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​Prisões. “Quer queiramos quer não, somos mais parecidos com eles do que podíamos pensar”

01 abr, 2022 - 18:00 • Liliana Monteiro

Obra “Amar os Presos?!... Inquietações e Contributos de um Visitador Prisional” relata a experiência de um visitador de prisões e é apresentada no XVII Encontro Nacional da Pastoral Penitenciária, que arrancou esta sexta feira, em Fátima ,e que junta até sábado assistentes espirituais e religiosos prisionais, colaboradores, voluntários e vários responsáveis pela Pastoral Penitenciária e Serviços Prisionais.

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Relatos de quem cumpre pena, o olhar de quem os visita, a tentativa de estímulo de uma sociedade que se quer mais ativa e solidária com o outro são algumas das linhas que se podem encontrar na obra “Amar os Presos?!... Inquietações e Contributos de um Visitador Prisional”.

Paulo Neves, visitador prisional, autor do livro, reuniu nela alguns momentos e mensagens que resultam de mais de uma década de visitas nos estabelecimentos prisionais da Guarda, Custóias (Feminina e Masculina) e prisão anexa à Polícia Judiciária do Porto. Pretende abrir um pouco mais as portas do sistema prisional e fazer o leitor mergulhar da experiência do que lá se vive e se sente.

Paulo Neves, explica, desde logo, qual a importância do amor, “pagar ódio com ódio gera mais ódio, podemos ver nas relações humanas e no dia a dia. O que pode gerar transformação é alguma atitude que passe pela misericórdia pelo amor e proximidade”.

Sabe que o mundo prisional assusta e não é atrativo, há por isso desafios. “Quer queiramos quer não, somos mais parecidos com eles do que podíamos pensar. Está longe de ser um assunto resolvido e há muito a fazer para que esta realidade (prisional) passe a ser uma preocupação de todos, seja ao nível laboral, de acolhimento ou comunidades paroquiais. Vai havendo experiências de vivências muito bonitas no contexto prisional que podem ajudar a fazer a diferença."

Sabe como ninguém que lá dentro, entre muros, há um turbilhão de emoções, reflexões, de caminhos que se procuram e se preparam. O que é importante cá fora difere do que se procura lá dentro. “O tempo da cadeia é um tempo vivido com muita intensidade psicológica, por isso não é um mero tempo cronológico riscado no calendário. Há uns tempos partilhei com o recluso que estávamos num mês de fevereiro com 29 dias. Dizia-lhe: este mês temos mais um dia! Ao que respondeu eu não tenho sorte nenhuma! Mais um dia na prisão!”, exemplifica.

Aos voluntários, diz, tem impressionado muito o silêncio das celebrações, “o tempo da atenção lá dentro é intenso, isso incomoda e inquieta alguns voluntários, há grandes momentos de introspeção e de encontro” e acrescenta “notamos que somos desejados e acolhidos e fazemos a diferença no momento da visita. Querem ser escutados, muitos quebraram laços com as famílias. Para eles faz toda a diferença”.

O desafio, considera Paulo Neves, “será cada um poder fazer a diferença na vida dos outros e eles podem fazer diferença na nossa vida, agora claro é um ambiente que assusta, causa repulsa, muros altos, não passa muito de lá para cá para fora. Apesar de todas estas dificuldades devemos pensar como podemos ir ao profundo de nós, enquanto seres humanos e ajudar estas situações de solidão, sofrimento humano e o desprezo que envolve estas pessoas. Essa será a pedra de toque muitas vezes para o nosso ser cristão”.

Esta é uma obra com Prefácio de Álvaro Laborinho Lúcio, Juiz jubilado do Supremo Tribunal de Justiça e antigo ministro da Justiça e com posfácio de Eugénio Fonseca, Antigo Presidente da Direção da Cáritas Portuguesa, e é “uma partilha de alguns testemunhos a par de tantos outros que estão nessas cadeias do país. Contributo para que estes assuntos sejam mais conhecidos pela sociedade e pela igreja, é um assunto marcado por muitos muros interiores”, diz o autor.

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