19 set, 2024 - 11:13 • Aura Miguel
O Dicastério para a Doutrina da Fé publicou uma Nota intitulada “A Rainha da Paz” sobre a experiência espiritual ligada ao Santuário de Medjugorje, na Bósnia-Herzegovina.
O documento aprovado por Francisco não se pronuncia sobre a dimensão sobrenatural dos acontecimentos nem implica um juízo acerca da vida moral dos presumidos videntes, mas reconhece os abundantes frutos espirituais ligados à paróquia e aquele santuário mariano, verificando-se “crescente número de devotos em todo o mundo e as numerosas pessoas e grupos que para lá se dirigem em peregrinação, vindas das mais variadas proveniências”.
Em geral, esta Nota formula um juízo positivo sobre as mensagens, embora com alguns esclarecimentos.
A experiência espiritual que começou em Medjugorje em junho de 1981, quando seis jovens contaram ter visto Nossa Senhora, gerou abundantes frutos positivos e uma grande adesão ao ponto daquela paróquia ser visitada por mais de um milhão de pessoas a cada ano. Desde então, sucederam-se peregrinações provenientes do mundo inteiro, conversões, retorno aos sacramentos, casamentos em crise que são reconstruídos.
Um editorial publicado no portal do Vaticano, em simultâneo com esta Nota, refere que o Papa Francisco sempre observou estes elementos, desde que era bispo na Argentina, reconhecendo como a piedade popular, que move tantas pessoas em direção aos santuários, deve ser acompanhada, corrigida quando necessário, mas não sufocada. Uma avaliação que, juntamente com “os frutos espirituais”, ajudaram ao discernimento positivo. No entanto, “graças às novas normas publicadas em maio passado, o juízo da Igreja da declaração mais exigente de sobrenaturalidade, ainda não pode estar presente”.
Apesar de não se pronunciar sobre a veracidade sobrenatural dos acontecimentos, o Papa autoriza o culto, devoções e peregrinações, desde que “não haja engano ou interesses ocultos” e as mensagens sejam “ortodoxas e, sobretudo, se houver muitas experiências positivas”.
Entre os frutos positivos, A Nota também valoriza as várias mensagens de paz “entendida não só como ausência de guerra, mas também num sentido espiritual, familiar e social” e os constantes apelos à conversão, oração e jejum, bem como “a centralidade da missa, a importância da comunhão fraterna e a busca do significado último da existência na vida eterna”.
A Nota do Vaticano aponta “algumas poucas” mensagens que se afastam deste conteúdo positivo. Assim, “para evitar que este tesouro de Medjugorje seja comprometido, é necessário esclarecer algumas possíveis confusões que podem conduzir grupos minoritários a distorcer a preciosa proposta desta experiência espiritual”, lê-se no documento. E dá alguns exemplos, relacionados com a percepção subjetiva do fenómeno: “Em alguns casos, Nossa Senhora parece mostrar certa irritação porque não foram seguidas algumas de suas indicações; adverte assim sobre sinais ameaçadores e sobre a possibilidade de não aparecer mais”. Ou também, “quando as mensagens se referem a pedidos de improvável origem sobrenatural, como quando Nossa Senhora dá ordens sobre datas, lugares, aspectos práticos e toma decisões sobre questões ordinárias”.
Outra das apreensões refere-se a “mensagens que atribuem a Nossa Senhora as expressões ‘o meu plano’, ‘o meu projeto’, expressões que poderiam confundir. Na verdade, tudo quanto Maria realiza é sempre a serviço do projeto do Senhor e do seu plano divino de salvação. Assim como não se deve erroneamente atribuir a Maria um lugar que é único e exclusivo do Filho de Deus feito homem”, esclarece o Vaticano.
A Nota insiste que “a avaliação positiva da maior parte das mensagens de Medjugorje como textos edificantes não implica declarar que tenham uma direta origem sobrenatural”. E esclarece que permanece inalterado o poder de cada bispo diocesano de tomar decisões prudenciais no caso de haver pessoas ou grupos que “utilizando inadequadamente este fenómeno espiritual, atuem de modo errado”.
Por fim, o Vaticano convida os que vão a Medjugorje “a aceitar que as peregrinações não são feitas para se encontrar com os presumidos videntes, mas para ter um encontro com Maria, Rainha da Paz”.