27 out, 2024 - 09:30 • Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Agência Ecclesia)
(entrevista gravada antes do encerramento da segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos)
O vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Virgílio Antunes, admite que "há muitas pessoas que em todas as comunidades estão à margem e que não se sentem integradas"
"Algumas pessoas estão absolutamente aborrecidas e até zangadas com a Igreja", diz o também bispo de Coimbra, em entrevista à Renascença e Agência Ecclesia,
No fim-de-semana em que termina, no Vaticano, a segunda sessão da Assembleia Sinodal, D. Virgílio diz que "essa gente precisa de proximidade", sublinhando que "a via de Deus é sempre de abertura a toda a humanidade".
Para o vice-presidente da CEP e um dos delegados portugueses à Assembleia Sinodal, "a Igreja tem de procurar acolher a todos" e enfatiza a necessidade de se "acolher todas as sensibilidades e todas as perspetivas, sem pôr em causa o Evangelho e sem por em causa a doutrina e a tradição".
"Às vezes, é preciso ir mais lento para ir mais seguro"
Sobre o papel das mulheres na Igreja, D. Virgílio Antunes considera que "no nosso país, já há um olhar para a mulher completamente diferente daquilo que aconteceu no passado".
D. Virgílio lembra que, excluindo o Sacramento da Ordem, há "um caminho que está em curso" e que tem de continuar, apesar de haver "diferentes partes do mundo que pensam de forma bastante diferente".
Apesar de reconhecer a existência de "bolsas de resistência" no processo sinodal, o prelado sublinha que "isso faz parte integrante da vida da Igreja".
"O Sínodo vai unir e congregar e vai fazer sentir a Igreja mais comunhão", diz, convicto de que não se tratará de "o Sínodo da discórdia, da rutura ou dos cismas", como a certa altura se admitia junto de vários setores da Igreja.
D. Virgílio Antunes reconhece que, ainda assim, a conclusão dos trabalhos vai provocar “reações diferentes” e ode deixar algumas pessoas “desencantadas”, como sucedeu após a primeira sessão do Sínodo, no ano passado.
O vice-presidente da CEP não tem duvidas de que o Sínodo "vai deixar marcas e vai ter consequências" admitindo que este momento "pode aproximar-se, no seu significado para a Igreja, daquilo que foi o Concílio Vaticano II, nos anos 60".
Numa perspetiva mais pessoal, D. Virgílio Antunes diz que a sua participação na Assembleia Sinodal é “uma experiência inesquecível”.
"Todos nós imaginamos realidades e caminhos e percursos diferentes"
Foram duas sessões aqui no Vaticano, muitas semanas de trabalho, de debate conjunto. Acredita que esta Assembleia Sinodal vai ser um ponto de referência para o futuro da Igreja Católica?
Vai, sem dúvida. Do ponto de vista pessoal, para mim, é uma experiência única, porque, além de serem quase oito semanas, praticamente dois meses, em 2023 e 2024, houve uma preparação, houve um antes, houve um ano de intervalo entre as duas sessões desta Assembleia e há, sobretudo, uma experiência na Assembleia Sinodal, que é, de facto, uma experiência inesquecível. Sente-se aqui o pulsar da Igreja, não àquela escala que estamos mais habituados, que é a nossa diocese ou a nossa paróquia, ou até o nosso país ou a nossa Conferência Episcopal, mas sente-se o pulsar da Igreja universal, no sentido mais pleno. Portanto, vemos o sentir do povo de Deus de uma forma muito alargada, como nunca, provavelmente, terá acontecido na história da Igreja.
Isso vai deixar consequências?
Vai deixar consequências, porque, além daquilo que é a reflexão, o debate, a escuta, a oração, a partilha, na sala Sinodal há aquilo que está por detrás, que é o pensar, o sentir, o viver da fé cristã na Igreja do povo de Deus, que teve a possibilidade de falar, que nós sentimos que está sempre na retaguarda, mas que também está à frente, como horizonte, como desejo de transformação, de evangelização. Portanto, vai deixar marcas
Há quem diga, e o futuro o dirá, que, uma vez que o Sínodo tem como tema não um aspeto muito concreto e identificado da vida da Igreja, mas sim complexo e tendo, por outro lado, a noção da grandeza daquilo que é a vida da Igreja, ele vai constituir uma marca muito forte no futuro, vai ficar uma referência. Não digo que seja como o Concílio Vaticano II, evidentemente, porque são realidades de âmbito diferente, mas, de algum modo, pode aproximar-se, no seu significado para a Igreja, daquilo que foi o Concílio Vaticano II nos anos 60.
"O Sínodo tem a autoridade que o Santo Padre lhe quiser dar"
Ao longo dos últimos dias, foi-se reforçando a ideia de que este sínodo, mais do que resolver problemas particulares, serviu para imaginar uma nova forma de ser Igreja. Sente que as comunidades católicas estão preparadas para este desafio?
As regiões do mundo são muito diversas. Os modos de pensar, de sentir, até de viver a fé, a mesma fé - una, santa, católica, apostólica - são diferentes, mas o povo de Deus está preparado. Está preparado e tem esse desejo, concretamente, em Portugal, mas também em muitos outros países do mundo. As pessoas manifestaram-se, disseram que queriam ver a Igreja a crescer, a Igreja a evangelizar, as comunidades cristãs a serem felizes, mas também precisavam de ver alguns sinais de transformação. Alguns aspetos pareciam estar, até, a ter alguns entraves para o processo evangelizador e na relação dos membros da Igreja entre si, mas também da Igreja com a comunidade e as comunidades, com as sociedades e as culturas em que está envolvida e de que faz parte, inclusivamente.
Há um desejo muito grande de grande parte do povo de Deus de dar continuidade a este processo e a este caminho sinodal.
Entende também que possa haver quem sinta que as suas expectativas, sobretudo após aquela grande consulta global de 2021, ficaram um pouco defraudadas com o decorrer dos trabalhos?
Vai haver reações muito diferentes. Já houve na primeira fase, após a primeira sessão no ano passado. Aquele relatório final, a algumas pessoas deixou muita esperança e a outras deixou um pouco, talvez, de desencanto. Podemos dizê-lo: estavam à espera e tinham imaginado, porventura, coisas diferentes e todos nós imaginamos realidades e caminhos e percursos diferentes.
Agora, eu penso que este Sínodo, como tinha de ser, e eu vejo aí a força do Espírito Santo, é um Sínodo que vai unir e que vai congregar pessoas e que vai fazer sentir a Igreja mais comunhão. Não vai ser, como a certa altura até se pensou, o Sínodo da discórdia e da divisão e da rutura ou dos cismas. E isso acho que é exatamente a força do Espírito Santo.
Às vezes, é preciso ir mais lento para ir mais seguro, é preciso estar atento a todos os sinais no interior da Igreja e da sociedade, é preciso estar na abertura ao Espírito, à Palavra de Deus, à força da fé e andar, nalguns casos, de uma forma mais lenta significa que se pode andar mais seguro. Não significa perder o horizonte. O horizonte que é a Igreja sempre em renovação é uma frase que faz parte de toda a sua história e que teve esse epicentro fundamental no Concílio Vaticano II, de que continuamos a ser herdeiros.
"No nosso país já há, de facto, um olhar para a mulher (…) completamente diferente daquilo que aconteceu no passado"
Cada bispo vai ter um papel fundamental para traduzir no terreno as indicações que saírem da Assembleia Sinodal, também no sentido de promover uma maior participação, responsabilidade dos vários membros da comunidade católica. Vê isso como uma ameaça à forma tradicional de exercer a autoridade? Sente que ainda existe alguma desconfiança relativamente a este processo?
Em primeiro lugar, nós não estamos a zero. Por vezes, há pessoas que pensam que a Igreja está a zero no que diz respeito à participação dos fiéis, no que diz respeito aos órgãos de comunhão, de corresponsabilidade e que agora, de um momento para outro, vai alterar as coisas. Não é a realidade. Aliás, o próprio Sínodo está a reconhecer isso.
Há caminhos já feitos. Depende de região para região, de país para país, de diocese para diocese, de paróquia para paróquia, mas há caminhos já feitos. Em muitos lugares da Igreja, já há uma participação ativa e, vamos dizer, muito responsável e interventiva de pessoas, leigos de todas as condições, homens, mulheres, consagrados, que partilham esta responsabilidade como verdadeiras pedras-vivas da Igreja. Agora, todos reconhecemos também que há um caminho a fazer e que aquilo que foram algumas intuições daqueles que nos precederam, nomeadamente no Concílio, ainda não estão efetivamente desenvolvidas no terreno.
Há um caminho muito longo, mas que não é um começar tudo do princípio, é um acentuar alguns aspetos que têm muito a ver com aquilo que é a Igreja, desde as suas origens, ao longo de toda a sua história. E também tem a ver com o modo como nós hoje nos sentimos enquanto encarnação em determinado lugar e em determinado tempo. Isso nunca pode ser alheio ao pensar, ao sentir, ao caminho que a Igreja faz, ao serviço da mesma realidade evangélica de sempre. Portanto, há muito a fazer e as pessoas estão desejosas e disponíveis para darem esses passos. Se nós ouvirmos algumas críticas nas nossas comunidades, é no sentido de que ainda não estarmos a dar, às vezes, os passos tão rápidos como às vezes o povo de Deus sentia que era necessário. Temos de estar todos à altura desta fidelidade a Deus e, ao mesmo tempo, à atenção àquilo que é o povo de Deus.
"A Igreja tem de procurar acolher todos"
Esse era, aliás, o sentido da minha próxima pergunta, porque a Constituição Apostólica sobre o Sínodo dos Bispos, que o Papa Francisco publicou em 2018, sublinha que, depois da Assembleia, há uma nova fase, a fase da receção, da aplicação das conclusões em todas as comunidades. Acredita na mobilização dos responsáveis destas comunidades? Não há a possibilidade de existir um certo cansaço, depois de três anos de um processo em que o Sínodo esteve praticamente na boca de toda a gente?
Pode haver e é natural, num processo que se alonga. E também há algumas bolsas de resistência. É evidente que na Igreja não funciona tudo ao mesmo ritmo nem funcionamos todos à mesma voz. Há perspetivas, há formas de entender diferentes e, portanto, algumas dificuldades. Com certeza que já as houve, continua a haver e haverá no futuro, mesmo no que diz respeito à receção do Sínodo, como houve no que diz respeito à receção do Concílio, apesar das décadas que já nos separam e das linhas orientadoras, até, do Magistério Pontifício, com este contorno ou aquele. Isso faz parte integrante da vida da Igreja
O Sínodo tem a autoridade que o Santo Padre lhe quiser dar, mas o que todos pensamos que vai aceitar com interesse, com entusiasmo, até, aquilo que são as conclusões e as proposições do Sínodo, vai ser para pôr em prática, para continuar a pôr em prática, mas incentivando muito este dinamismo eclesial que está a desenvolver-se e que tem as características que todos nós conhecemos. Portanto, vai haver uma receção, vai haver nas dioceses interesse, entusiasmo, vai haver muitos aspetos que têm de ser transformados, melhorados, aprofundados e vai haver também algumas dificuldades e resistências, como sempre tem acontecido.
"O Sínodo vai unir e congregar"
Vários dos temas, vamos chamar-lhes "mais polémicos", continuam a ser trabalhados pelos grupos que foram criados pelo Papa. Grupos de trabalho que continuam até ao verão de 2025. Destaco a questão ligada ao papel das mulheres, objeto de muitas intervenções. Considera que é necessária uma transformação para uma maior integração de leigas, por exemplo, em cargos de responsabilidade a vários níveis?
Nós não sabemos qual vai ser o desenvolvimento destes diferentes pontos e aspetos que o Santo Padre decidiu entregar a um estudo mais aprofundado, às referidas 10 comissões. Tinha sido um pedido da Assembleia, ou da sessão anterior da Assembleia, que alguns assuntos fossem mais aprofundados, uma vez que não havia um consenso alargado ou universal acerca deles. Mas não sabemos exatamente qual vai ser o destino, se o Santo Padre recebe agora o relatório final do Sínodo e, depois, junta outras conclusões provenientes das 10 comissões: se vão ter um tratamento à parte ou se isso vai ser objeto de uma outra fase deste processo sinodal para ter, por assim dizer, um processo mais alargado de reflexão.
Mas à parte disso, é evidente que o retirar alguns desses temas deixou esta Assembleia Sinodal um pouquinho mais distendida, mais tranquila, menos nervosa, podemos mesmo dizer, porque aqueles pontos são, de algum modo, mais críticos, não reúnem um consenso universal. Mas todos eles precisam de ser estudados, precisam de um aprofundamento teológico e, em alguns casos, também canónico, tendo em conta aquilo que são os modos de sentir dos diferentes lugares do planeta. A Igreja tem de procurar acolher a todos, não deixar ninguém de fora e isso é um processo que só o Espírito Santo pode fazer. Acolher todas as sensibilidades, todas as perspetivas sem pôr em causa o Evangelho, sem pôr em causa a doutrina e a tradição, é quase uma quadratura do círculo.
Especificamente na questão da participação das mulheres, houve o cuidado de valorizar aquilo que já vai sendo feito?
Sim. Não só valorizar o que já vai sendo feito, que em alguns casos é muito, mas podemos dizer que no nosso país já há, de facto, um olhar para a mulher neste sentido das suas capacidades, da sua forma de estar presente, completamente diferente daquilo que aconteceu no passado. Podemos não estar ainda na plena e total igualdade, porque nem as sociedades ainda chegaram a isso, mas temos de chegar, de facto, a uma forma diferente de entender toda a pessoa humana, homem ou mulher. Uma forma que respeite aquilo que é pessoa humana, na sua condição sexual, do seu género, na sua maneira de ser e tudo isso. Temos de continuar esse trabalho com a exclusão daquilo que tem sido dito pelo Santo Padre, que é o Sacramento da Ordem e aquelas funções que são diretamente dependentes do Sacramento da Ordem. Tem de haver um caminho. Está em curso, mas tem de continuar a realizar-se. Há diferentes partes do mundo que pensam de formas bastante diferentes.
"Do ponto de vista pessoal, [o Sínodo] é uma experiência única"
Houve alguns pontos de tensão, especificamente na relação entre os grupos de trabalho e Assembleia Sinodal. A sinodalidade, esta forma de trabalhar mais sinodal também faz falta na Cúria Romana?
Faz falta em toda a parte. Faz falta nas nossas dioceses, faz falta na Cúria Romana, mas são, depois, realizações diferentes. A Cúria Romana é mandatada pelo Santo Padre diretamente. Um bispo na sua diocese não é exatamente igual à Cúria Romana. A sinodalidade tem diferentes lugares e diferentes modos de realização consoante os vínculos e as relações, que foi um dos aspetos e dos temas muito tratados, e os lugares em que a Igreja se realiza e se concretiza. Não é tudo igual em todas as partes do mundo e a Cúria Romana não é igual a nenhuma diocese, nem uma diocese é igual a todas as outras dioceses do mundo. Há que ter a capacidade de olhar para as realidades tais quais são.
No regresso às dioceses, os participantes no Sínodo foram desafiados a ser embaixadores ativos da sinodalidade. Pergunto-lhe se sente que, em Portugal, esse esforço vai ter muitos parceiros e também que experiência vai transmitir aos outros bispos portugueses já na próxima Assembleia Plenária da CEP?
Já aconteceu o mesmo quando se realizou o encontro dos párocos, aqui em Roma, a propósito da sinodalidade, para envolver de uma forma mais direta, mais explícita esses que são absolutamente fundamentais, não só na vivência da Igreja em cada uma das suas comunidades, mas também no alargamento deste espírito e deste sentido sinodal. E nós, os bispos, de facto, temos a mesma missão e a mesma função. É evidente que participar numa Assembleia Sinodal nos dá uns horizontes e uma experiência muito diferente e, portanto, nós temos uma responsabilidade efetivamente acrescida.
Não é fácil de passar, mas é possível fazer-se trabalho e, como disse, já na próxima Assembleia da Conferência Episcopal, no próximo mês de novembro, vamos procurar fazer alguns ecos do que foi esta Assembleia e também alguns pontos que achamos que devem já ser tidos em conta e salientar, porventura, alguns aspetos do documento final para que a nossa Igreja em Portugal se sinta, efetivamente, envolvida, como penso que está, desde o primeiro momento.
A experiência de quem aqui esteve pode e deve ajudar os outros a envolver-se porque, às vezes, é mais importante ouvir um testemunho do que ler propriamente um texto escrito.
"Há pessoas que pensam que a Igreja está a zero no que diz respeito à participação dos fiéis"
Também vai regressar à Diocese de Coimbra, onde neste mês de outubro houve um primeiro encontro, o Sínodo dos Jovens, que aponta já a aplicação de medidas concretas até 2026. É um sinal deste modo de ser Igreja Sinodal também?
É isso que eu desejo e é isso que a Diocese deseja. Tivemos um plano pastoral sobre a juventude durante três anos, depois veio a Jornada Mundial da Juventude e pensámos que não podíamos ficar exatamente com a mesma atitude nem com o mesmo tipo de trabalho que já realizávamos e nem sequer com as mesmas estruturas que tínhamos. É um grande impulso da pastoral dos jovens e, de facto, não há outra forma de fazer este trabalho sem envolver os jovens em todas as fases do processo.
Pensamos, efetivamente, que era um Sínodo dos jovens. Não é simplesmente um Sínodo da Igreja sobre os jovens ou para os jovens. Um sínodo dos jovens teria importância neste processo que é crucial na vida de uma comunidade e na vida da Igreja.
E é um desafio particular, tendo consciência, por exemplo, que as novas gerações são mais ativas, são mais reivindicativas, até face a posicionamentos do magistério em que eles sentem um certo distanciamento…
É evidente, as pessoas têm o direito de se formar, de falar, de dizer, de escutar, de rezar, mas eu acredito que o Espírito Santo nos conduz, mesmo no meio de algumas turbulências das nossas histórias. Os jovens que somos e que temos nas comunidades e na Igreja também têm esta particularidade de estar atentos e de estar disponíveis. Eu acredito que vai ser um grande momento da vida da nossa Diocese de Coimbra. Portanto, vou cheio de esperança. Não pude estar lá na apresentação que fizeram no dia 13, mas agora já vou estar num encontro: vamos ter um festival a 10 de novembro, em Ansião, e vamos procurar que envolva os jovens, com uma linguagem dos jovens: festiva, juvenil, alegre, de partilha, de oração.
Vamos dar este impulso à nossa Igreja, que precisa de forças vivas, precisa de entusiasmo, precisa de juventude, mesmo daqueles que já não são jovens na idade, pois se não tivermos uma forma de viver como cristãos que não seja alegre, que não seja feliz, sem esconder os problemas e as dificuldades, não realizamos a missão que nos foi dada. O Sínodo é uma palavra de esperança, tanto o Sínodo da Igreja Universal como o nosso Sínodo dos jovens. Gostaríamos que ele fosse uma palavra e um gesto e um sinal de muita esperança para a Igreja.
"[O Sínodo] pode aproximar-se, no seu significado para a Igreja, daquilo que foi o Concílio Vaticano II"
Depois destas duas sessões sinodais, que mensagem deixas às comunidades católicas em Portugal? Acredita que se abriu caminho para que muitas pessoas possam aproximar-se, na esperança de serem ouvidas e integradas?
Sim, há muitas pessoas que em todas as comunidades estão à margem e não se sentem integradas. Por vezes, não sentiram aquela palavra de carinho, de amor, de acolhimento, que faz a mudança. Entre nós, nas nossas comunidades, temos pessoas que estiveram sempre à margem. A maior parte já fez parte da Igreja e, depois, foi arrefecendo na sua fé.
Temos algumas pessoas que estão absolutamente aborrecidas e até zangadas com a Igreja ou com alguns dos seus membros, nomeadamente com os ministros ordenados ou com as suas comunidades. Esta gente precisa de proximidade, precisa de encontro, precisa de um abraço. Está aí a encíclica nova do Papa Francisco sobre o coração de Jesus e o coração da humanidade e o coração de Deus e temos a via para este encontro, para o acolhimento das pessoas todas que estejam à margem e que queiram ou que sintam este impulso.
Portanto, eu repito a palavra do Papa João Paulo II, que é do Evangelho: não tenhamos medo, não tenhais medo e vamos por esta via, que é a via de Deus, e a via de Deus é sempre de abertura a toda a humanidade.