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​Padre Cruz. "Até os não católicos o tinham como Santo"

30 set, 2022 - 16:44 • Ângela Roque , Liliana Monteiro

Os 74 anos da morte do padre Cruz vão ser assinalados este sábado no cemitério de Benfica, onde o “apóstolo da caridade” se encontra sepultado, e onde se deslocam habitualmente os seus devotos. Em entrevista à Renascença, o vice-postulador da causa de canonização diz que o processo aguarda a luz verde do Vaticano, e que a dedicação aos mais frágeis devia servir de exemplo para a Igreja de hoje.

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Francisco Rodrigues da Cruz faleceu a 1 de outubro de 1948, tinha 89 anos de idade. 74 anos depois, o ‘Santo padre Cruz’, como muitos já o designam, continua a ser venerado dentro e fora do país, e são muitos os que, sobretudo nas datas mais marcantes, se deslocam ao cemitério de Benfica, onde está sepultado num jazigo da Companhia de Jesus.

“Há certos dias do ano em que temos o jazigo aberto o dia todo, como o dia 29 de julho, quando nasceu, ou o dia 1 de outubro, quando morreu”, explica à Renascença o vice-postulador da causa de canonização, padre Dário Pedroso.

Este sábado não será diferente. “Começa pelas 9h00 da manhã, depois do cemitério abrir. Depois há missa na capela, pelas 10h00, mas o jazigo continuará aberto até fechar o cemitério, pelas 17h00”.

“Nestes dias passam centenas de pessoas a visitar, rezar, a deixar a sua esmola, um ramo de flores. É consolador estar lá algum tempo a ver tanta gente a fazer fila para poder entrar”, refere o sacerdote jesuíta, sublinhando que “vem gente de Portugal inteiro, mas também chegam ao secretariado cartas de muitos países onde ele é conhecido e venerado”.

O "Apóstolo da Caridade", como também é conhecido, tem fama de ter feito muitos milagres em vida.

“O padre Cruz dizia que eram 'obras de Nosso Senhor'”. E houve muitas. Numa delas “estava a distribuir pão, ele próprio, aos pobres, e a mãe que estava junto dele disse-lhe 'olha que o pão não vai chegar, a fila é muito grande, vieram muitos'. Mas ele disse 'fica sossegada, Deus sabe remediar estas coisas’. E, de facto, deu o pão, voltou a dar, deu mais e ainda sobrou. Parece que houve ali uma multiplicação de pães”, conta o padre Dário, que lembra um dos muitos exemplos de cura. “Durante a visita uma família, pediram-lhe que fosse ver uma doente que estava para morrer, ele impôs-lhe as mãos e disse 'fiquem sossegados que ela não morrerá. E não morreu".

De acordo com o vice-postulador da causa de canonização do padre Cruz, no processo – que já foi enviado para Roma, e aguarda luz verde do Vaticano - foi reunida muita informação e testemunhos, mas “os milagres que dizem ter havido durante a vida não contam”.

“Só algum milagre por sua intercessão, feito após a sua morte, pode ser analisado por médicos e pela Santa Sé, e só depois é que poderá vir a canonização”, explica o padre Dário, que lembra que o Papa “pode dispensar o milagre e canonizá-lo na mesma, como já fez noutros casos”. Resta esperar.

Este responsável admite que gostava que a vinda do Papa a Portugal no próximo ano, para a JMJ de Lisboa, trouxesse uma surpresa relativamente ao processo. “Eu gostava, mas não sei se vai trazer. Pode ser que sim. Quem dera!”. De uma coisa tem a certeza: a vida do padre Cruz devia servir de exemplo para a Igreja de hoje.

“A sua dedicação aos pobres, aos doentes, aos presos é de uma atualidade espantosa. Ele foi um sacerdote que viveu, como diria hoje o Papa Francisco, no meio das ovelhas. Quando estava em Lisboa ia todos os dias à cadeia do Limoeiro. Havia uma dedicação extraordinária a todos aqueles, como ele dizia, 'os meus pobrezinhos'. Tudo o que lhe davam ele dava, fosse muito ou pouco, vivia com simplicidade. Há aqui um rasgo que a Igreja de hoje precisa de redescobrir”, sublinha, lembrando que no tempo em que o padre Cruz viveu, “mesmo os não cristãos, ou não católicos, já o tinham como Santo”.

O padre Francisco Rodrigues da Cruz nasceu a 29 de julho de 1859, em Alcochete, e faleceu a 1 de outubro de 1948, em Lisboa, tendo deixado “uma marca viva e profunda nos locais que foi visitando, o que explica a enorme devoção e memória existente em todas as dioceses”, como foi sublinhado, em 2019, quando se concluiu o processo histórico.

Ao longo da vida o sacerdote tentou por várias vezes entrar na Companhia de Jesus, mas só viu o seu desejo concretizado aos 80 anos, uma vez que a sua débil saúde nunca se adequou à enorme exigência do percurso formativo dos jesuítas. Nessa altura já tinha fama de santidade e um apostolado intenso.

A fase diocesana do processo de canonização do padre Cruz foi fechada em dezembro de 2020, tendo na altura o cardeal patriarca de Lisboa manifestado a convicção de que o processo “andará depressa”.

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  • Maria Goretti
    25 jan, 2024 Africa do sul 18:58
    Sou devota do padre cruz

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