17 set, 2024 - 14:38 • Henrique Cunha
O bispo do Porto fala de “uma tragédia indescritível que mais ou menos todos os anos, com esta dimensão ou com dimensão semelhante acontece entre nós”, e pede para que “não percamos a esperança”. “Que os nossos políticos nos ajudem a fazer também uma organização das plantações florestais, que os nossos técnicos nos ensinem a ordenar a nossa floresta para que estas tragédias não aconteçam, pelo menos com esta frequência”, exorta em declarações à Renascença.
O bispo insiste no pedido “aos que vivem da madeira, que vivem dos seus terrenos que agora foram todos queimados, inclusive as suas culturas, os que viram a casa arder” para que “ninguém perca a esperança”. “É a grande palavra que lhes posso dirigir neste momento”, sublinha D. Manuel Linda.
Nestas declarações à Renascença, o responsável considera “absolutamente terrível” a morte de bombeiros, que em sua opinião “confirma aquilo que é o lema geral de todos os bombeiros: Vida por vida". "E há tantos que dão a vida, de facto, em função do bem comum”.
D. Manuel Linda não esquece, neste breve depoimento à Renascença “os criminosos que, por gosto de ver arder ou por outro motivo qualquer, ou para se vingar do vizinho são efetivamente incendiários”. “Esses têm um pecado gravíssimo, que a sua consciência há de acusar ao longo de toda a vida, que é exatamente esse crime de fogo posto, porque depois vai traduzir-se exatamente na perda de bens, e fundamentalmente na perda de vidas!”, exclama.
D. Manuel Linda garante que a "diocese está disponível para ajudar as vítimas dos incêndios", e admite mesmo “a possibilidade de canalizar um ofertório diocesano para socorro das pessoas afetadas”. O bispo sublinha, contudo, que “a primeira resposta tem de surgir das comunidades locais”.
Na nota que fez publicar ao início da tarde na página da diocese, D. Manuel Linda começa por se “solidarizar com quantos sofrem os efeitos dos incêndios: os familiares dos mortos e feridos; os que veem desaparecer num instante as suas casas e bens que tanto custaram a ganhar; as Autoridades e os Bombeiros, cansados e exaustos por uma situação que se prolonga há já vários dias; os que os ajudam com os poucos meios que têm à mão; os que lhes fornecem comida e água; os que amam a natureza, obra de Deus, e agora nada mais podem contemplar que não seja a destruição, obra do homem; os que sofrem doenças graves por causa dos fumos; os que têm de suportar as estradas cortadas e ficam sem meios de transporte para chegarem ao seu local de trabalho; enfim, os que vivem este pesadelo na sua própria pele”.
O prelado apela a “todos para que se tenha um cuidado redobrado para que não aconteçam mais casos. Que ninguém se esqueça que, moralmente, a vida ou os bens retirados aos outros por causa do fogo posto tem a mesma gravidade que o homicídio ou o roubo”. “Perante esta situação tão dolorosa, ouso mesmo pedir que se colabore com as forças de segurança e policiais para a identificação dos pirómanos e dos incendiários que o fazem por maldade”, exorta.
Por último, D. Manuel Linda deixa também um apelo “aos agentes pastorais que observem de perto os dramas e intentem uma primeira ajuda ou solução, particularmente aos que perdem tudo. Por exemplo, mediante um ofertório específico para esse fim que fica autorizado desde já. E aos cristãos em geral, que exerçam uma solidariedade ativa e uma partilha de bens, se a situação assim o exigir”.