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Todos os Santos ou Halloween? “Devíamos incentivar o culto da vida, não da morte”

31 out, 2024 - 21:18 • Ângela Roque

Em entrevista à Renascença, o padre Tiago Esteves, professor da UCP e formador do Seminário dos Olivais, comenta a forma como a sociedade portuguesa se tem rendido ao que chega de fora, sem pensar muito no significado. Mas, em contracorrente, já há quem vista as crianças, não de dráculas ou feiticeiros, mas de Santos. A 1 de novembro a Igreja lembra todos os que “vivem a fazer o bem”, no dia a dia, e também que “a Santidade é para todos”.

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Todos os Santos ou Halloween? “Devíamos incentivar o culto da vida, não da morte”
Padre Tiago Esteves entrevistado pela jornalista Ângela Roque

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A tradição já não é o que era. Em Portugal, como no resto da Península Ibérica, o "Pão por Deus" vai sendo substituído pelas festas de Halloween. Mas, enquanto o Dia de Todos os Santos, que a Igreja assinala a 1 de novembro, festeja sobretudo a vida, a celebração importada, de raízes pagãs, faz o “culto da morte”, recorda à Renascença o padre Tiago Esteves.

”O Dia de Todos os Santos celebra a vida, o Halloween celebra sobretudo a morte, e até o terror. Não é por acaso que muitas vezes os cinemas têm os filmes de terror nesta altura”, começa por sublinhar.

Para o professor de Teologia da Universidade Católica (UCP), e formador do Seminário dos Olivais, “há um paradoxo no próprio termo Halloween, porque significa 'All Hallows Eve' - véspera de todos os Santos. Mas, a sua concretização já não é - pelo menos hoje em dia, na cultura anglo-americana - aquela de celebrar os Santos. É a que remonta, sobretudo, ao período celta e bretão, em que era o Samhain, que marcava o fim do inverno e da época de colheitas. Era uma celebração pagã, em que acreditavam que se abria a porta dos mortos, e era preciso apaziguar os espíritos com sacrifícios de animais”.

A dada altura houve uma cristianização dessa festa pagã. “Quando os monges irlandeses chegaram e conheceram estas culturas, a Igreja, que já celebrava os Santos, achou conveniente cristianizar este momento, precisamente porque o Samhain celebrava-se no 1 de novembro. Então começou-se a celebrar o Dia de Todos os Santos nesta altura. O cristianismo ocidental, latino, celebra no 1 de novembro, pelo menos desde o século IX. O cristianismo oriental tende a celebrar no primeiro domingo depois de Pentecostes”, explica.

É neste contexto que surge a tradição muito particular do "Pão por Deus", que para o padre Tiago seria importante os católicos esforçarem-se por manter.

“A cultura portuguesa - e ibérica em geral, mas a portuguesa em particular - tem o ‘Pão por Deus’, que eventualmente se pode estar a perder, pela influência anglo-americana, que chega muito pelas séries, pelos filmes, pela chamada 'Pop Culture'. Mas, o ‘Pão por Deus’ é uma riqueza cultural que temos, muitas vezes associada a ajudar os mais carenciados, o dar o pão aos pobres. Não a devíamos perder.”

“Devíamos incentivar e estimular o ‘Pão por Deus’ e o culto dos Santos, da vida e da alegria, porque uma das coisas que a Festa de Todos os Santos nos transmite sempre é a alegria da esperança. A morte e as trevas não são o fim absoluto”, sublinha ainda

Atualmente, e apesar da pressão cultural ter feito com que a sociedade portuguesa se tenha rendido ao que chega de fora, sem pensar muito no significado, o padre Tiago conta que em alguns locais já há um esforço por fazer diferente e celebrar o "All Hallows Win" (Os Santos Vencem).

“Sei que já há paróquias que o fazem, promovem nas catequeses o vestirem-se (as crianças) de Santos e não de mortos, vampiros, ou de personagens mais desagradáveis que apelem ao culto da morte, mas sim à vida. Vestirem-se como um Santo”.

"O Dia de Todos os Santos celebra a vida, o Halloween celebra sobretudo a morte, e até o terror"

Para este responsável, no atual contexto de violência e guerras por todo o mundo ainda se justifica mais ir contra a corrente. E diz que celebrar o Dia de Todos os Santos – incluindo os anónimos – a 1 de novembro, e a 2 o Dia dos Fiéis Defuntos, lembrando quem já partiu, é a forma de os católicos “transmitirem esperança”. E a Igreja e os católicos, diz, “até do ponto de vista social” têm a responsabilidade de olhar e viver “esta lógica da esperança e do perdão”.

“O Dia de Todos os Santos é o dia de celebrar a vida que continua, a vida eterna. Além dos Santos que normalmente já conhecemos, e que muitas vezes até são Santos populares - conhecemo-los de nome, dos altares das igrejas -, é lembrar aqueles que muitas vezes não sabemos o nome, mas que viveram uma vida honrada e santa”. E também os “santos ao pé da porta”, como lhes chama o Papa Francisco na Exortação Apostólica ‘Gaudete et Exsultate” (‘Alegrai-vos e Exultai, 2018).”.

“O Santo, mais do que absolutamente perfeito, é aquele que 'nunca desiste de se levantar', como ensinava João Paulo II”, refere ainda o padre Tiago, considerando que faz todo o sentido que estas duas festas - Todos os Santos e Fiéis Defuntos - estejam próximas. “É precisamente para acentuar a comunhão de todas estas coisas”, e lembrar que a Santidade “é possível para todos, não é apenas para alguns privilegiados. É, no fundo, outra palavra para dizer 'felicidade' e bem-aventuranças”.

“Vamos ouvir no Evangelho deste Dia de Todos os Santos, referências aos 'bem-aventurados', os pobres de espírito, etc... A Santidade é um nome que ganhou muitas conotações, de grande heroísmo - e é verdade, tem a ver com isso também-, mas é sobretudo, com a graça de Deus, uma resposta diária, muitas vezes na simplicidade de uma vida justa, honrada, simples, discreta, mas Santa. É viver a fazer o bem

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