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“Afirmação da identidade da EMRC” é o caminho certo para a vivência num mundo plural, diz D. Manuel Felício

28 out, 2024 - 10:31 • Olímpia Mairos

Responsáveis da disciplina de EMRC reuniram-se em Fátima para analisar a falta de professores, refletir sobre os referenciais da disciplina e apresentar as diversas atividades e formações para este ano letivo.

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O bispo da Guarda, D. Manuel Felício, considera que a “afirmação da identidade" da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) é o caminho certo para a vivência num mundo plural.

“Hoje precisamos afirmar a identidade da disciplina de EMRC na pluralidade da diferença. Isto dá consistência ao diálogo com os vários atores da sociedade e enriquece o próprio caminho”, defende o bispo da Guarda e também vogal da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé.

Consciente da falta de professores em várias disciplinas, incluindo a de EMRC, D. Manuel Felício desafia os docentes a “chamar outros a ser professor” que “não é o mesmo de chamar alguém a uma profissão”.

“Ser professor é uma missão, e uma vocação, é chamar, fazer sair para fora o que cada um traz dentro, para que se realize plenamente”, vinca, acrescentando que “estamos na educação para motivar os mais novos a serem ‘gente’ na sociedade”.

"Um serviço à sociedade, aos alunos, famílias e escolas”

Na mensagem que dirigiu aos responsáveis pela disciplina de EMRC, reunidos em Fátima, D. Manuel Felício afirmou que a proposta da “EMRC nas escolas não se baseia no medo nem no legalismo”, mas é “um serviço à sociedade, aos alunos, famílias e escolas”.

“Não queremos uma fraternidade órfã. Queremos uma fraternidade ao jeito da Fratelli Tutti do Papa Francisco, e isso passa por ajudarmos a desconstruir barreiras que nos permitam estar mais perto uns dos outros”, assinalou.

O prelado agradeceu “em nome da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé” o trabalho desenvolvido e lembrou que a proposta educativa da Igreja no espaço público quer “ajudar a fazer crescer as novas gerações”.

Na visão de D. Manuel Felício, “a escolha da EMRC ajuda as novas gerações a posicionarem-se na vida e esta disciplina traz consigo valores fundamentais sobre os quais importa refletir, aprofundar e ponderar, para que cada um possa decidir com fundamento a sua vida, o seu projeto”.

Neste sentido, o prelado pediu aos secretariados um trabalho “consistente na criação e reforço de sinergias, nas comunidades educativas, nas comunidades cristãs e com os párocos”, lembrando que “as escolas esperam de nós uma palavra, uma atenção por aquilo que somos e por aquilo que trazemos ao ensino”.

“EMRC aponta caminhos de sentido”

No encontro realizado em Fátima, o professor Luís Silva, da Diocese de Aveiro, apontou a necessidade de, em educação, se adotar a postura de peregrino, assinalando que a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica permite aos alunos “percorrer caminhos e não apenas sobrevoar a realidade”.

“Educar não é entreter, mas fazer caminho. Não como quem sobrevoa, mas como quem se constrói em cada experiência e ajuda os mais novos a ser peregrinos, em vez de adotar a postura de turista”, observou.

Na teleconferência “Educadores como autênticos peregrinos da esperança - O peregrino, o alforge, o cajado e a meta”, o docente de Albergaria-a-Velha sustentou que a disciplina deve ter presente “a sua identidade” para não cair na irrelevância num contexto multicultural.

“Durante muitos anos pensámos que o nosso ‘interlocutor’ de futuro seria o ateísmo. Hoje, ao contrário do que apontavam os próprios estudos, vemos que o interlocutor são hoje as diversidades religiosas e é isso que temos na escola hoje”, afirmou.

“Identidade da EMRC”, um desafio para “o diálogo” com outras sensibilidades

Para o docente, numa sociedade que “deixa para trás a neutralidade do espaço público”, o desafio da “identidade da EMRC” torna-se hoje um desafio para permitir “o diálogo” com outras sensibilidades.

“Devemos adotar duas atitudes em simultâneo. Por um lado, é necessário reconhecer a sua identidade, como nos propõe já o Concílio Vaticano II na Unitatis Redintegratio, e, para isso, formular uma hierarquia das verdades. Depois, predispor-se ao diálogo, sem monólogos e sem meias palavras”, apontou.

Segundo Luís Silva, “não poucas vezes” é a EMRC o “único lugar onde os alunos contactam com o património cristão e com a figura de Jesus Cristo”, lembrando que “as religiões formulam sentidos ao todo o ser humano”.

Falar de Jesus e de Deus “não tem de ser exclusivo da catequese”, mas pode e deve servir como “fundamento último da proposta de sentido” que a EMRC faz aos alunos”, defendeu.

“Não há moral eficaz sem o fundamento sólido das religiões. As religiões atingem o todo das pessoas. A EMRC dá o fundamento, nunca responde aos alunos com positivismo da lei ou o ‘porque sim’. Na EMRC afirmamos que o mundo é dom e o outro é meu irmão”, desenvolveu.

“É tempo de desconstruir inverdades”

Num olhar sobre a situação da disciplina, no sistema de ensino nacional, Luís Silva considerou que “é tempo de desconstruir inverdades” que foram sendo formuladas “acerca da própria Constituição da República” e do lugar “do ensino do religioso nas escolas”.

“A constituição da República nunca utiliza os termos laico nem laicidade uma única vez. O estado não defende neutralidade, mas defende, em primeiro lugar, a liberdade religiosa no artigo 41. Ao contrário da lei francesa, a lei portuguesa foi criada na certeza de que não há sociedade sem religioso”, alertou.

O docente considerou ainda que o “humor é muito importante em sala de aula”, indicando que “Deus é amor, mas também é humor” e que a EMRC “fala aos alunos de um sonho, e é com base nisso que olha o mundo e o outro”.

Luís Silva desafiou ainda os docentes de EMRC a levarem à educação “o alforge com o essencial, o cajado, garantia que a queda não leva à errância, e a esperança, como meta”.

“Se não os levarmos à educação, os nossos alunos continuarão a ser turistas mais do que a ser peregrinos”, rematou.

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