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D. Manuel Clemente presente na vigília pelas vítimas de abusos

22 fev, 2023 - 22:01 • Ana Catarina André

Largas centenas de católicos juntaram-se esta Quarta-feira de Cinzas num momento oração pelas vítimas de abusos sexuais na Igreja, junto ao Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. A iniciativa aconteceu também noutros locais do país.

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O cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, marcou presença esta quarta-feira na vigília de oração pelas vítimas dos abusos sexuais na Igreja.

Durante uma hora, largas centenas de católicos, entre os quais leigos e sacerdotes, reuniram-se em silêncio e oração, junto ao Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.

No fim, em declarações aos jornalistas, D. Manuel Clemente sublinhou a "inteira solidariedade" e "comunhão" com as vítimas. "Estamos aqui com elas e por elas", disse.

"Creio que vim expressar aquilo que este silêncio também expressou. É um silêncio muito preenchido por duas realidades: em primeiro lugar, pela solidariedade, pela comunhão por todos quantos sofreram o que nunca deviam ter sofrido", adiantou. "O segundo sentimento é que quando as feridas são assim tão profundas, no final, só se resolvem com Deus porque isto vai acima daquilo que são as nossas simples capacidades e boas vontades."

Sobre a assembleia plenária da Conferência Episcopal, agendada para o dia 3 de março, para discutir o relatório da Comissão Independente, apresentado a semana passada, D. Manuel Clemente referiu que se espera que seja um momento que dê continuidade ao trabalho já iniciado, para "habilitar quer as comissões diocesanas, quer a coordenação nacional a responder melhor a esta problemática". E garantiu: "É assim que a coisa pode ir em frente".

Antes deste momento de oração, o cardeal patriarca de Lisboa declarou, na homilia da missa de Quarta-feira de Cinzas, na Sé de Lisboa, que a Igreja tem que continuar “ativa e atenta” no combate aos abusos sexuais e “não pode falhar de modo algum”.

"Sem reconhecimento nada se consegue transformar"

À Renascença, Joaquim da Costa, um dos organizadores da vigília, explicou que a iniciativa surgiu de forma espontânea, logo após a apresentação do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, que teve lugar no dia 13.

"Sentimos que como membros da Igreja somos co-responsáveis pelas omissões da Igreja, pelos pecados cometidos no ambito da Igreja. É esse o principal sentido [desta vigília]: associarmo-nos àquilo que os Papas já fizeram várias vezes, neste caso a hierarquia da igreja em Portugal também ja fez, que é o reconhecer o mal feito, porque sem esse reconhecimento nada se consegue transformar".

Entre os sacerdotes presentes esteve também o padre José Manuel Pereira de Almeida, vice-reitor da Universidade Católica. "Este é um momento de uma Igreja em saída, como o Papa nos propõe”, referiu. “Sabemos todos porque é que aqui estamos. Esse é um salto de consciência, um sobressalto. [Trata-se de] pedir a Nosso Senhor e a todos uns com os outros, que as coisas não se repitam e se tomem as medidas necessárias para que, em termos das feridas existentes, o percurso com a atenção prioritária às vítimas seja realizado numa tendencial harmonia".

Entre os fiéis estava também Nuno Caiado, o primeiro signatário da carta enviada, em 2021, aos bispos portugueses, em que um grupo de católicos pediu então à Conferência Episcopal que investigasse casos de abuso sexual na Igreja.

"Confiamos que os bispos vão ser capazes de novo de entender os sinais dos tempos e de perceber que há dois caminhos: ou o caminho que tem sido trilhado pela Igreja até agora, ou um caminho novo", afirmou. "Não será muito difícil perceber onde é que vamos encontrar Jesus Cristo. Há-de ser no segundo caminho, que é o caminho da mudança para que se evitem este tipo de situações, não só os abusos sexuais, mas todo o tipo de abusos e tudo aquilo que decorre de uma Igreja autoritária, onde o exercício do poder substituiu a fé. Há muito para fazer."

Além de Lisboa, aconteceram vigílias no Porto, Coimbra, Santarém, Braga, Évora, Beja, Fátima, Oeiras, Palmela, Funchal e Ponta Delgada.

O relatório da comissão independente, divulgado na semana passada, estimou que, pelo menos, 4815 crianças foram vítimas de abusos sexuais por membros da Igreja ao longo dos últimos 72 anos.


Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:

- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.

Telefone: 217 543 085 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa

- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.

Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.

Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt

- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.

São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.

Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.

Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:

- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica

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