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O sínodo que era “só” dos bispos é agora de “todos, todos, todos”

02 out, 2024 - 06:00 • Aura Miguel

Depois da primeira assembleia, em outubro de 2023, o Sínodo sobre a sinodalidade regressa ao Vaticano.

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Abre esta quarta-feira, solenemente, a segunda Assembleia ordinária do Sínodo sobre a sinodalidade na Igreja. Trata-se de um longo processo iniciado há três anos e que pretende dar um impulso de conversão na vida eclesial de forma capilar.

Em 2021 foi publicado um Documento preparatório que introduziu um percurso com várias fases e que pretendeu envolver todas as paróquias e dioceses do mundo. O resultado foi moroso e complexo face à diversidade e desafios das comunidades católicas e às diversas sensibilidades sobre o ser Igreja nos dias de hoje.

O Papa decidiu então, desdobrar o Sínodo sobre a sinodalidade em duas Assembleias. A primeira realizou-se em outubro de 2023 e gerou algumas tensões à volta de alguns “temas fraturantes” que acabaram por desviar as atenções do essencial. Francisco resolveu retirar esses temas dos trabalhos deste Sínodo que agora começa, confiando aqueles assuntos a comissões de especialistas. Espera-se, assim, que esta segunda Assembleia decorra com maior serenidade.

Uma purificação prévia

Entretanto, os cerca de 400 participantes deste ano reuniram-se em retiro, durante dois dias, no Vaticano. “Alguns membros do Sínodo dos Bispos podem precisar de abandonar velhas maneiras de fazer as coisas e outros podem precisar abandonar o desejo de fazer tudo novo; em vez disso, todos devem permitir que o Espírito Santo fale”, disse o padre dominicano Timothy Radcliffe, um dos pregadores.

Radcliffe sublinhou ainda que o foco principal deste Sínodo “é a missão e é ajudar milhões de pessoas em todo o mundo que procuram o significado da vida e a verdade”. Por isso, o Sínodo "não é um lugar para negociações sobre mudanças estruturais, mas para escolher a vida, a conversão e o perdão”.

Perdão foi também a palavra mais ouvida na vigília de oração de ontem, onde um grupo de cardeais enunciou um vasto grupo de ofensas e pecados cometidos por membros da Igreja, a quem Francisco se associou: “Quis escrever os pedidos de perdão, que foram lidos por alguns cardeais, porque era necessário chamar pelo nome e apelido os nossos pecados principais, que nós escondemos ou dizemo-los com palavras educadas”, afirmou. “Só curando as relações doentias é que podemos ser Igreja sinodal”.

Os padres não são os chefes dos leigos

Ainda em jeito de preparação para o Sínodo, é também eloquente a mensagem escolhida pelo Papa para as intenções de oração deste mês de outubro. “Todos os cristãos somos responsáveis pela missão da Igreja. Todos os sacerdotes. Todos. Os sacerdotes não somos os chefes dos leigos, somos os seus pastores”, sublinha Francisco. “Jesus chamou-nos a uns e a outros. Não a uns acima dos outros, nem a uns de um lado e a outros de outro, mas sim em complementaridade. Por isso devemos caminhar juntos percorrendo o caminho da sinodalidade”.

De facto, o rosto da Assembleia sinodal que hoje começa está a mudar. A sua complementaridade inclui agora 85 mulheres; dos 363 membros com direito a voto, 54 são votos femininos e duas delas, ocupam o cargo de presidentes delegadas do Sínodo - instituição onde, até há bem pouco tempo, só os bispos podiam votar.

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