peter Handke, a par do Nobel da Literatura 2018, só entregue este ano à escritora polaca Olga Tokarczuk.

Olga Tokarczuk é galardoada pela sua “uma imaginação narrativa que representa com paixão enciclopédica a passagem de fronteiras como forma de vida”, destaca o comité Nobel no anúncio.

A escritora polaca tem 57 anos e dois romances editados em Portugal pela editora Cavalo de Ferro. Com um deles – "Viagens" – ganhou o Man Booker Prize, outro prestigiado prémio literário, em 2017.

O outro chama-se “Conduz o Teu Arado sobre os Ossos dos Mortos”.

“Relativamente desconhecida do público português, já tem uma grande carreira internacional publicada em cerca de 30 línguas”, diz à Renascença o editor Diogo Madredeus.

Segundo este responsável da Cavalo de Ferro, a agora Nobel da Literatura “é uma autora contra-sistema”.

“Os seus livros foram alvos de críticas por parte de alguns setores mais conservadores da sociedade polaca, mais católicos, mas é uma autora muito versátil”, explica Diogo Madredeus.

Quanto a Peter Handke, a Academia destaca a “obra influente que, com criatividade linguística, explorou as periferias e a especificidade da experiência humana”.

O autor tem dois livros adaptados ao cinema pelo realizador alemão Wim Wenders.

“A Angústia Do Guarda-redes Antes Do Penalty” e “Os Belos Dias de Aranjuez”, o mais recente livro de Handke editado em Portugal, foram as obras escolhidas para a atribuição do Nobel. Nesta última, o filme que conta com a participação de Nick Cave e do próprio escritor, Peter Handke.

Além disso, o agora Prémio Nobel é autor de guiões de filmes como “A Cidade dos Anjos” (que escreveu com Wim Wenders) e “As Asas do Desejo” (do realizador alemão).

À Renascença, o produtor de cinema Paulo Branco congratula-se com a atribuição do prémio ao seu "grande amigo" Peter Handke.

"Peter Handke é para mim talvez o maior escritor em língua alemã dos tempos atuais. Felizmente, parte da obra dele está traduzida em português, espero que agora os nossos leitores o voltem a descobrir. Tenho orgulho em ser um grande amigo dele e de o ter tido por quatro vezes no nosso festival [Estoril Film Festival]. Como sabe, ter alguém como Peter Handke no festival é absolutamente excecional."

Paulo Branco, que produziu "Os Belos Dias de Aranjuez", diz ainda que o Nobel da Literatura a Handke peca por tardio."Ele já há muito tempo que merecia este prémio e só peca por tardio. Acho que agora o Prémio Nobel entrou nos eixos", refere.

O produtor também lamenta o que aconteceu em 1996, quando Handke publicou um diário de viagem que gerou grande controvérsia. "Como sabe, ele foi extremamente atacado, sem nenhuma razão, por declarações que fez sobre a ex-Jugoslávia, em que ninguém as percebeu ou ninguém as quis perceber. A suposição foi completamente mal interpretada, quando no fundo era premonitória do desastre que se passou naquela região."

Polémica adia prémio um ano

O prémio de 2018 foi adiado para este ano, na sequência de uma polémica que envolveu um dos elementos da Academia.

No ano passado, a Academia Sueca decidiu não atribuir o Prémio Nobel da Literatura, devido a uma crise interna, provocada por alegações de abusos sexuais e fugas de informação por parte do marido de uma escritora que integrava a Academia.

O escândalo remonta a novembro de 2017, quando 18 mulheres acusaram o dramaturgo francês Jean-Claude Arnault de abusos e agressões sexuais. Arnault está ligado à academia através do seu clube literário e é marido de Katarina Frosenson.

A Academia cortou todas as ligações com Arnault e pediu uma auditoria independente sobre as suas relações com a instituição. O relatório conclui que o dramaturgo não terá influenciado decisões sobre prémios e subsídios, mas o apoio económico que recebeu terá violado as regras de imparcialidade, uma vez que a sua mulher é também co-proprietária da empresa que geria o clube literário.

O relatório confirma ainda que, por diversas ocasiões, foi violada a confidencialidade sobre o vencedor do Nobel.

Katarina Frostenson acabou por se demitir da Academia, sendo substituída por Tua Forsström, cuja integração será oficializada no dia 20 de dezembro deste ano.

Em 2017, o Nobel da Literatura foi atribuído ao nipo-britânico Kazuo Ishiguro “que, em romances de grande força emocional, descobriu o abismo sob nosso ilusório senso de conexão com o mundo", referiu a Academia.

No ano anterior, foi o cantor Bob Dylan o galardoado, surpreendendo muita gente. A Academia justificou o prémio com o facto de Dylan “ter criado novos modos de expressão poética no quadro da tradição da música americana”.

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