06 mai, 2022 - 11:57 • Ângela Roque
As suspeitas de abuso de poder e de abusos sexuais praticados pelo fundador do Movimento Apostólico de Shoenstatt levaram a diocese de Trier, na Alemanha, a interromper o processo de beatificação.
A decisão, que foi discutida com a Congregação para as Causas dos Santos, da Santa Sé, foi anunciada a 3 de maio. "As discussões dos últimos dois anos mostraram que há necessidade de uma investigação completa da pessoa e da obra de Josep Kentenich", informou o bispo Stephan Ackermann, reconhecendo que a decisão “é uma medida dolorosa para a família de Schoenstatt".
A notícia foi, no entanto, recebida com serenidade. “Estamos sintonizados com a decisão, porque nos interessa, como família de Schoenstatt, que tudo se esclareça, de uma vez por todas”, disse à Renascença Ana Sanches, que integra a presidência nacional do Movimento Apostólico de Shoenstatt em Portugal.
As suspeitas contra o padre Kentenich, que morreu em 1968, adensaram-se em 2020, quando a teóloga e historiadora Alexandra von Teuffenbach publicou uma investigação que revelou que o sacerdote agiu de forma manipuladora e coersiva com as freiras do Instituto Secular das Irmãs de Maria de Shoenstatt, e que os abusos foram também de natureza sexual.
Em março de 2021 soube-se que nos anos 90 um cidadão norte-americano apresentou igualmente uma acusação contra o padre Kentenich. Essa acusação foi averiguada pela diocese de Milwaukee, onde o sacerdote viveu, mas o bispo de Trier pediu agora a revisão do processo de acordo com “os critérios atuais em relação às situações de abuso”.
“Não posso continuar o processo de beatificação de uma pessoa contra a qual existem acusações que, no momento, não podem ser refutadas com segurança", afirmou Stephan Ackermann na entrevista de 3 maio, que já citámos. Mas acrescentou que “não se exclui a possibilidade” do processo vir a ser retomado, “se surgirem novos dados que respondam satisfatoriamente a todas as questões em aberto”.
O padre Josep Kentenich fundou o Movimento Apostólico de Schoenstatt na Alemanha, em 1914. Em 1951 foi para os Estados Unidos, e só foi autorizado a regressar à Alemanha em 1965. Morreu três anos mais tarde e o processo de beatificação começou em 1975.
O movimento de espiritualidade mariana - que inclui padres, mulheres consagradas e leigos - está presente em 42 países, incluindo Portugal. Schoenstatt, na diocese alemã de Trier, ainda é a sede principal do movimento.