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Dia dos Avós

Cardeal D. Américo Aguiar identifica “falhas graves” no acompanhamento dos mais velhos

24 jul, 2024 - 09:44 • Henrique Cunha

Bispo de Setúbal convida avós e netos para um encontro no próximo domingo no Santuário de Cristo Rei, em Almada. D. Américo Aguiar sublinha a importância que o Papa dá ao Dia Mundial dos Avós e Idosos, e aproveita para dar visibilidade ao fenómeno do abandono e isolamento dos mais velhos.

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O bispo de Setúbal, cardeal D. Américo Aguiar, decidiu convocar todos os avós e netos para um encontro no Santuário do Cristo Rei, no âmbito do IV Dia Mundial dos Avós e Idosos, que se celebrará no próximo domingo, dia 28 de julho.

Em entrevista à Renascença, o prelado recorda o “esforço do Papa” na promoção do encontro entre avós e netos e alerta para uma certa “fratura entre os mais novos e mais velhos”.

D. Américo confessa que não tinha ideia “da dimensão dos números” relativos aos idosos que vivem sós e nota que se há uma sociedade incapaz de “amparar, acompanhar e defender” os mais velhos, então “o nosso projeto social tem falhas e falhas graves”.

"Em 2023, no contexto da preparação da participação dos jovens do mundo inteiro para a JMJ LISBOA 2023, o Papa Francisco convidou cada jovem a visitar, contactar, comunicar e rezar com e pelos seus avós, e volta a tornar presente esse desafio”, lembra o cardeal de Leça do Balio.

O encontro de avós e netos no Santuário de Cristo Rei tem como objetivo “corresponder ao convite do Papa”.


Que objetivos tem convite ao encontro entre avós e netos?
O objetivo principal é corresponder ao convite, ao muito simpático e emocionado convite que o Papa sempre faz nos últimos anos para este encontro de avós e netos. Neste esforço que o Papa tem vindo a fazer de um encontro e de uma relação muito indispensável para o equilíbrio de todos no seu crescimento e na sua vida, do encontro dos mais novos com os mais velhos, dos avós e com os netos, e no facto de o Papa no ano passado, mais ou menos nesta altura, ter desafiado os jovens que iam peregrinar até à Jornada Mundial da Juventude de Lisboa de não se esquecerem de um abraço, de um beijinho, de uma visita, de uma oração com e pelos avós.
E nós estamos exatamente quase nesse calendário novamente, e no próximo domingo, dia dos avós e dos idosos, o Papa volta a fazer esse convite, a esse encontro, e até proporciona aquilo que é a obtenção da indulgência plenária para esse encontro. Aliás, eu convido todos a irem ao Dr. Google, porque vão lá ver tantas coisas, e também podem ir lá ver a explicação da indulgência plenária. Mas, acima de tudo, é um encontro muito especial de família e de famílias, de avós e de netos, que eu gostaria de também começar a concretizar, num lugar muito especial de Setúbal, do nosso país, que é o Santuário do Sagrado Coração de Jesus, Santuário de Cristo Rei. E não há sítio melhor para um encontro de avós e de netos do que o Coração de Jesus, certamente.
Pretende também, com esta iniciativa dar a visibilidade necessária a um problema que se vem arrastando, e talvez até ganhando cada vez mais dimensão, e que é o do isolamento dos mais idosos?
Sim, eu tenho ficado muito, como é que eu hei-de dizer, perplexo, surpreendido. Não que não tivesse ideia da situação, mas da dimensão dos números, não tinha absolutamente ideia. E quando há dias eu vi- aliás numa entrevista na Renascença e na Eclésia - o vereador da área social da Câmara Municipal do Porto, em que ele nos falava do número de idosos que vivem sós na cidade do Porto, e se nós replicarmos isto pelas nossas cidades, pelas nossas vilas, pelas nossas aldeias, ficamos a perceber que temos um problema a resolver. E o problema, permite-me que te diga, o problema não é as pessoas terem mais esperança de vida. O problema não é as pessoas viverem mais, porque a certa altura parece que as narrativas são de classificar como negativo as pessoas viverem mais, isso é um disparate, isso é um absurdo. O problema é viverem mal. Nós devemos ficar felizes e contentes pelo facto das pessoas viverem mais tempo. É óbvio que a sociedade e a comunidade e quem gera a causa pública, a coisa pública, tem que desenhar a cidade, tendo em conta que uma percentagem significativa dos seus cidadãos tem necessidades especiais em razão da sua idade. Mas isto não deve ser absolutamente um problema. Contudo, parece-me que está a ser cultivada uma fratura entre os mais novos e os mais velhos em muitas áreas da nossa vida. E por isso, tudo o que possa significar normalizar, repor a normalidade naquilo que é a relação dos mais velhos, com os mais novos, dos avós e dos netos, é uma oportunidade a não perder.
Já identificou também a dimensão do problema na sua diocese ou ainda é prematuro?
Os números não tenho. Naquilo que são as visitas e as conversas mais informais, o problema também acontece. Infelizmente também acontece e também há pouco tempo tivemos notícias de alguém que faleceu e que passado algum tempo é que a vizinhança descobriu. E essa é uma situação com que somos assaltados tantas vezes pelas notícias, com notícias deste género, que significam a falha de uma sociedade. Se uma sociedade não é capaz de amparar, de acompanhar, de defender aqueles que deram toda a sua vida pela comunidade e que no outono e fim da vida não são protegidos, não são cuidados, não são amados, não vivem com o mínimo de dignidade, isso significa que o nosso projeto social tem falhas e falhas graves em relação aos mais velhos.
Quer aproveitar este momento para renovar o convite para o próximo domingo?
Eu queria então convidar todos os avós e netos da Península de Setúbal, de um modo especial, mas podem vir de outros sítios, mas os da Península de Setúbal que aceitassem este convite para um encontro de avós e netos no Santuário de Cristo Rei, em Almada, às quatro da tarde, a terminar com a Eucaristia às cinco da tarde. Para que nos possamos reencontrar e dar graças a Deus pela vida dos netos e pela vida dos avós.


Comentários
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  • ADISAN
    25 jul, 2024 Mealhada 12:09
    Reverendo Sr. Cardeal, tenho já mais de 85 anos e não tenho de me queixar de que não estou a ser acompanhado. Pelo menos uma vez em cada mês, recebo cartas a pedir a minha contribuição para uma Instituição religiosa sediada em Lisboa (onde os arrendamentos até são mais em conta que na Província!?). Gosto, quando posso, de também contribuir para os mais necessitados, dado que, graças ao nosso bom Deus, tenho uma reforma do estrangeiro que me permite fazê-lo de vez em quando, quando as instituições,querem que lhes paguemos os altos arrendamentos de Lisboa, torna-se necessário pensarmos um bocadinho.

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