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Fundação Ajuda À Igreja que Sofre

“Não sei como sobrevivemos a um ano de guerra na Ucrânia. É um milagre ainda estarmos vivos”

08 fev, 2023 - 19:05 • Fábio Monteiro

Responsáveis religiosos enviam todos os meses para o Papa Francisco uma lista dos religiosos, médicos e outros profissionais, que estão a ser detidos pelas forças russas. Uma das situações mais preocupantes, de momento, é a dos padres Ivan Levytsky e Bohdan Geleta, que foram detidos há quatro meses e estão a ser torturados.

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Faltam 15 dias para 24 de fevereiro, data em que, no ano passado, a Rússia invadiu a Ucrânia – e deu início a uma guerra que apanhou o mundo, já abalado por dois anos de pandemia, de surpresa. Uma guerra também que poucos especialistas pensavam que iria prolongar-se por tanto tempo.

Esta quarta-feira, numa conferência promovida pela Fundação Ajuda À Igreja que Sofre (AIS), braço português da organização Internacional Aid to the Church in Need (ACN), dois dos mais importantes representares da Igreja Católica na Ucrânia, o arcebispo Sviatoslav Shevchuk e o núncio Apostólico Visvaldas Kulbokas fizeram um ponto de situação do conflito.

Aos jornalistas, os dois responsáveis religiosos revelaram que, todos os meses, enviam para o Papa Francisco uma lista dos religiosos, médicos e outros profissionais, que estão a ser detidos pelas forças russas. E ambos sublinharam que uma das situações mais preocupantes, de momento, é a dos padres Ivan Levytsky e Bohdan Geleta, que foram detidos há quatro meses e estão a ser torturados.

“Eles estão a ser torturados todos os dias. Estão a ser acusados de serem líderes da resistência Partizan nos seus territórios contra as tropas russas. As autoridades militares acusaram-nos de estar a guardar armas nas igrejas. E agora, através da tortura. estão a tentar fazer os padres confessar que são esse tipo de criminosos. Há quatro meses que estamos a tentar resgatá-los, salvá-los”, contou Sviatoslav Shevchuk, arcebispo Maior da Igreja Greco-Católica Ucraniana.

Com a Rússia a “escalar a ofensiva”, a Igreja Greco-Católica Ucraniana tem agora como prioridade prestar auxílio aos feridos. “A prioridade mais importante, que colocamos em primeiro lugar, é assistência pastoral de ajudar a sarar as feridas das pessoas. Quase 80% das pessoas na Ucrânia precisam de algum tipo de reabilitação, ajuda para trabalharam nos seus traumas”, disse o arcebispo Sviatoslav Shevchuk.

“Não sei como [sobrevivemos]. É um milagre ainda estarmos vivos. E acho que conseguimos são só sobreviver, mas também servir as pessoas, as vítimas desta guerra”, confessou ainda.

Segundo Shevchuk, a situação na Ucrânia tem vindo a deteriorar-se. Cerca de 15 de milhões de cidadãos já saíram do país. E existe uma fatia da população, “os mais pobres entre os pobres”, que estão deslocados dentro da Ucrânia.

A ofensiva russa tem feito “uma destruição metódica das infraestruturas” nas cidades por onde tem passado. Em muitas dessas localidades, há falhas constantes de eletricidade. Só na semana passada, Odessa, recordou a título de exemplo, “esteve quase quatro dias às escuras”.

O cansaço

Para Visvaldas Kulbokas, núncio Apostólico na Ucrânia, mesmo após 11 meses de guerra, “muitas regiões pelo mundo ainda falam de uma forma superficial da guerra”. É importante, defende também, não sair da agenda noticiosa.

Parte da população ucraniana debate-se com a fome e escassez de bens. “Quando trazem pão, as pessoas começam a comer logo ali. Há falta de pão, há falta de água. Em alguns sítios, como Mykolaiv, as pessoas não têm água para lavar as suas roupas”, contou.

De momento, nas regiões de Donetsk, Lugansk e Zaporíjia não nenhum padre greco-católico, avançou ainda. “Se pusermos essas três áreas juntas, temos mais ou menos 60 mil quilómetros quadrados que é mais que o território da Croácia. Os padres ou foram presos, denunciados ou não conseguiram continuar a trabalhar ali.”

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