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Presidente da CEP admite inibição das vítimas de abusos perante comissões diocesanas

17 mar, 2022 - 21:05 • Lusa

José Ornelas, confrontado com o diminuto número de casos chegados às comissões diocesanas criadas há cerca de dois anos face aos mais de 200 casos reportados à Comissão Nacional Independente criada pela CEP, disse que isso poderá ter justificação "porque uma grande parte destas pessoas não querem declarar-se perante alguém que as conhece, no ambiente onde são conhecidas".

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O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa admitiu esta quinta-feira que o escasso número de casos de abuso sexual na Igreja denunciados às comissões diocesanas se deva ao facto de as vítimas estarem relutantes em "declarar-se perante alguém que as conhece".

José Ornelas, confrontado com o diminuto número de casos chegados às comissões diocesanas criadas há cerca de dois anos face aos mais de 200 casos reportados à Comissão Nacional Independente criada pela CEP e liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, disse que isso poderá ter justificação "porque uma grande parte destas pessoas não querem declarar-se perante alguém que as conhece, no ambiente onde são conhecidas. Querem de facto ser ouvidas, têm ânsia de ser ouvidas, mas têm a ânsia também de não ser manipuladas e grande parte não quer ser identificada".

Na sua primeira conferência de imprensa como bispo de Leiria-Fátima, o ex-bispo de Setúbal disse que a "comissão independente é para ir ao encontro dessas pessoas, porque o objetivo sempre foi dar dignidade, voz e, o mais possível, fazer justiça a estas pessoas que sofreram abusos".

"Queremos o mais possível dar a possibilidade também de recuperação, mas, antes de mais, escutar é a primeira coisa que esta gente quer e acho que com toda a razão", disse José Ornelas, justificando o "modelo que se criou, que toda a gente sabe que foi pedido pela Igreja, mas que tem pessoas que, pelo seu próprio perfil e história, dão credibilidade".

A estratégia "é ir ao encontro das pessoas e, portanto, o que interessa é criar um ambiente onde as pessoas possam sentir-se à vontade e também possam ter a ocasião de, não só perante si próprias e perante as instituições e a sociedade, dizer "eu estou aqui fui vítima de uma injustiça e antes de mais quero que me escutem"".

De qualquer forma, as comissões de proximidade, diocesanas, "são e vão continuar a ser necessárias", e têm, "antes de mais, a missão da formação, prevenção e trabalho com os responsáveis pelas instituições, com os pais, além do apoio às vítimas".

"O nosso objetivo é encontrar um ambiente de justiça, de compreensão e de ajuda que se possa dar para estas pessoas se libertarem e viverem com dignidade a sua vida", disse o bispo, adiantando que, quanto ao acesso da Comissão Independente aos arquivos diocesanos, "toda a gente quer fazer clareza sobre isto", mas ainda se está a trabalhar na metodologia do acesso.

"Não estamos aqui a esconder nada e queremos, toda a gente quer, fazer clareza" sobre isto, frisou, acrescentando: "Nós não estamos aqui a brincar. Nós tratamos de clarificar estas coisas. Não tenho medo dos números não me assustam. Tenho medo não tenho dentro das coisas que possam estar debaixo do tapete, pois caminhar num terreno minado é muito pior do que enfrentar as coisas como devem ser".

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