12 mai, 2024 - 09:30 • Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Agência Ecclesia)
O diretor do Secretariado da Comunicação Social da Diocese de Viana do Castelo, padre João Basto, diz, em entrevista à Renascença e Agência Ecclesia, que "a comunicação social também ajuda a alimentar os populismos".
Neste domingo em que se assinala o Dia Mundial das Comunicações Sociais, João Basto alude a "uma certa neurose" que "alimenta os populismos" e alerta, por outro lado, para a confusão que se gera entre programas de entretenimento e entrevistas informativas.
O sacerdote defende a necessidade de não se confundir programas informativos com programas de entretenimento e critica a dimensão dada a algumas situações mais mediáticas. “Há uma desproporcionalidade muito clara. Quando existe a possibilidade de um cessar-fogo numa guerra com uma escala global, aquilo que abre dois telejornais é a prisão de um 'socialite'. Parece-me claro o ponto em que nós estamos”, lamenta.
“Uma coisa é uma entrevista, um debate, outra coisa é uma conversa informal num 'talk show' da manhã ou num programa do Youtube”, sublinha.
João Basto reflete também sobre as formas de financiamento dos órgãos de comunicação social, alertando para os riscos de se "tornar a imprensa regional dependente de financiamento publico”, o que fará com que "os órgãos de comunicação social sejam megafones dos gabinetes de imprensa".
O sacerdote lembra que, num meio regional, é relativamente fácil boicotar a divulgação de uma noticia: basta o presidente da Câmara não atender o telefone, "para nós ficarmos despidos”.
O padre João Basto não deixa de deixar críticas à Igreja pelo facto de que “não sabe comunicar com os media".
Ao escolher a Inteligência Artificial como tema central do Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa pretende, na perspetiva de João Basto, alertar para o risco de a comunicação se transforar em "algo autorreferencial ou pseudoanónimo”.
"Em Portugal, temos um excesso de historicismo: achamos sempre que é a primeira vez que estamos a tratar de tudo"
Começamos pelo tema escolhido pelo Papa para esta celebração: "Inteligência artificial e sabedoria do coração, para uma comunicação plenamente humana". O que representa este desafio deixado pelo Papa Francisco?
Eu acho que o desafio do Papa com esta mensagem é tentar alertar para que a comunicação, nos seus amplos meios, não se torne, por influência da inteligência artificial, algo de autorreferencial ou pseudoanónimo. Autorreferencial, por um lado, porque pode reduzir as pessoas a dados. Essa é uma frase que o Papa tem: "Reduzir as pessoas a dados" - reduzir o pensamento a um esquema ou o bem a um lucro. E também anónima ou pseudoanónima porque pode traduzir-se numa espécie de desresponsabilização contínua editorial, coletiva, por uma poluição também cognitiva.
Acho que este é o desafio do Papa: tentar que o recurso à inteligência artificial, que depende de nós se é bom ou mau, não possa fazer com que o jornalismo e a comunicação se torne autorreferencial e anónima.
É importante estarmos atentos a estas ameaças para o jornalismo e, em geral, para a comunicação humana?
Acho que é importante estar atento, mas é importante também reforçar algo que o Papa diz, que é tentar também desviar e limpar o terreno de análise de certas leituras, muitas vezes catastrofistas, e de alguns efeitos paralisadores no uso das tecnologias, nomeadamente, a inteligência artificial. É verdade que existem conteúdos como as "fake news" e os "deepfake", mas também é verdade que temos que olhar para a inteligência artificial naquilo que ela é. A inteligência artificial é uma forma de expressar matematicamente o pensamento, foi isso que o Thomas Hobbes disse quando escreveu o Leviatã e é isso que ele pensa que poderá ser, no século XVI, XVII, muito distante dos nossos dias, poderá ser uma espécie de inteligência. A verdade é que tudo o que é expresso de maneira matemática - e o Kurt Gödel, no século XX, explicou bem isso - não é um sistema coeso. Portanto, esta ideia de que a inteligência artificial é uma ameaça, mas é uma ameaça quanto baste. Nós também temos de relativizar esses perigos.
"A inteligência artificial é uma ameaça, mas é uma ameaça quanto baste. Nós também temos de relativizar esses perigos"
"A inteligência artificial é uma forma de expressar matematicamente o pensamento"
Faria sentido falar mais em inteligências artificiais do que só numa grande entidade?
Acho que temos uma entidade que é, como todas as tecnologias, ambígua, ou seja, nós podemos utilizar a inteligência artificial. O Sindicato de Jornalistas falou disso no ano passado, até em consequência da Carta de Paris sobre a inteligência artificial e o jornalismo. Nós podemos falar da inteligência artificial como um apoio ao trabalho jornalístico, porque há um certo trabalho repetitivo, um certo trabalho de análise em que a inteligência artificial é um grande auxílio. Podemos também falar da inteligência artificial como uma forma de propagação de informação falsa. Portanto, temos que perceber do que realmente estamos a falar. Depois de um jogo de futebol, efetivamente, a inteligência artificial ajuda muito, ou pode ajudar, porque analisa um conjunto de dados que é muito difícil nós rapidamente analisarmos. Pode também potenciar a divulgação rápida de notícias falsas, isso também é verdade.
Na apresentação da mensagem para este ano, que decorreu em Viana do Castelo, na sua diocese, falava-se da falta de um jornalismo com análise que procura explicar, justificar os acontecimentos. Como é que vê esta crítica?
Compreendo a crítica. Penso que o jornalismo passa por um conjunto de dificuldades que não são só a qualidade do jornalismo. Temos o problema do modelo de negócio, temos também o problema que tem a ver com a chacina que muitas vezes é feita às redações e a qualidade do jornalismo é também um deles. Muitas vezes, o nosso jornalismo, a comunicação que fazemos depende de um sistema quase de alcateia, de lógica tribal. Pouco recetivo também a críticas. Se me pergunta se o nosso jornalismo tem uma dificuldade na análise, eu tenho dificuldade em ver, porque conheço exemplos disso. Acho que existe a tendência para que o consumo desmereça esse tipo de conteúdos e porque o consumo desmerece esse tipo de conteúdos, o trabalho é feito em sentido contrário.
Esse é um desafio mais particular ainda, por exemplo, no trabalho com um título como o "Notícias de Viana"?
Eu acho que é um desafio ainda maior, até se ligarmos à expressão do "Notícias de Viana", que é um jornal regional de Viana, do distrito, já mais que centenário. Se ligarmos esse problema à questão do modelo de negócio... Se é difícil um órgão nacional sustentar-se, muito mais difícil é a um órgão regional. Em primeiro lugar, pela dificuldade de financiamentos, porque uma coisa é nós potenciarmos ou procurarmos publicidade junto de uma pessoa ou de uma pessoa dizendo que o nosso órgão de comunicação tem uma amplitude nacional, a outra é procurarem pequenos empresários, algo que tenha amplitude regional e que muitas vezes não tem amplitude que nós queremos. Depois, há uma grande dependência daquilo que são os pequenos poderes, que, muitas vezes, viciam o jogo da comunicação regional. É muito frequente falar aqui do financiamento público. Pois é preciso ver que, se a nível nacional, às vezes, o financiamento público pode redundar numa espécie de viciação do trabalho jornalístico, muito mais o é num impacto regional, onde as câmaras, por exemplo, que são grandes poderes locais, têm uma influência muito grande naquilo que pode ser a linha editorial.
"Temos, em Portugal e em geral, uma falta de educação para a literacia"
A imprensa regional tem um património de memória e de comunidade que nenhuma inteligência artificial poderá substituir. Sente que esses títulos são devidamente valorizados?
Falou de um património de memória e isso encaixa, creio eu, naquilo que o Papa diz na mensagem, ou seja, a comunicação é também relação. O jornal regional tem um contacto quase porta a porta com as pessoas. Efetivamente, hoje em dia, também para não estarmos a idealizar a comunicação regional, existe muita comunicação regional que parte do trabalho unicamente redacional, fechado nas quatro de paredes, e da emissão permanente de comunicados que chegam, das câmaras ou até da Lusa.
Falta mais reportagem?
Falta rua. Muitas vezes, falta rua. E nota-se isso também na forma como se fala dos temas. Parece-me que este património que o jornalismo regional tem é o património muitas vezes da polémica, ou o património de nós… Até de alguma agressividade. Reparem, eu sou diretor do "Notícias de Viana" e, às vezes, folheio os jornais antigos. Temos um bocado a ideia de que nós vivemos num mundo muito violento, mas os jornais antigos são espólio de um mundo muito mais violento que o nosso. O "Notícias de Viana" tem N notícias de homens que foram mortos à sacholada. Há um anúncio que eu me recordo, que é um do jornal de 1930, que diz: ‘Não acolham na vossa casa esta mulher como criada, pois ela é uma mulher de má vida". Isto era comum nos jornais. Este património, também da relativização do presente, é muito importante, porque estamos a tratar de um tema como se fosse a primeira vez.
"Se é difícil um órgão nacional sustentar-se, muito mais difícil o é a um órgão regional"
Isso de olhar para um tema e parecer que é a primeira vez que se está a tratar é absolutamente recorrente…
Sim, é absolutamente recorrente, mas acho que em Portugal temos um excesso de historicismo: achamos sempre que é a primeira vez que estamos a tratar de tudo e de mais alguma coisa.
Quando a mensagem do Papa foi lançada em janeiro, foi feita uma sessão de apresentação em Viana e eu tive a oportunidade de estar com uma turma do 12º ano a falar do trabalho. Quando se fala de jornalismo e de comunicação, há risco de estarmos a falar de conceitos que já não são apreendidos pelas novas gerações.
Eu sou também professor, tenho responsabilidades no seminário e tenho claramente essa perspetiva, ou seja, quando nós falamos, aqui, de jornalismo, o consumo que nós temos da parte dos mais jovens de informação não é o consumo que nós estamos a falar de ler, ouvir a Renascença, ler o "New York Times", etc. Há aqui um problema e parece muito difícil resolvê-lo com as estratégias que vamos tendo. Isso parece muito claro.
Mas é preciso criar uma distinção muito clara entre o trabalho jornalístico de outros conteúdos que estão presentes nas diversas plataformas a que hoje em dia temos acesso…
Eu acho que essa distinção é muito importante, mas ela já não é feita e mesmo a colegas meus e a ex-alunos meus que entraram em jornalismo não conheço hábitos normais de leitura de jornais e de escuta de rádios e de visualização de televisão. Isto cria um problema que é confundir o jornalismo com uma espécie de tendência permanente para o "lifestyle", esta ideia de que as entrevistas devem copiar para o jornalismo o modelo de entretenimento. Há sempre o grande problema de fazer uma pergunta incómoda, tentar que as perguntas sejam pessoais, tentar que tudo seja na base do entretenimento e as coisas são diferentes. Mas acho que também nós, e olhando para o meu caso e para mim, criamos esta confusão nas pessoas.
"A Igreja comunica nos media, não sabe é comunicar com os media"
Desse ponto de vista, não se deveria exigir à própria comunicação social um trabalho pedagógico, mais assertivo sobre a necessidade e a importância da mediação da informação?
Apetece-me responder em dois pontos.
O primeiro é que nós estamos a regressar, até com a ajuda da Inteligência Artificial, a uma certa época pré-histórica na nossa existência humana. Digo isto porquê? A história baseia-se não só em factos, mas em documentos escritos. Nós hoje temos muita dificuldade em ter documentos sobre certas coisas. Se vivesse há dois séculos, corresponder-me-ia com os meus amigos e as minhas amigas por carta. Hoje, não faço isso, correspondo-me por WhatsApp. Isso é um facto que desajuda a criar lastro histórico. Por outro lado, acho que temos, em Portugal e em geral, uma falta de educação para a literacia. Não é só para o jornalismo. É para a educação para a literacia financeira, para a literacia política. Quando pergunto aos meus alunos a diferença entre umas eleições legislativas e autárquicas, eles não sabem, pura e simplesmente. Eles acham que estão para a votar para o primeiro-ministro, não imaginam que estão a votar para deputados. Precisamos, realmente, de uma chancela. Corremos o risco de cair num mundo em que veiculamos informação que nunca é confirmada, porque é muito difícil de confirmar. É por isso que acho que é precisa também esta literacia.
A ideia é que para que um caso seja verdade, basta que vários meios de comunicação social o tenham divulgado. Quando se perguntar "mas onde é que está o documento"" ou "de onde emanou essa decisão", a resposta é: "Não sei. Os jornais falaram..."
Recordo-me de, há uns tempos, um debate na RTP sobre o futuro do jornalismo, onde um dos convidados diz algo do género: "Eu escrevo artigos para jornais em vários países. Quando eu faço uma prova de facto, aponto um facto num artigo meu, todos os jornais exteriores a Portugal me ligam a perguntar onde é que o senhor se baseou. Em Portugal não acontece."
Acho que também há aqui um trabalho que tem de ser feito neste sentido. Não é só o modelo negócio, não é só a extinção das redações como temos assistido e que deve-nos levar à preocupação da pluralidade dos meios de comunicação social, mas é também a qualidade do jornalismo que nós fazemos, que às vezes também cria um desinteresse nas pessoas.
"Acho que exigimos demasiado aos bispos e damos pouco"
Isso também não cria uma certa intoxicação informativa que será responsável pelo aumento dos populismos e dos extremismos?
Acho que há aqui algo premente, que tem a ver com a forma como se comunica, como se diz ou divulga uma noticia. Por exemplo, por vezes, ouvimos: "X arrasou Y". Ou vemos um debate que, em vez de ser moderado, para servir para verquem é que é o último que fica em pé. Isto cria, claramente, mais "boost" nas redes sociais, cria mais impacto. O que talvez seja preciso, e tem sido adiantado, é que os algoritmos sejam alvo de uma regulação. Para que possamos saber que há algoritmos que têm a chancela de grupos de comunicação e que são protegidos por esse grupo de comunicação e que não permitem que as notícias dadas sejam unicamente notícias ligadas a este tipo de violência também verbal.
Nesta semana em que existem questões prementes no governo, questões prementes também na guerra de faixa de Gaza, com Israel e a Palestina, ou Israel ou Hamas, a notícia mais badalada, a notícia que toda a gente fala é a de um "socialite" que foi preso. Portanto, há aqui uma desproporcionalidade muito clara. Quando existe a possibilidade de um cessar-fogo numa guerra com uma escala global, aquilo que abre dois telejornais é a prisão de um "socialite" parece-me revelador do ponto em que estamos.
Hoje liguei a internet e fui ver as primeiras páginas de alguns órgãos de comunicação, designadamente no digital, e é gritante o destaque que este assunto tem. Acho que isto revela uma certa neurose face ao clima informativo, que depois alimenta os populismos.
Há quem diga que os populismos, quer de extrema-esquerda quer de extrema-direita, estão ligados a uma certa dificuldade de falar dos problemas reais das pessoas e também a uma certa forma de dar "pão e circo" para que as pessoas também se entretenham. Acho que estamos, muitas vezes, preocupados com isso, mas não percebemos como caímos na armadilha de dar gasóleo e gasolina a esse tipo de coisa.
"Quando se fala de jornalismo e de comunicação, há risco de estarmos a falar de conceitos que já não são apreendidos pelas novas gerações"
O padre João está a dizer que a própria comunicação social, sem querer. eventualmente, também ajuda a alimentar esses populismos...
Sim, para mim isso é gritante. A forma como tratámos com certos atores políticos, a forma como deixámos de fazer contraditório, como confundimos as coisas... Aliás, esse é um exemplo claro em Portugal, o exemplo histórico, recente, de atores políticos que são entrevistados em programas como este, que são programas jornalísticos, e, depois, vão fazer o "talk show" da manhã. Há aqui uma confusão clara entre as duas coisas. Parece-me que não há balizas e é importante ter estas balizas. Uma coisa é uma entrevista, um debate, outra coisa é uma conversa informal num "talk show" da manhã ou num programa do Youtube.
Este 55º Dia Mundial das Comunicações Sociais constitui uma jornada em que a Igreja Católica é também convidada a pensar na forma como comunica. Pergunto-lhe se há consciência nos responsáveis católicos da necessidade de investir nesta área da comunicação?
Eu acho que há, até por causa de questões ainda recentes na história e na memória da Igreja em Portugal.
Está a falar, por exemplo, das questões ligadas à polémica que houve com os casos de abusos sexuais?
Sim, parece-me que sim. Se calhar, respondo em dois ou três pontos. Primeiro, acho que a dificuldade da Igreja não está em comunicar-se nos média, ou seja, acho que a Igreja tem, muito embora se possa dizer que às vezes não é destacada como creio que possa ser, mas tem aceitação nos média.
Acho que a Igreja comunica nos media, não sabe é comunicar com os media. Tem presença e há pessoas da Igreja que são relevantes. Temos o caso recente do bispo de Setúbal, D. Américo Aguiar, que vai comentar para um canal de televisão. Ou o próprio cardeal Tolentino, que era um dos articulistas mais lidos e mais antigos do semanário "Expresso". Portanto, nós temos essa presença. Acho que não sabemos, depois, é fazer um trabalho que não é de comunicação externa, mas é de comunicação institucional. Acho que esse trabalho nos falta. Parece-me que, muitas vezes, também nós exigimos demasiado, e falo enquanto gabinete de comunicação: Exigimos demasiado aos bispos e damos pouco. Não é uma crítica aos jornalistas, é uma crítica mesmo interna, até a mim próprio. Acho que exigimos demasiado aos bispos e damos pouco, e acho que devemos deixar, enquanto gabinete de comunicação, de exigir tantos meios e passar a dar mais.
"Há dois séculos, corresponder-me-ia com os meus amigos e as minhas amigas por carta. Hoje, correspondo-me por WhatsApp. Isso é um facto que desajuda a criar lastro histórico"
Muitas publicações da Igreja, muita imprensa regional e alguma nacional passaram ou passam por dificuldades, como já referiu. Tem encontrado no poder político a vontade para tentar ajudar na resolução dos problemas?
Sendo uma questão, também ela muito complexa, acho que temos que ter alguma distância e, apesar de saber que, sindicalmente, existe uma tendência no jornalismo para achar importante haver um financiamento público, como é o caso, por exemplo, do Le Monde, penso que precisamos de arranjar formas de financiamento que não dependam necessariamente do poder político.
Na imprensa nacional, como é o Le Monde, um jornal internacional, isso pode funcionar porque há muitos leitores. Na imprensa regional, isso não acontece. Tornar a imprensa regional dependente do financiamento público, nomeadamente do financiamento direto de instituições camarárias, direto de algumas empresas que são muitas vezes monopólios nas próprias regiões, cria dependência. Aliás, faz com que os jornais e os órgãos de comunicação social sejam gabinetes de imprensa, sejam unicamente megafones dos gabinetes de imprensa. Isto é, claramente, perigoso.
Sabemos que num meio regional basta o presidente da Câmara não atender o telefone e não há notícia. E é diferente o impacto se o Presidente da República não atender o telefone ou se um bispo não atender o telefone. No caso do autarca, basta não conceder a entrevista, basta não querer falar, basta não ligar: ficamos claramente despidoe. Parece-me óbvio que isto acontece num meio regional e parece-me também importante que saibamos precavermo-nos disso. O poder político é importante, acho que é uma parte essencial para resolver uma situação grave na comunicação regional e na comunicação nacional, mas há risco.
E há o risco de outras públicas virem a fechar portas?
Acho que há risco, e há o risco de sobreviverem, num meio regional, as comunicações que são claramente dependentes e negativamente dependentes do poder camarário. Isto parece-me claro. E é um alerta que muitas vezes neste debate não é dado, porque nós estamos focados em grandes órgãos de comunicação nacional. Nós temos muitos desertos informativos em Portugal. O próprio distrito de Viana tem muitos concelhos que são desertos informativos, ou seja, locais onde não existe nenhum órgão de comunicação social e onde a única informação que chega é aquela que é filtrada por gabinetes das câmaras. E acho que isto é importante de referir e não temos esta atenção, hoje em dia.