11 out, 2024 - 12:35 • Agência Lusa, Agência Ecclesia e Vatican Media
O presidente da Ucrânia entregou esta sexta-feira ao Papa uma pintura a óleo que retrata o massacre de Bucha. No centro do quadro figura uma menina imaginária que viu soldados russos torturar e matar os pais e a avó. Pelo menos 457 civis foram executados há dois anos naquela cidade, a poucos quilómetros de Kiev.
Os dois chefes de Estado encontraram-se esta manhã, durante cerca de 35 minutos. De acordo com a Santa Sé, os dois discutiram "o estado da guerra e a situação humanitária na Ucrânia", bem como as formas através das quais se poderia encontrar um fim para o conflito, "levando a uma paz justa e estável no país".
Na troca de presentes, o Papa Francisco ofereceu a Volodymyr Zelensky uma placa de bronze com uma flor a desabrochar e a inscrição "a paz é uma flor frágil". Foi também entregue ao presidente ucraniano a mensagem de Francisco para o Dia Mundial da Paz deste ano, os volumes dos documentos papais, o livro sobre a 'Statio Orbis' de 27 de março de 2020 e o volume "Perseguidos pela verdade, os greco-católicos ucranianos por trás da cortina de ferro".
Após a audiência privada, Zelensky encontrou-se com o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, acompanhado por D. Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados do Vaticano.
A visita de Zelensky ocorre no âmbito de uma viagem pela Europa com o objetivo de angariar mais apoios para enfrentar a invasão russa.
Esta é a segunda audiência privada concedida, no Vaticano, pelo Papa ao presidente ucraniano desde a invasão russa, em fevereiro de 2022, tendo a primeira decorrido em maio de 2023.
Em julho deste ano, o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, deslocou-se à Ucrânia, onde presidiu às celebrações no Santuário de Berdychiv, passando por Kiev.
A terceira visita do chefe de Estado ucraniano ao Vaticano aconteceu sete meses depois do encontro com o Papa, no Auditório Paulo VI, a 13 de maio de 2023.
Já a 14 de junho deste ano, Francisco e Zelensky tiveram oportunidade de se encontrar em privado, à margem da cimeira do G7, em Borgo Egnazia, na região italiana da Apúlia.
Desde a invasão da Ucrânia por Moscovo, em fevereiro de 2022, Francisco tem aumentado as suas orações pela "Ucrânia martirizada", mas causou uma crise diplomática entre Kiev e a Santa Sé em março, depois de apelar à Ucrânia para "levantar a bandeira branca e negociar".
“Para todos nós na Ucrânia, a questão das pessoas capturadas e deportadas continua a ser incrivelmente dolorosa. Trata-se de adultos e crianças, muitos civis, que se encontram atualmente detidos em prisões e campos na Rússia”, referiu o presidente da Ucrânia, em nota divulgada na redes sociais, referindo-se à morte da jornalista ucraniana Viktoria Roshchyna.
"Muitos outros jornalistas, figuras públicas, líderes comunitários dos territórios ocupados e pessoas comuns que foram capturadas durante a ocupação russa continuam em cativeiro russo. A questão de trazer o nosso povo de volta do cativeiro foi o principal tema do meu encontro com o Papa Francisco, estamos a contar com a ajuda da Santa Sé para ajudar a trazer de volta os ucranianos que foram feitos prisioneiros pela Rússia”.
Do Vaticano, Zelensky viajará, ainda hoje, para Berlim, onde se vai reunir com o chanceler alemão, Olaf Scholz, cujo Governo planeia reduzir para metade, em 2025, o montante atribuído à ajuda militar bilateral destinada à Ucrânia, para grande desgosto de Kiev.
Na quinta-feira à noite foi a vez de se reunir com a chefe do Governo italiano, Giorgia Meloni, que anunciou o acolhimento no país da próxima conferência sobre a reconstrução da Ucrânia, agendada para 10 e 11 de julho de 2025.
"A Ucrânia não está sozinha e nós estaremos ao seu lado enquanto for necessário", garantiu Meloni.
A Itália apoia fortemente Kiev, enviando ajuda e armas, embora considere que estas últimas só devem ser utilizadas dentro do território ucraniano.
Antes de Roma, Volodymyr Zelensky foi recebido em Paris pelo seu homólogo francês, Emmanuel Macron, onde, como habitualmente, apelou a um rápido aumento da ajuda ocidental.
"Antes do inverno, precisamos do seu apoio", insistiu.
Emmanuel Macron, por sua vez, garantiu que a ajuda da França continua, "de acordo com os seus compromissos".
A viagem europeia de Zelensky ocorre numa altura em que as forças russas continuam a avançar no leste da Ucrânia e a menos de um mês das eleições presidenciais norte-americanas, cujo resultado incerto levanta receios em Kiev sobre a sustentabilidade do apoio dos Estados Unidos.
As consequências de uma eventual vitória de Donald Trump foram, no entanto, desvalorizadas pelo secretário-geral da NATO, Mark Rutte, na quinta-feira, em Londres.
"Estou absolutamente convencido de que os Estados Unidos estarão envolvidos, porque compreendem que não se trata apenas da Ucrânia, mas também de si próprios", disse Rutte.
Tal como em Paris e Roma, o Presidente Zelensky apresentou os detalhes do seu "plano de vitória" contra a Rússia ao primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e a Mark Rutte na quinta-feira, em Londres.
Este plano "visa criar condições favoráveis para um fim justo da guerra", disse, acrescentando que "a Ucrânia só pode negociar com uma posição forte".
O plano deverá ser revelado durante uma cimeira de paz, prevista para novembro, mas cuja data não foi confirmada por Kiev.
Zelensky voltou a insistir na "necessidade de obter autorização para atacar profundamente o território russo" com armas de longo alcance fornecidas, em particular, pelo Reino Unido, um dos mais importantes apoiantes do seu país.
O líder ucraniano exige há meses autorização para usar os mísseis britânicos de longo alcance 'Storm Shadow' para atacar a Rússia.
Rutte disse aos jornalistas que "legalmente, a Ucrânia está autorizada a usar as suas armas para atingir alvos na Rússia, desde que esses alvos representem uma ameaça para a Ucrânia", mas ressalvou que a decisão de as entregar cabe "a cada aliado individualmente".
O instituto de investigação alemão Kiel Institute alertou na quinta-feira para uma possível queda da ajuda ocidental à Ucrânia em 2025.
De acordo com as suas projeções, se os doadores ocidentais mantiverem, no próximo ano, os níveis anteriores, a ajuda militar e financeira ascenderá a 59 e 54 mil milhões de euros, respetivamente. No entanto, se a ajuda norte-americana for perdida e se os doadores europeus seguirem a linha da Alemanha, as ajudas cairão para metade, ficando-se pelos 29 e 27 mil milhões de euros.