08 nov, 2024 - 21:03 • Ângela Roque
O Sínodo sobre a sinodalidade chegou ao fim, no Vaticano, mas o desafio deixado pelo Papa é que o novo modo de estar na Igreja - que o processo sinodal criou - se prolongue nas comunidades. É com esse objetivo que os jesuítas vão trazer a Portugal o teólogo e filósofo Andrea Grillo, de 63 anos. O “influente pensador italiano”, como indica a apresentação, virá falar sobre “Igreja e Fidelidade ao Evangelho – que problemas? Que caminhos?”. A conferência está marcada para o próximo sábado, 16 de novembro, na Universidade Católica, em Lisboa.
Professor no Pontifício Ateneu Santo Anselmo, em Roma, e na Abadia de Santa Justina, em Pádua, Andrea Grillo é doutorado em Teologia. Tem-se dedicado ao aprofundamento das conclusões do Concílio Vaticano II, com vista a uma maior participação dos leigos na vida da Igreja.
“Tem estudado especialmente os temas da liturgia e da pastoral, e também o Sínodo”, começa por explicar à Renascença Rita Carvalho, diretora do Ponto SJ, o portal de comunicação dos jesuítas, sublinhando que a escolha não foi feita ao acaso. “Queríamos trazer um teólogo que de alguma forma viesse ‘agitar as águas’, e o professor Andrea tem uma visão muito realista da situação atual. Faz um retrato, acreditamos nós, muito lúcido da Igreja hoje. Considera o modelo eclesial, que herdámos no passado, muito clericalista, institucional, hierárquico e de certa forma ultrapassado. Entende que é preciso abrir caminhos novos, como o que o Papa tem proposto com este caminho sinodal. E acreditamos que nos ajudará a ver esses caminhos”, sublinha.
Segundo a responsável pelo Ponto SJ, a iniciativa estava em maturação há já algum tempo. “Sentíamos que estava a acontecer uma certa revolução na Igreja, com esta novidade da sinodalidade a que o Papa nos vem desafiando nestes últimos anos. Mas faltava editorialmente encontrar o formato certo. Com o final do Sínodo e desta última Assembleia, percebemos a necessidade de envolver as pessoas e de as chamar à participação. E nós acreditamos que isso se faz conversando uns com os outros, estando abertos ao Espírito, refletindo”.
A conferência vai, por isso, decorrer num formato diferente, ao “estilo sinodal”, com grupos de trabalho. “Não é para as pessoas virem ouvir e voltarem para casa na mesma. O objetivo é que as pessoas possam pensar sobre aquilo que vão ouvir, mas possam também conversar e escutarem-se umas às outras. Por isso, depois do professor Andrea falar vamos tentar replicar o modelo que fomos vendo na Assembleia do Sínodo, e vamos reunir os participantes em pequenos grupos, para que, através da escuta e da conversação espiritual, cada um possa dizer aquilo que sentiu e como foi interpelado”.
“Não vai ser um debate em grupo, mas a experiência de nos sentarmos e acreditarmos que o Espírito também fala através dos outros e do grupo onde estamos”. Num terceiro momento da conferência, o orador poderá responder a algumas questões que lhe sejam colocadas. “Não haverá propriamente uma interação direta, até porque vai falar em italiano, com tradução simultânea. Mas com a ajuda do padre José Frazão Correia, teólogo jesuíta que também participa, o professor Andrea Grillo tentará responder às questões que forem levantadas pelos grupos”.
Rita Carvalho assegura que esta “vai ser uma tarde exigente. Não é só chegar lá e ouvir. É ouvir, refletir, conversar e escutar”. Os trabalhos serão encerrados por João Miguel Tavares. “Para o quarto e último momento da conferência convidámos um jornalista, que se calhar associamos ao ambiente mais fora da igreja, mas que também tem um caminho espiritual, que é o João Miguel Tavares, e que fará uma síntese do dia, das questões levantadas e dos caminhos que serão suscitados por esta reflexão, que é individual, mas que também é comunitária, entre todos”.
A conferência vai decorrer na UCP, em Lisboa, é aberta a todos, crentes e não crentes, mas é necessária inscrição prévia, através dos canais do Ponto SJ.
“Temos lugares limitados, por isso apelamos a que se inscrevam o mais depressa possível para garantir o seu lugar, e a que venham disponíveis para ouvir, conversar, aprender e acolher aquilo que possam ouvir também dos outros”, diz Rita Carvalho, que gostaria que os participantes fossem de “experiências diferentes de Igreja, para que este não seja um espaço só para a comunidade inaciana, ligada aos jesuítas, mas que possa acolher outras sensibilidades. E temos feito esse esforço, porque o Ponto SJ escreveu a muitas congregações e movimentos, a convidar pessoalmente para participarem neste processo que queremos continue ao longo do ano”, com outras iniciativas semelhantes.