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Abusos na Igreja

Marcelo quer grupo Vita "alargado a toda a sociedade"

21 mai, 2024 - 18:02 • Alexandre Abrantes Neves

Presidente da República considera que a entidade deve ser um exemplo para criar estratégias de combate e prevenção aos abusos sexuais em toda a sociedade e não apenas na Igreja. Rute Agulhas atualizou ainda os dados divulgados na segunda-feira - são agora 100 as vítimas identificadas pelo grupo VITA.

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Rute Agulhas

O Presidente da República quer que o trabalho do grupo VITA no acompanhamento dos abusos sexuais na Igreja seja alargado a toda a sociedade.

Revelação feita pela coordenadora da entidade, Rute Agulhas, depois de se reunir esta terça-feira com Marcelo Rebelo de Sousa para "apresentar o trabalho feito ao longo do primeiro ano de funcionamento do grupo VITA", como referido na nota divulgada no site da Presidência da República.

Em declarações à Renascença, Rute Agulhas disse que Marcelo estava “ciente” dos números apresentados pela entidade na última segunda-feira e que pediu para que “o grupo VITA não acabe”.

Segundo esta responsável, o Presidente da República sugeriu que a entidade criada pela Conferência Episcopal Portuguesa pode ser um exemplo para construir uma resposta permanente e transversal às vitimas de abusos sexuais em toda a sociedade não apenas na Igreja Católica.

“Salientou-se a importância de um pensamento holístico, com o foco nas vítimas na prevenção, mas também nos agressores. (...). No entendimento do senhor Presidente, (...) esta resposta é muito circunscrita porque se limita ao contexto da Igreja e [por isso] são necessárias outras respostas a nível nacional. (...) Efetivamente, o abuso sexual acontece noutros contextos: na família, nas escolas e com uma prevalência de facto muito maior”, explicou.

“Precisamos de estudos de prevalência e reincidência”

Quanto ao estudo promovido pela Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens sobre abusos sexuais na infância – e que, afinal, vai ser realizado com dados já existentes e não com uma nova investigação –, Rute Agulhas esclareceu que a “metodologia desse caso em concreto não foi abordada”.

Ainda assim, a coordenadora do grupo VITA diz que ficou “claro” que o Presidente da República acompanha o grupo VITA nos pedidos de realizar novas investigações de fundo.

“Um estudo de prevalência terá de ser semelhante ao que aconteceu na Igreja, para dar voz a todas as pessoas que foram vítimas de abuso sexual e que ainda não fizeram essa sinalização. Os dados conhecidos são a pontinha do iceberg: nós sabemos que a maior parte dessas situações estão ocultas”, defendeu.

A coordenadora do grupo VITA reforçou ainda que o presidente da República também se mostrou favorável à realização de estudos de reincidência, que permitam perceber e confirmar que “os abusadores reincidem muitas vezes porque não têm qualquer tipo de apoio especializado, nem durante pena, nem após”.

Prazo para definir indemnizações é “adequado”

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas, anunciou esta terça-feira que serão criadas até ao final do ano as comissões para definir os valores das indemnizações a pagar às vítimas.

Rute Agulhas considera o prazo “adequado”, uma vez que as vítimas têm até 31 de dezembro para formalizar o pedido junto da CEP que também divulgará “brevemente” os critérios que vão regular este processo.

Quanto aos dados divulgados esta segunda-feira sobre o primeiro ano de funcionamento do grupo VITA, Rute Agulhas atualizou-os e avançou que a entidade recebeu até agora precisamente 100 vítimas.

A coordenador remete explicações sobre o perfil destas pessoas para o relatório a apresentar em junho, mas adianta que “apenas foram identificadas duas situações que dizem respeito a casos recentes de adolescentes” e que, por isso, “é preciso continuar este trabalho de capacitação de quem convive com as crianças”.

“Temos de capacitar escuteiros, professores e catequistas – que têm o privilégio de contactar diariamente e diretamente com as crianças – para que saibam melhor identificar, sinalizar e naturalmente prevenir. Falamos também com o senhor Presidente sobre dois programas de prevenção: um para crianças de primeiro ciclo e um para jovens dos 10 aos 14 anos de idade. É esse o foco que no qual temos de nos centrar”, rematou.

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