26 out, 2024 - 23:29 • Redação com Ecclesia
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) afirmou que “a fase decisiva do Sínodo começa hoje”, pedindo que todas as comunidades católicas procurem acolher “este sopro novo”, após a aprovação do documento final.
“O Sínodo não terminou hoje, a fase decisiva do Sínodo começa hoje e é importante que cada Igreja, que cada família, que cada instituição da Igreja possa deixar-se permear por este sopro novo que sai do Sínodo”, disse D. José Ornelas à Agência ECCLESIA, à saída da última reunião geral da sessão sinodal.
O Papa encerrou este sábado os trabalhos da XVI Assembleia do Sínodo e promulgou o documento final, enviando-o agora às comunidades católicas, sem publicação de exortação pós-sinodal, uma possibilidade prevista na constituição apostólica ‘Episcopalis communio‘ (2018), sobre o Sínodo dos Bispos.
“É um documento, sobretudo, de propostas de trabalho, de conversão, no sentido de perceber o que é a Igreja, de perceber como é que a gente se insere nela e de colocar-nos ao serviço da sua transformação. E isto para todos, serve para a Cúria Romana, tem coisas para os bispos, tem orientações para os padres que trabalham com os bispos e para todas as comunidades, para cada batizado”, indicou D. José Ornelas.
Para o presidente da CEP, o gesto do Papa entregar o documento, “como ele foi aprovado, sem mais significa que “o verdadeiro Sínodo começa agora”.
Neste sentido, o bispo português acrescentou que “dá algumas indicações concretas e há muito que fazer”, diz que é preciso transformar as palavras “em gestos e em atitudes, e isto é uma conversão que é preciso que a Igreja faça”.
O segundo ponto que D. José Ornelas assinala “é que não está tudo feito”, há temas que estão a ser estudados e realça que “não foi tirado nenhum assunto de cima da mesa”, mas não era este o lugar para decidir algumas coisas.
“O dar este espaço também de reflexão, aquilo que o Papa chamou de fazer uma pausa, para que possamos caminhar a partir daquilo que temos e que aprendemos, fomos aprendendo, nestes três anos, é importante”, observou.
A assembleia sinodal, cuja segunda sessão decorre desde 2 outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.
O documento final foi aprovado nos seus 155 pontos, alguns dos quais mostram que maior debate e divisão, como o lugar das mulheres, a questão do discernimento conjunto com os leigos e a autoridade dos bispos.
D. José Ornelas salienta que o documento “diz, claramente, que não terminou a discussão” sobre o papel das mulheres da Igreja, convidando todos a “encontrar caminhos de convergência e de criação de novidade”.
“Isto é o caminho para seguir, esta é a metodologia que é importante que aprendamos todos na Igreja, e que também seja, aquilo que diz o texto: uma profecia também para este mundo. Ter havido debate mais aceso em alguns pontos é um bom sinal, é um sinal que estamos de saúde”, sustenta.
Fora do documento final ficam os temas confiados aos dez grupos de estudo criados pelo Papa em fevereiro deste ano, após a primeira sessão sinodal, que envolvem os dicastérios da Cúria Romana, sob a coordenação da Secretaria-Geral do Sínodo, que vão funcionar até junho de 2025.
Em declarações à Agência Ecclesia à saída da última reunião geral da sessão sinodal, o presidente da Conferência Episcopal portuguesa aproveitou também para apelar ao fim da violência que tem assolado a Grande Lisboa. O presidente diz que é preciso "não deixar-se levar simplesmente pela violência, nem das autoridades, nem daqueles que reagem a possíveis exageros ou o que quer que seja. Não faço juízos sobre isso", diz.
"Acho é que nós todos, particularmente no país que somos, Portugal, um país pequeno, um país que está habituado a ser a receber diferenças e a projetar-se também para aquilo que é diferente...é muito importante que saibamos encontrar-nos também para as dificuldades que temos. Possamos contar com todos nós. Não temos de fazer uma política para nós para aplicar aos outros. Nós temos de, juntos, escutar-nos em todas as dimensões das pessoas que nós temos, também daquelas que chegam mais de fora, também daquelas que são diferentes de nós", apela.
[Notícia atualizada às 12h09 de 27 de outubro de 2024 para acrescentar declarações de D. José Ornelas]