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Cáritas Internacional prepara 70.º aniversário em tempo de "crises complexas e duradouras"

26 out, 2021 - 14:44 • Ângela Roque

Em entrevista ao Vatican News, o secretário-geral da organização católica fala dos desafios mais urgentes que enfrentam, em tempo de pandemia.

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A Cáritas Internacional foi criada a 12 de dezembro de 1951 pelo Papa Pio XII para dar resposta às necessidades humanitárias do pós-guerra e prestar assistência às vítimas do conflito. Começou por reunir 13 Cáritas nacionais, hoje junta 162, e em 70 anos alargou o campo de ação e as áreas de intervenção.

Esta segunda-feira foi anunciado o programa de eventos e iniciativas que irão marcar o 70º aniversário da Cáritas. Em entrevista ao Vatican News, o secretário-geral da organização, Aloysius John, fala dos desafios que enfrentam, a partir da crise humanitária global desencadeada pela pandemia.

A Caritas Internacional nasceu poucos anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Setenta anos depois da sua fundação, quais são os valores que a sustentam?

A Cáritas Internacional nasceu como "mão solícita e amorosa" da Igreja para servir e promover a pessoa humana, em particular os pobres, os marginalizados e os mais vulneráveis da sociedade. Nestes 70 anos, a nossa Confederação tem sido guiada por valores fundamentais como a proteção da dignidade humana, dos direitos fundamentais e da justiça social.

Esses valores sempre estiveram na base da nossa obra, que evoluiu ao longo dos anos acompanhando os sinais dos tempos e buscando um desenvolvimento constante para melhor servir os necessitados.

No centro da nossa missão está, e sempre estará, o encontro com os pobres, como também nos lembrou o Papa Francisco em 2019, por ocasião da nossa última Assembleia Geral. “Não se pode viver a caridade sem ter relações interpessoais com os pobres, porque convivendo com os pobres aprendemos a praticar a caridade com espírito de pobreza, aprendemos que caridade é partilhar”, disse o Papa.

Nestes 70 anos, a Cáritas esteve presente em todas as grandes emergências humanitárias. Qual é o maior desafio que enfrentam hoje num mundo marcado por transformações rápidas e profundas?

O trabalho humanitário mudou significativamente desde 1951 e hoje enfrentamos crises complexas e duradouras, tanto naturais quanto provocadas pelo homem.

Divisões políticas, guerras, conflitos religiosos misturam-se com os efeitos das mudanças climáticas e o consequente aumento dramático de deslocados internos. Também enfrentamos graves desigualdades e o surgimento de novas formas de pobreza e vulnerabilidade.

À medida que continuamos a servir e acompanhar as pessoas afetadas por esse sofrimento, enfrentamos o desafio de promover um sentimento de solidariedade para com elas na sociedade moderna. Por outro lado, o desafio mais urgente, diante do imenso sofrimento humano, é mobilizar os recursos necessários para cumprir nossa missão.

A Covid-19 também exerce pressão sobre as atividades caritativas e humanitárias. Como é que se estão a preparar para o pós-pandemia?

A crise sem precedentes fez com que quase todas as Cáritas do mundo se empenhassem na resposta à pandemia. Um sinal concreto de apoio e esperança veio do Santo Padre, que quis incluir a Cáritas Internacional na Comissão Vaticana Covid-19.

A pedido do Papa, e em colaboração com o Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, criámos um fundo que apoiou 40 projetos da Cáritas. Este gesto de solidariedade motivou outros atores locais a unirem-se à Caritas para oferecer apoio. No Bangladesh, por exemplo, alguns proprietários de restaurantes muçulmanos apoiaram a Caritas local doando alimentos para os refugiados.

A resposta imediata à emergência foi acompanhada pela reflexão sobre o amanhã. Instados pelo convite do Papa Francisco a "pensar no novo futuro" pós-pandemia, criámos um think tank e estamos a refletir sobre como o trabalho da Cáritas será influenciado pela nova realidade.

Em que é que a Cáritas Internacional se vai concentrar nos próximos anos? Há alguma campanha em particular?

Esta pandemia mostrou como, sem o cuidado da humanidade e da Criação, todos nos tornaremos cada vez mais vulneráveis. Hoje o mundo precisa, mais do que nunca, de uma conversão radical de corações e mentes e de uma reconciliação com a criação.

Realizando o nosso trabalho de caridade, estamos particularmente comprometidos em promover uma civilização de amor e cuidado pela humanidade e a nossa Casa Comum. É precisamente nestes pontos que se apoiará a nossa Campanha global, que lançaremos pelo nosso aniversário, e que se estenderá até 2024.

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