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Serafina. O bairro onde “nem os polícias entravam” vai receber o Papa

06 jun, 2023 - 13:58 • Cristina Nascimento

Francisco vem a Portugal para a Jornada Mundial da Juventude. Vai passar cinco dias em Portugal, com vários pontos na agenda. Um deles será neste bairro pobre e problemático de Campolide, marcado pelo tráfico de droga. Nas ruas, já há quem ensaie diálogos com Francisco.

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Papa vai à Serafina, o bairro onde “nem os polícias entravam”
Papa vai à Serafina, o bairro onde “nem os polícias entravam”

A vida corre pacata nas imediações da Igreja e Centro Social e Paroquial São Vicente de Paulo, em pleno bairro da Serafina, em Lisboa. Uma calmaria que, muito previsivelmente não vai acontecer a 4 de agosto, no dia em que o Papa ali estiver de visita.

A notícia apanhou quase todos de surpresa, incluindo aquele que será o anfitrião.

“A presença do Papa aqui é uma bênção. O mundo inteiro vem ao encontro do Papa e o Papa vem ao nosso encontro, isto parece um absurdo”, diz à Renascença o pároco, o cónego Francisco Crespo.

Francisco Crespo fará 83 anos em novembro, tem mais de 50 de sacerdócio, mas será a primeira vez que vai poder estar mais de perto de um Papa. E já sabe o que lhe vai dizer. Vai mostrar-lhe a obra que ali tem sido feita há mais de 40 anos, o bairro que, quando ali chegou, "nem os polícias entravam".

O Centro Social e Paroquial emprega 170 pessoas que, nas mais diversas funções, mantém em funcionamento o berçário, a creche, o jardim de infância, ATL para crianças e jovens, lar para idosos, centro de dia para a terceira idade e deficientes e ainda apoio domiciliário. São respostas direta a mais de 700 pessoas, sem contar com as largas centenas de refeições que providencia.

A última coisa a ser construída foi a Igreja, porque, explica o padre, primeiro quis dar resposta “ao Cristo vivo”. “É uma obra aberta a todas as pessoas, a todos e, graças a Deus, posso dizer com alegria que daqui nunca ninguém sai sem uma resposta”.

Fora de portas, a realidade do bairro nem sempre é fácil. Miguel Belo Marques, presidente da junta de Campolide, diz que, ao contrário de outros tempos, o bairro é “fundamentalmente tranquilo”. Ainda assim, reconhece a existência de problemas.

“Lidamos com algumas problemáticas, fundamentalmente da habitação. Temos aqui algumas habitações sem qualquer tipo de condições de habitabilidade, algumas delas ou a maior parte de génese ilegal”.

Há também “uma problemática também associada ao tráfico de produto estupefaciente”.

“Sentimos que no último ano, ano e meio, tem aumentado o tráfico aqui no bairro, mas estamos a tomar as medidas que nos são possíveis”, assegura o autarca.

Sobre a visita do Papa, Miguel Belo Marques reconhece que as “questões logísticas associadas” vão representar “um acréscimo de trabalho”, mas que será feito com alegria. “Recebermos o Santo Padre na nossa freguesia, aqui no nosso bairro da Serafina, terá que ser sempre e será sempre uma grande alegria”.

O autarca considera que a vinda do Papa “é um reconhecimento do trabalho magnífico que tem sido feito” na paróquia e no centro social e que tem ajudado a melhorar o local.

“Existe verdadeiramente um bairro da Liberdade e um bairro da Serafina antes do Centro Social e Paroquial e um bairro depois da presença do Centro Social e Paroquial, e sem dúvida que o bairro que veio depois é muito melhor sobre todos os aspetos”, garante à Renascença.

A população do bairro mal pode acreditar na vinda do Papa. Pensam que “é um bairro de lata” que não mereceria a visita, diz uma idosa de 83 anos. Mais adiante, encontramos um casal que garante fazer tudo para ir ao encontro de Francisco.

Antes, um jovem de 18 anos, mostra interesse relativo na matéria, embora se diga disponível para acompanhar a avó, porque, justifica,

Questionado sobre o que diria ao Papa, se tivesse oportunidade de lhe falar, Bernardo ensaia o diálogo. “Buongiorno Papa, cmo estás?”.

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