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Religiosa em Cabo Delgado denuncia “rapto sistemático de pessoas, mulheres e crianças”

09 fev, 2022 - 10:44 • Olímpia Mairos

A violência parece ter regressado a esta zona de moçambique após um período de relativa acalmia.

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A situação em Cabo Delgado, Moçambique, continua a preocupar a Igreja. A vila de Macomia, sede de distrito, “está sob uma tensão muito forte”. A denúncia chegou à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) através de uma religiosa em missão em Cabo Delgado que, por razões de segurança, pediu para não ser identificada.

A mensagem enviada no dia 7 de fevereiro dá conta de novos ataques e de uma nova onda de violência.

“Muitas aldeias dos arredores [de Macomia] foram atacadas”, contou a religiosa, acrescentando que “há o rapto sistemático de pessoas que se encontram nas aldeias e nas machambas, principalmente mulheres e mães com suas próprias crianças”.

A religiosa diz que “o problema está agora mais grave, porque pelo menos, no princípio deste absurdo conflito, as pessoas podiam sair e refugiar-se nas suas machambas ou em lugares escolhidos como sendo seguros. Agora, os insurgentes perseguem o povo até às machambas, são despojados dos bens alimentares para a subsistência e alguns são mortos de uma maneira cruel”.

Também Eduardo Paixão, missionário do Sagrado Coração, atual responsável pela área missionária de Meluco, na Diocese de Pemba, fala em recrudescimento de violência depois de um período de relativa acalmia durante o final do ano.

“Em 30 e 31 de dezembro, começaram os ataques à aldeia de Nangololo, de Imbada, e depois [a violência] foi-se alastrando durante a primeira semana do ano de 2022 pelas aldeias de Mariri, que é vizinha a Muària, e que tinha uma grande escola, a maior escola do distrito de Meluco…”, conta o sacerdote brasileiro à AIS.

Segundo o padre Eduardo Paixão, “a aldeia de Mariri foi atacada, queimaram casas, e na semana seguinte houve mais ataques nas aldeias em direção ao distrito de Meluco. Foram cinco aldeias ao todo naquele distrito”.

O missionário brasileiro fala de um clima de grande insegurança e, diz que, em consequência “o número de famílias em fuga tem estado a aumentar”.

“Esta semana, em Chiure, num dos acampamentos de deslocados, chegaram mais de 290 famílias”, detalha o sacerdote.

Nos últimos tempos há registo de ataques nos arredores da vila sede do distrito de Macomia. É o caso das aldeias Nova Zambézia, Nova Vida, Nkoe, Nanjaba, Imbada, Bangala 2, e Iba, situada nos limites entre os distritos de Macomia e Meluco.

De acordo com a AIS, desde que os ataques armados tiveram início, em outubro de 2017, já morreram mais de três mil pessoas e contabilizam-se cerca de 800 mil deslocados internos. Uma situação difícil que “tornou Moçambique num país prioritário para a Fundação AIS no continente africano, especialmente no que diz respeito ao apoio aos refugiados”.

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