02 fev, 2024 - 18:01 • Aura Miguel
“A pior coisa que nos pode acontecer é cair no 'sono do espírito', adormecer o coração, anestesiar a alma, arquivar a esperança nos cantos obscuros das desilusões e resignações”, disse esta sexta-feira o Papa aos consagrados e consagradas, que encheram a basílica de São Pedro.
Na homilia da missa a que presidiu, dedicada à apresentação de Jesus no templo, festa que coincide com o Dia da Vida consagrada, Francisco elogiou a atitude dos idosos Simeão e Ana que nunca desistiram de esperar reconhecer o filho de Deus.
”Faz-nos bem contemplar estes dois anciãos, pacientes na expectativa, vigilantes no espírito e perseverantes na oração. O seu coração manteve-se desperto, como uma tocha sempre acesa”, disse o Papa. “São de idade avançada, mas têm a juventude do coração; não se deixam desgastar pelos dias, porque, na expectativa, os seus olhos permanecem voltados para Deus”. E mais: “Ao longo do caminho da vida, sentiram dificuldades e desilusões, mas não cederam ao derrotismo, não ‘mandaram para a reforma’ a esperança”, sublinhou.
Nesta homilia, o Santo Padre, que também é religioso da Companhia de Jesus, desabafou que “a pior coisa que nos pode acontecer é cair no ‘sono do espírito’, adormecer o coração, anestesiar a alma, arquivar a esperança nos cantos obscuros das desilusões e resignações”.
Francisco manifestou preocupação com os ritmos intensos de vida em que muitos consagrados se vêem envolvidos diariamente, ao ponto de se esquecerem de Deus e de “reduzirem a própria vida consagrada e cristã às ‘muitas coisas a fazer’, negligenciando a busca diária do Senhor”.
Para não se perder esta capacidade de esperar, o Papa alertou para dois obstáculos comuns na vida consagrada. O primeiro, “negligenciar a vida interior”, surge quando o cansaço prevalece sobre o encanto, a rotina substitui o entusiasmo ou a demora no aparecimento dos frutos torna as pessoas amargas.
O segundo obstáculo é “a adaptação ao estilo do mundo, que acaba por ocupar o lugar do Evangelho”. Francisco avisou que o nosso mundo “exalta o «tudo e já», que se consome no activismo e procura exorcizar os medos e as angústias da vida nos templos pagãos do consumismo ou da diversão a todo o custo”. Para evitar que isto aconteça, o Papa pediu aos consagrados e religiosos “a coragem de abrandar o passo e não se deixar dominar pelas atividades” e, assim, criar espaço dentro de si para a ação de Deus.