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​Sínodo dos bispos sobre sinodalidade

“Uma Igreja simplesmente hierárquica não vai funcionar”

08 out, 2021 - 13:55 • Ângela Roque

Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa acredita que o Sínodo que abre oficialmente este fim de semana, no Vaticano, vai ser transformador. “Isto tem de mudar as nossas instituições”, diz à Renascença D. José Ornelas, que apela à participação e envolvência dos cristãos, garantido que todos contam, e todos serão ouvidos.

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O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) garante que a iniciativa do Papa dedicar o próximo Sínodo dos Bispos à Sinodalidade foi muito bem recebida em Portugal, onde várias dioceses até já estavam a realizar os seus próprios Sínodos, respondendo ao que tem sido o desafio do Papa, para que a Igreja escute todas as vozes.

“O Papa está a dizer constantemente que não podemos ter uma Igreja a funcionar sem que seja uma Igreja participada por todos. Temos aqui agora uma possibilidade de refletir sobre o que é que significa ser Igreja”, afirma D. José Ornelas em entrevista à Renascença.

Para o também bispo de Setúbal, esta será uma oportunidade única para avançar com as mudanças de que a Igreja precisa, chegando a todos e contando com todos. “Isto tem de mudar as nossas instituições”, diz. Mas requer a envolvência de todos.

“Há a necessidade de repensar e de pôr em ação mecanismos de participação, de comunhão e de missão. E isto começa pelo bispo, vai pelos padres, mas tem de implicar todos os fiéis. Uma Igreja simplesmente hierárquica não vai funcionar”, refere, dando como exemplo a sua própria diocese, Setúbal. “Eu sou bispo, mas não sou eu só que penso, não sou eu só que rezo, que faço ligações e relações. Isto tem de ser feito e partilhado com todos os cristãos, porque se não, se for só eu e um grupinho à minha volta, empobrecemos a Igreja.”

Para que a Igreja faça caminho contando com todos, todos têm de participar e de se envolver no Sínodo, diz D. José Ornelas, que deixa um apelo nesse sentido.

“Isto não pode ser simplesmente deixado porque temos um padre, ele que pense nisso, ou temos alguns responsáveis dentro da comunidade, eles que pensem nisso, temos o bispo…. Não, não chega, nem assim se consegue fazer a Igreja que Deus espera e que o Espírito Santo está a sugerir hoje. É importante que cada um participe, que esteja bem atento, que diga, que fale, que se manifeste, que chegue e proponha aquilo que pensa sobre o que deve ser a sua comunidade paroquial, o seu movimento, os grupos em que participa. Nós temos, de facto, de construir juntos esta Igreja. Juntos”, sublinha.

O presidente da CEP lembra que o Sínodo proposto pelo Papa “é um processo, não é simplesmente a assembleia de bispos que terá lugar em 2023”. E diz que “é por isso que o Papa não quer os bispos todos no Vaticano. Como bispo de Roma, com a sua comunidade, vai abrir o Sínodo para a Igreja Universal, mas o importante é que dia 17 – ou quando for possível – cada bispo na sua diocese faça essa abertura”. E que depois todos participem nas iniciativas de auscultação que forem tomadas.

“É preciso que cada comunidade, cada paróquia, cada movimento, cada congregação religiosa, cada diocese, entrem em processo de Sínodo, isto é, chamem os seus cristãos a uma verdadeira participação e comunhão, digam ‘esta é a minha Igreja’. E que aqueles que têm mais responsabilidade na Igreja se ponham em espírito sinodal”. E volta a dar como exemplo Setúbal, onde como bispo irá presidir à Eucaristia de abertura, mas depois “cada pároco, em cada paróquia, vai abrir o processo sinodal dentro da sua comunidade”.

O processo chegará também à Conferência Episcopal. “Esta primeira parte passa-se nas dioceses, depois a CEP vai fazer uma síntese do trabalho feito nas várias dioceses, vai refletir, e colocar estes pontos à reflexão e à transformação de todos. Porque isto não acaba nesta fase. O próprio funcionamento da CEP deve ser questionado, repensado, à luz daquilo que o Espírito Santo está a dizer à Igreja”, diz.

Noutra fase vai passar-se “para um nível continental”, que também considera importante. “Ainda há duas semanas estive em Roma, na reunião das conferências episcopais da Europa, e é evidente que também temos de pensar o que é que significa a sinodalidade a nível europeu, ao nível da Igreja. Já temos experiências bem conseguidas, mas certamente que hoje o mundo e a Igreja, particularmente na Europa, têm de cada vez mais caminhar juntos”.

O presidente da CEP lembra que a metodologia proposta não é inédita, também para o Sínodo dedicado aos Jovens houve um processo de auscultação prévio. “Tivemos um ano de consulta, com centenas de milhar de jovens do mundo inteiro a responderem a um inquérito e a manifestarem as suas expectativas. Aqui em Setúbal foram muitos, e foi com base no que disseram que se fez o projeto de pastoral juvenil da diocese”, lembra. É esse interesse e participação que espera agora, de novo, dos cristãos em Portugal.

Depois da abertura do Sínodo, este fim de semana, para a Igreja universal e para a Diocese de Roma, o processo sinodal vai prosseguir em cada uma das dioceses de todo o mundo a partir de 17 de outubro. Em Portugal a maioria das dioceses marcará o arranque do processo nesse dia, com encontros de reflexão e eucaristias. No Patriarcado de Lisboa a fase diocesana vai iniciar-se apenas dia 25, na celebração da dedicação da Sé Catedral.

O caminho sinodal culminará daqui a dois anos, em outubro de 2023, com a assembleia geral do Sínodo dos Bispos, no Vaticano.

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