10 set, 2024 - 03:07 • João Pedro Quesado , Aura Miguel, enviada especial da Renascença
O Papa Francisco desafiou esta terça-feira os católicos de Timor-Leste para um "renovado impulso na evangelização", que considera necessário para que o "perfume do Evangelho" chegue a todos e contribua para resolver os males da sociedade. O Santo Padre está no segundo dia da passagem pelo país timorense, parte de uma viagem apostólica pelo sudeste asiático, que já o levou à Indonésia e Papua Nova Guiné, e ainda vai levar Francisco a Singapura.
Num encontro com os bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados, seminaristas e catequistas na Catedral da Imaculada Conceição, em Díli - onde João Paulo II fez um cerimónia semelhante, em 1989 -, o Papa pediu ao responsáveis católicos um novo "impulso", depois de recordar que "a Igreja existe para evangelizar" e que não deve estar "parada".
"O vosso país, radicado numa longa história cristã, precisa hoje de um renovado impulso na evangelização, para que chegue a todos o perfume do Evangelho: um perfume de reconciliação e de paz, depois dos sofridos anos da guerra; um perfume de compaixão, que ajude os pobres a reerguerem-se e que suscite o empenho em levantar os destinos económicos e socieis do país; um perfume de justiça contra a corrupção", sublinhou o Papa, acrescentando que a sua avó "dizia que o diabo entra pelo bolso".
Francisco salientou que "o perfume do Evangelho deve ser difundido contra tudo o que humilha, deturpa e até destrói a vida humana, contra as chagas que geram vazio interior e sofrimento, como o alcoolismo, a violência e a falta de respeito pela dignidade das mulheres".
O Santo Padre descreveu os bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados, seminaristas e catequistas presentes na Catedral como "o perfume de Cristo", comparando-os a "uma árvore de sândalo, de folha perene, forte, que cresce e dá frutos, também vós sois discípulos missionários, perfumados com o Espírito Santos para inebriar a vida do vosso povo".
Já no final, Francisco citou um diplomata português do século XVI, Tomé Pires, que escreveu que "os comerciantes malaios dizem que Deus criou Timor para o sândalo", para contrapor que "sabemos que existe um outro perfume, o de Cristo e do Evangelho, que enriquece a vida e a enche de alegria".
O Papa Francisco ouviu três testemunhos. Um deles, o do padre Sancho Amaral, contou a história de como o sacerdote ajudou Xanana Gusmão, líder da resistência timorense ao domínio indonésio, a deslocar-se de Díli para Ossu, em junho de 1991. Enquanto se deslocavam, foram mandados parar pelos militares indonésios.
"Então, o comandante Xanana disse: "Padre, desta vez, não nos safamos". Perante isso, como ia vestido de batina, baixei o vidro do carro com o braço esquerdo para fora, de rosto amuado e de pouco amigo a perguntar: "Ada apa?", isto é, o que é que acontecia, para nos fazer parar? Mas os militares, ao verem que era o Padre, deixaram-nos passar adiante. Assim, a batina, como traje da identidade sacerdotal, livrou-nos dos perigo", recordou o sacerdote de 68 anos.
A conclusão do padre Sancho Amaral foi depois citada pelo Papa Francisco: "Deus sabe cuidar daqueles que Ele chamou e enviou para a missão".