06 set, 2024 - 08:00 • Pedro Mesquita , João Malheiro
A três dias da chegada do Papa a Timor-Leste, cresce o entusiasmo da população que já se dirige para a capital. Será um momento histórico, de muita alegria, para o povo timorense, que se libertou da ocupação indonésia há apenas 25 anos e festejou a independência em 2002.
Nas ruas de Díli há bandeiras da Santa Sé, cartazes de boas-vindas a Francisco e tanto no palácio presidencial, como em Taci Tolo – o palco da independência, há 23 anos, onde o Papa celebra missa na terça-feira – fazem-se já os últimos preparativos para mais um momento histórico.
Entrevistado pela Renascença, em Díli, José Ramos-Horta antecipa um apelo do Papa à consolidação da paz e à fraternidade humana.
O Presidente de Timor-Leste sublinha que Francisco irá visitar “um oásis da paz e da tolerância”.
"Não temos tensões interreligiosas. A mensagem deve ser aprofundar a paz e a tolerância", antecipa.
Será esta – acredita o presidente timorense – a principal raiz que o Papa deixará em Díli, onde mais de 500 mil pessoas aguardam “super felizes” pela chegada de Francisco.
"Para o timorense, muito católico, receber o Papa é quase como a segunda chegada de Cristo. Especialmente este Papa, que se aproxima muito das pessoas", considera.
E os timorenses querem aproximar-se muito de Francisco, tal como aconteceu em 1989, quanto este povo estava aprisionado e recebeu a visita de João Paulo II. Aquele Papa, lembra Ramos-Horta, “derrubou o muro do silêncio”.
35 anos depois, Timor recebe a visita de um outro Papa e, desta vez, não há receios, porque este é um país independente e em paz.
Na leitura do presidente timorense, que é Nobel da Paz, a mediação para um cessar-fogo no Médio Oriente e na Ucrânia deveria passar pela Santa Sé e as Nações Unidas.
Ninguém teria mais credibilidade para liderar os dois processos de diálogo. Ramos-Horta considera que – apesar de muito criticado por Israel e das posições que António Guterres assumiu perante a invasão russa da Ucrânia – a ONU não perdeu a sua capacidade de mediação para a paz.
"São vocacionadas e têm credibilidade para resolução de algum conflito", refere.
Para Ramos-Horta, a Santa Sé tem já "um longo historial" que lhe permite ter um papel decisivo na mediação da paz.
Por outro lado, sabendo das relações tensas entre Israel e ONU, o Nobel da Paz indica que António Guterres tem tido a postura correta.
"Quando Israel comete barbaridades classificadas como genocídio, o secretário-geral da ONU não pode ficar calado", aponta.