12 dez, 2024 - 11:22 • Aura Miguel
O Papa propõe, na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, que se assinala a 1 de janeiro de 2025, um caminho de esperança com três ações concretas.
Com o título “Perdoai-nos as nossas ofensas, concedei-nos a paz”, Francisco não esquece “o grito dos pobres” e defende o perdão total da dívida internacional, a eliminação da pena de morte e a criação de um fundo mundial, em que o dinheiro não seja gasto em armas mas usado para o combate à fome e educação dos países pobres.
O Santo Padre considera que as desigualdades de todos os tipos, o tratamento desumano dispensado aos migrantes, a degradação ambiental, a confusão gerada intencionalmente pela desinformação, a rejeição a qualquer tipo de diálogo e o financiamento ostensivo da indústria militar “são fatores de uma ameaça real à existência de toda a humanidade” e, neste contexto, propõe uma mudança cultural, porque “somos todos devedores”.
“Não me canso de repetir que a dívida externa se tornou um instrumento de controle, através do qual alguns governos e instituições financeiras privadas dos países mais ricos não hesitam em explorar indiscriminadamente os recursos humanos e naturais dos países mais pobres para satisfazer as necessidades dos seus próprios mercados”, denuncia o Papa.
Nesta mensagem, Francisco lamenta que várias populações, já sobrecarregadas pela dívida internacional, se vejam obrigadas a suportar também o peso da dívida ecológica dos países mais desenvolvidos e reconhece que “a dívida ecológica e a dívida externa são dois lados da mesma moeda, desta lógica de exploração que culmina na crise da dívida”. Por isso, convida a comunidade internacional a “perdoar a dívida externa, reconhecendo a existência de uma dívida ecológica entre o Norte e o Sul do mundo”.
A mensagem do Papa refere que “os países mais ricos devem sentir-se chamados a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para perdoar as dívidas dos países que não estão em condições de pagar o que devem”, sendo necessário, ao mesmo tempo, “desenvolver uma nova arquitetura financeira que conduza à criação de um acordo financeiro global, baseado na solidariedade e na harmonia entre os povos”.
O Papa também quer que, neste ano de 2025, se reforce “o firme compromisso de promover o respeito pela dignidade da vida humana, desde a conceção até à morte natural, para que cada pessoa possa amar a sua vida e olhar para o futuro com esperança, desejando o desenvolvimento e a felicidade para si e para os seus filhos”.
Francisco volta a repetir o convite que já fez na bula de proclamação do ano jubilar, a favor de um gesto concreto que possa favorecer a cultura da vida: “Refiro-me à eliminação da pena de morte em todas as nações. Na realidade, esta punição, além de comprometer a inviolabilidade da vida, aniquila toda a esperança humana de perdão e de renovação”.
Na conferência de imprensa organizada, esta manhã pelo Vaticano, para divulgar esta Mensagem do Papa, foi referido que há 55 nações no mundo que ainda aplicam a pena de morte e cerca de 28 mil pessoas se encontram “no corredor da morte”, ou seja, condenadas à pena máxima.
A pensar nas jovens gerações, neste tempo marcado pelas guerras, Francisco propõe que se utilize “pelo menos uma percentagem fixa do dinheiro gasto em armamento para a criação de um fundo mundial que elimine definitivamente a fome e facilite a realização de atividades educativas nos países mais pobres que promovam o desenvolvimento sustentável, lutando contra as alterações climáticas”.
O objetivo, explica o Papa, é “tentar eliminar qualquer pretexto que possa levar os jovens a imaginar o seu futuro sem esperança, ou como uma expectativa de vingar o sangue derramado por seus entes queridos. O futuro é um dom que permite ultrapassar os erros do passado e construir novos caminhos de paz”, afirma.
Por fim, o Papa deseja que 2025 seja um ano em que a paz cresça, sobretudo, “aquela paz verdadeira e duradoura, que não se detém nas querelas dos contratos ou nas mesas dos compromissos humanos.”