O bispo de Setúbal, cardeal D. Américo Aguiar, decidiu convocar todos os avós e netos para um encontro no Santuário do Cristo Rei, no âmbito do IV Dia Mundial dos Avós e Idosos, que se celebrará no próximo domingo, dia 28 de julho.
Em entrevista à Renascença, o prelado recorda o “esforço do Papa” na promoção do encontro entre avós e netos e alerta para uma certa “fratura entre os mais novos e mais velhos”.
D. Américo confessa que não tinha ideia “da dimensão dos números” relativos aos idosos que vivem sós e nota que se há uma sociedade incapaz de “amparar, acompanhar e defender” os mais velhos, então “o nosso projeto social tem falhas e falhas graves”.
"Em 2023, no contexto da preparação da participação dos jovens do mundo inteiro para a JMJ LISBOA 2023, o Papa Francisco convidou cada jovem a visitar, contactar, comunicar e rezar com e pelos seus avós, e volta a tornar presente esse desafio”, lembra o cardeal de Leça do Balio.
O encontro de avós e netos no Santuário de Cristo Rei tem como objetivo “corresponder ao convite do Papa”.
Que objetivos tem convite ao encontro entre avós e netos?
O objetivo principal é corresponder ao convite, ao muito simpático e emocionado convite que o Papa sempre faz nos últimos anos para este encontro de avós e netos. Neste esforço que o Papa tem vindo a fazer de um encontro e de uma relação muito indispensável para o equilíbrio de todos no seu crescimento e na sua vida, do encontro dos mais novos com os mais velhos, dos avós e com os netos, e no facto de o Papa no ano passado, mais ou menos nesta altura, ter desafiado os jovens que iam peregrinar até à Jornada Mundial da Juventude de Lisboa de não se esquecerem de um abraço, de um beijinho, de uma visita, de uma oração com e pelos avós.
E nós estamos exatamente quase nesse calendário novamente, e no próximo domingo, dia dos avós e dos idosos, o Papa volta a fazer esse convite, a esse encontro, e até proporciona aquilo que é a obtenção da indulgência plenária para esse encontro. Aliás, eu convido todos a irem ao Dr. Google, porque vão lá ver tantas coisas, e também podem ir lá ver a explicação da indulgência plenária. Mas, acima de tudo, é um encontro muito especial de família e de famílias, de avós e de netos, que eu gostaria de também começar a concretizar, num lugar muito especial de Setúbal, do nosso país, que é o Santuário do Sagrado Coração de Jesus, Santuário de Cristo Rei. E não há sítio melhor para um encontro de avós e de netos do que o Coração de Jesus, certamente.
Pretende também, com esta iniciativa dar a visibilidade necessária a um problema que se vem arrastando, e talvez até ganhando cada vez mais dimensão, e que é o do isolamento dos mais idosos?
Sim, eu tenho ficado muito, como é que eu hei-de dizer, perplexo, surpreendido. Não que não tivesse ideia da situação, mas da dimensão dos números, não tinha absolutamente ideia. E quando há dias eu vi- aliás numa entrevista na Renascença e na Eclésia - o vereador da área social da Câmara Municipal do Porto, em que ele nos falava do número de idosos que vivem sós na cidade do Porto, e se nós replicarmos isto pelas nossas cidades, pelas nossas vilas, pelas nossas aldeias, ficamos a perceber que temos um problema a resolver. E o problema, permite-me que te diga, o problema não é as pessoas terem mais esperança de vida. O problema não é as pessoas viverem mais, porque a certa altura parece que as narrativas são de classificar como negativo as pessoas viverem mais, isso é um disparate, isso é um absurdo. O problema é viverem mal. Nós devemos ficar felizes e contentes pelo facto das pessoas viverem mais tempo. É óbvio que a sociedade e a comunidade e quem gera a causa pública, a coisa pública, tem que desenhar a cidade, tendo em conta que uma percentagem significativa dos seus cidadãos tem necessidades especiais em razão da sua idade. Mas isto não deve ser absolutamente um problema. Contudo, parece-me que está a ser cultivada uma fratura entre os mais novos e os mais velhos em muitas áreas da nossa vida. E por isso, tudo o que possa significar normalizar, repor a normalidade naquilo que é a relação dos mais velhos, com os mais novos, dos avós e dos netos, é uma oportunidade a não perder.
Já identificou também a dimensão do problema na sua diocese ou ainda é prematuro?
Os números não tenho. Naquilo que são as visitas e as conversas mais informais, o problema também acontece. Infelizmente também acontece e também há pouco tempo tivemos notícias de alguém que faleceu e que passado algum tempo é que a vizinhança descobriu. E essa é uma situação com que somos assaltados tantas vezes pelas notícias, com notícias deste género, que significam a falha de uma sociedade. Se uma sociedade não é capaz de amparar, de acompanhar, de defender aqueles que deram toda a sua vida pela comunidade e que no outono e fim da vida não são protegidos, não são cuidados, não são amados, não vivem com o mínimo de dignidade, isso significa que o nosso projeto social tem falhas e falhas graves em relação aos mais velhos.
Quer aproveitar este momento para renovar o convite para o próximo domingo?
Eu queria então convidar todos os avós e netos da Península de Setúbal, de um modo especial, mas podem vir de outros sítios, mas os da Península de Setúbal que aceitassem este convite para um encontro de avós e netos no Santuário de Cristo Rei, em Almada, às quatro da tarde, a terminar com a Eucaristia às cinco da tarde. Para que nos possamos reencontrar e dar graças a Deus pela vida dos netos e pela vida dos avós.