27 set, 2024 - 10:40 • Aura Miguel
Perante os reis da Bélgica e autoridades representativas da sociedade da polícia e da cultura, Francisco reconheceu que a Europa precisa da Bélgica para prosseguir na via da paz e da fraternidade entre os povos que a compõem. “Este País recorda a todos os outros que quando – com base nas mais variadas e insustentáveis desculpas – se começa a não respeitar as fronteiras e os tratados e se atribui às armas a criação do direito, subvertendo aquele que está em vigor, abre-se a caixa de Pandora e todos os ventos começam a soprar violentamente, sacudindo a casa e ameaçando destruí-la”, afirmou.
Momentos antes do Papa falar, o Primeiro Ministro belga usou palavras duras ao referir, no seu discurso, os numerosos casos de abuso sexual e adoções forçadas “que minaram a confiança” e que “não podem ser encobertos”. Alexander De Croo disse que não bastam palavras: é preciso dar passos concretos, porque “as vítimas têm direito à verdade, devem ser ouvidas e a justiça cumprida”. O Chefe do executivo belga disse ainda que “a dignidade humana é prioritária aos interesses da instituição” e que “para poder olhar em frente, a Igreja deve esclarecer o seu passado”.
O Papa abordou o assunto no seu discurso. “Esta é a vergonha que todos temos de enfrentar, pedir perdão e resolver o problema”, disse depois de recordar que na Igreja coexistem luzes e sombras. Francisco definiu os abusos de menores como “um flagelo que a Igreja está a enfrentar com decisão e firmeza, escutando e acompanhando as pessoas feridas e implementando em todo o mundo um programa capilar de prevenção”.
E, referindo-se às palavras que acabara de ouvir, acrescentou, improvisando, que se no tempo de Herodes todos se escandalizaram com a matança das crianças inocentes, nos dias de hoje é anda mais grave por acontecer dentro da Igreja. “A igreja deve sempre pedir perdão, com humildade cristã. É a nossa vergonha e a nossa humilhação”, concluiu.
O Papa também se referiu ao fenómeno das “adoções forçadas”, que envolveram milhares de bebés separados das mães e dados em adopção através de instituições da igreja, nos anos 50 e 70 do século XX. “Como sucessor do Apóstolo Pedro, peço ao Senhor que a Igreja encontre sempre dentro de si a força para esclarecer e não se conformar com a cultura dominante, mesmo quando esta – manipulando-os – usa valores derivados do Evangelho, para deles tirar conclusões indevidas, com consequências pesadas de sofrimento e exclusão”, afirmou Francisco.
No final do seu discurso, o Papa voltou a insistir na paz. “Rezo para que os dirigentes das Nações, ao olharem para a Bélgica e para a sua história, saibam aprender com ela e poupem assim os seus povos de desgraças e lutos sem fim. Rezo para que os governantes saibam assumir a responsabilidade, o risco e a honra da paz e saibam afastar o perigo, a ignomínia e o absurdo da guerra”, afirmou.