09 jan, 2025 - 10:22 • Henrique Cunha
Os bispos moçambicanos temem o agravamento da crise eno país com um regresso a antigos "conflitos armados".
"Como estamos podemos voltar a conflitos do passado", diz à Renascença o bispo auxiliar da Beira, D. António Constantino, que é o responsável pela Comunicação da Conferência Episcopal de Moçambique (CEM).
“Precisamos de encontrar um pacto social porque senão como estamos podemos a voltar de novo a conflitos do passado. É um receio, é um receio. É preciso ver o que aconteceu em Maputo, mas também nas outras províncias como, por exemplo, Nampula ou na Zambézia. Não podemos regressar ao passado. Não podemos voltar aos conflitos armados e, por isso, repito: precisamos todos de nos encontrarmos”, alerta o prelado.
D. António Constantino insiste no apelo à reconciliação, pedindo “aos que se acham vencedores e aos que se acham vencidos que se sentem na procura da reconciliação para retomar os caminhos da paz e da reconstrução”.
Nestas declarações à Renascença, o responsável pela comunicação da CEM fala de um "momento delicado" porque "o povo está desavindo e o sistema não dá garantias de que tudo vai correr como deve ser”.
“Estamos num momento delicado no país e agora, com a chegada de Venâncio Mondlane, vemos como a violência não pára. Esperamos que essa violência e essa falta de segurança passe para podermos entrar numa nova fase."
O bispo auxiliar da Beira entende que essa nova fase tem de passar por uma mudança nas “politicas estruturantes do país” e adianta que para essa mudança acontecer “é preciso serenidade e é necessário aceitarmo-nos uns aos outros”, pois “a democracia é isso mesmo”.
“Moçambique precisa de se reinventar. Não é apenas a Igreja que o diz. A sociedade civil também o diz e a população também sente que chegou o momento de recomeçar. Precisamos de apostar na inclusão em todos os aspetos. As eleições passadas e as eleições de agora mostraram isso. É o povo que sai à rua. É o povo a dizer chega. É o povo a dizer que é preciso mudar o sistema”, insiste D. António Constantino.
O bispo deixa também o apelo da Igreja moçambicana para que “cesse a violência” porque “neste momento há muitas mortes”.
“Chegou o tempo de criar mais espaços de diálogo, mais aceitação, mais inclusão social e também inclusão política para que ninguém se sinta excluído”, sublinha.
“Este grito não é o grito da igreja em particular, é o grito da sociedade civil e do povo em geral. Porque, quando o povo sai e diz que o poder reside em nós e queremos justiça social, esse povo deve ser escutado”, reforça.
"Nós, a igreja, estamos disponíveis para apoiar, assim como todos os homens de boa vontade. Vamos continuar a ter essa esperança para podermos juntos reformular e também ajudar o povo que precisa do nosso alento”, remata D. António Constantino.