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​Turismo religioso

Católicos de todo o mundo querem ir a Fátima, "nem que seja uma vez na vida"

05 jul, 2022 - 17:19 • Ana Carrilho

Visitar os santuários marianos da Europa, incluindo Fátima, pode ser a viagem de uma vida. Mais de uma centena de operadores internacionais de turismo religioso estiveram uma semana em Portugal e já começaram a preparar os circuitos, alguns especiais para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ2023).

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Foi a primeira vez que Rosemarie veio a Portugal e participou nos Workshops Internacionais de Turismo Religioso, organizados pela ACISO - Associação Empresarial de Ourém-Fátima, que se realizaram recentemente em Fátima e na Guarda. Mas a agência de viagens filipina que representa e que se dedica ao turismo religioso já esteve noutras edições deste evento. À Renascença mostra-se muito satisfeita com o ambiente e com os contactos que tem feito.

As Filipinas são um país católico, onde existe uma grande devoção a Nossa Senhora e muitos são os que querem fazer uma peregrinação pelos santuários marianos da Europa: França, Espanha, Polónia e, claro, Fátima, em Portugal.

Os circuitos podem ter até 16 dias e Rosemarie admite que não são baratos. “Mas a vontade de viajar é grande e Fátima está no topo da lista para os católicos. É uma viagem que muitos querem fazer, nem que seja uma vez na vida. E para isso, há quem faça economias durante vários anos”, diz à Renascença.

Essa é a ideia que o brasileiro Álvaro Munoz também passa. “Ir à Europa fica caro. A pessoa não vem só uma semana para Portugal; investe numa viagem de 20-30 dias para conhecer vários países e vários santuários. É preciso muito dinheiro, não é para qualquer um”.

Para ajudar, com a desvalorização do real, os brasileiros ainda se retraem nas saídas, apesar da vontade de viajar. Essa é uma das explicações que Álvaro encontra para o mercado turístico brasileiro para Portugal ainda não ter retomado como acontece com outros.

No entanto, não tem dúvidas que, “apesar do negócio ainda não ter atingido os níveis de 2019, o turismo religioso está a começar a aquecer”.

Os workshops e os encontros que promovem entre operadores, mas especialmente a troca de ideias para “fazer o turismo acontecer novamente” são, para Álvaro, uma mais-valia.

Também Franklin Kembuan fez uma longa viagem até Fátima com o objetivo de reatar a atividade da sua agência, depois da pandemia.

Veio da Indonésia, um país em que há uma ligação muito forte com a religião. Os católicos são uma minoria, mas são muitos os que têm como objetivo fazer uma peregrinação na Europa, a Fátima, Santiago de Compostela, Lourdes e também a Roma, ao Vaticano.

Um circuito de 12 dias, no mínimo, muito do agrado de pessoas mais velhas geralmente reformadas e que podem, mais facilmente, pagar a viagem. No entanto, Franklin diz que há cada vez mais jovens e famílias que gostam de fazer uma viagem de peregrinação.

O vietnamita Le Quoc Minh está entusiasmado. Revela à Renascença que planeia trazer um grupo a Fátima, em outubro ou novembro. Depois da pandemia, foi há pouco tempo que o Vietname abriu as fronteiras e já é mais fácil viajar para a Europa.

“Está tudo com muita vontade de sair, de fazer turismo. O problema, agora, são os bilhetes de avião: estão mais caros e ainda por cima, não conseguimos dar um valor certo aos nossos clientes porque está sempre a ser alterado.”

Para a viagem que está a planear, Minh diz que só em outubro é que as companhias aéreas lhe deverão dar os preços.

Inflação pode travar as viagens de turismo

A polaca Beata Kozakiewicz está bem mais perto, mas as queixas são as mesmas: os bilhetes de avião são muito caros e é difícil planear viagens.

“Normalmente, programamos de um ano para o outro e isso agora é impossível: não conseguimos fazer reservas com tanta antecedência e as próprias companhias exigem um depósito. Ora, ninguém vai pagar um depósito um ano antes, tanto mais que os clientes reservam cada vez mais em cima da hora.” À Renascença, revela que os programas são feitos na base do ”vamos ver o que acontece no próximo mês”.

Esta operadora turística, no ramo há quase 30 anos, refere ainda que mais do que a Covid-19 ou até a guerra, ali mesmo ao lado, na Ucrânia e que tanto impacto tem tido sobre a Polónia, é a situação económica no país e na Europa que se torna preocupante.

“Até as pessoas que têm algum dinheiro e que poderiam viajar preferem guardá-lo, com receio do que possa acontecer nos próximos meses.”

Os polacos gostam muito de viajar. A Turquia ou o Egito podem ser destinos de praia e descanso, mais baratos. O turismo cultural e religioso exige uma carteira mais “recheada” e, desse ponto de vista, Portugal torna-se um destino mais caro, embora menos que Espanha ou França.

“Mas os polacos amam Portugal e podem começar por vir em peregrinação em grupo, mas depois regressam, individualmente ou com a família para conhecer o país. E várias vezes”, diz Beata Kozakiewicz, que além de trabalhar no setor do turismo também é intérprete, sendo o português uma das suas línguas de trabalho.

Pandemia aprofundou a fé a procura de locais de espiritualidade

A Lituânia está “às portas da guerra” e Valerija Samoska, que veio a Portugal pela primeira vez para participar nos Workshops de Turismo Religioso, diz que este “nicho” se está a tornar cada vez mais importante no seu país.

“O turismo religioso até se está a tornar mais popular porque as pessoas, por vezes, não conseguem encontrar solução para os seus problemas e recorrem a estes sítios de fé muito fortes, que as ajudam a enfrentar as situações mais difíceis”, diz Valerija.

A lituana mostrou-se extremamente impressionada com as manifestações de fé e a participação nas celebrações a que tinha assistido no dia anterior, nomeadamente a procissão das velas, na Capelinha das Aparições.

O dinamarquês Klaus Prufer também se estreou neste evento organizado há dez anos pela ACISO.

“Tivemos uma pandemia, temos uma guerra na Ucrânia, a situação económica está a deixar muita gente em dificuldades. Mas na Dinamarca devemos estar felizes e agradecer por vivermos em liberdade e democracia e ter um modo de vida livre”, afirma à Renascença.

Foi através dos vinhos, de que era importador, que o turismo entrou na vida deste dinamarquês. Conta que, a determinada altura, os seus clientes mostraram interesse em conhecer os países e regiões de origem dos vinhos. Foi assim que klaus começou a vir Portugal.

Pelo menos uma vez por ano traz um grupo para fazer o circuito pelo Porto e Douro, Lisboa e Cascais. Mas ficou encantado com o pré-tour que fez pelo Alentejo e com Fátima e o Centro.

“Quero mostrar-lhes locais ainda desconhecidos na Dinamarca e Fátima é um local fantástico, um centro religioso muito importante, com gente muito simpática e acolhedora e uma região onde há bons hotéis, boa gastronomia e vinhos, paisagens espetaculares e muitos monumentos.”

Olhos postos na Jornada Mundial da Juventude

Falta pouco mais de um ano para a Jornada Mundial da Juventude, que vai decorrer em Lisboa e Loures, mas que terá impacto em todo o país.

Apesar dos tempos de incerteza e as dificuldades de planeamento de viagens, os operadores de turismo religioso vieram a Portugal também com o objetivo de levar o máximo de informação sobre a organização do evento.

Foi com muita satisfação que ouviram D. Américo Aguiar, presidente da Fundação JMJ2023, sublinhar que não há uma agência de viagens oficial da Jornada, todos poderão organizar os seus grupos e as suas viagens.

“Essa é uma informação muito útil porque a nossa perspetiva é trazer alguns milhares de jovens polacos”, diz Beata Kozakiewicz.

Apesar da preocupação com os voos, desdramatiza: “os jovens não precisam de aviões, vêm de autocarro, de comboio, de bicicleta, têm várias opções”.

Também a americana Marianne Seck está interessada na JMJ2023. Com grande entusiasmo, revela que os jovens têm uma grande curiosidade acerca de Portugal porque ouvem falar cada vez mais de um país bonito, com boas condições, “limpo” e com segurança.

“A JMJ vai ser o próximo pacote em que me vou empenhar, este encontro é maravilhoso e através da nossa agência podemos trazer muitos jovens dos Estados Unidos.”

Também os operadores das Filipinas, Brasil, Vietname e Indonésia manifestaram as suas grandes expetativas em relação ao encontro mundial, organizado pela Igreja Católica, mas que acolhe jovens de todas as religiões e de todo o mundo. Como acontece com todas as Jornadas, também nesta está prevista a presença do Papa. E D. Américo Aguiar frisou também a grande vontade que Francisco tem de ir a Fátima.

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