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Caminho de Santiago

Jacobeu Minhoto “não é apenas um conta quilómetros, é uma vivência de fé”

07 set, 2021 - 21:59 • Bruna Sousa

Arquidiocese de Braga diz ser necessário retomar a essência da peregrinação e pretende criar um espaço de acolhimento de peregrinos na Sé Catedral de Braga.

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A arquidiocese de Braga anunciou esta terça-feira a intenção de criar um espaço de acolhimento para os peregrinos do Caminho de Santiago na Sé Catedral.

A novidade foi avançada pelo deão da Catedral de Braga na apresentação da Conferência sobre o Caminho Jacobeu Minhoto Ribeiro, marcada para 17 de setembro, Espaço Vita.

“A conferência servirá para falar, em concreto, sobre o Caminho Jacobeu Minhoto Ribeiro, mas será, também, para alargar um bocadinho o horizonte e repescarmos um tema que é muito querido a muita gente, que são os Caminhos de Santiago - o porquê desses caminhos e o que é que faz com que tanta gente se faça à estrada”, explicou o cónego José Paulo Abreu.

Trata-se de uma “tentativa de sensibilizarmos toda a gente para a existência desta realidade, mas, sobretudo, para o que esta realidade tem de desafio para nós”.

“Sem mais, uma motivação desportiva, é um patamar básico para quem se põe a dar cordas às sapatilhas. Pode ser turística, uma viagem que nos faz correr aldeias, povoados e monumentos. Mas também pode ser por uma questão de espiritualidade - uma espiritualidade que tem a ver com cada um encontrar-se a si próprio, criar momentos de silêncio, momentos de contemplação, que serenam e pacificam o espírito, ou uma vivência peregrina, uma caminhada de rumo ao transcendente”.

Frisou que a Sé Catedral de Braga se situa, preferencialmente, nesta última dimensão. “A nossa principal preocupação é que os crentes possam ter esta marca do transcendente no caminho que estão a fazer, que eles percebam que isto não é apenas um conta quilómetros, mas sim uma vivência de fé”.

O mesmo sublinhou o Padre Carlos Vaz, membro do Conselho Presbiteral de Braga. “Costuma dizer-se que há tantos caminhos como peregrinos. Se alguém que percorre os trilhos é turigrino, pode acontecer que acabe como verdadeiro peregrino”.

Dimensão evangelizadora do turismo

O representante da Pastoral do Turismo da Arquidiocese de Braga, Varico Pereira, voltou a referir que os Caminhos de Santiago são, mais do que nunca, um fenómeno turístico. “Em todo o lado, aparecem como um produto turístico e cultural, que é vendido e que tem uma máquina de marketing muito forte, que o transforma numa marca muito valiosa”.

Contudo, assumiu que “a Pastoral do Turismo está na posição de promover um caminho que também pode ser evangelizador. Evangelizador, desde logo, através do acolhimento que se pode fazer”.

“Já não é tempo da Catedral ter um espaço de acolhimento dos peregrinos?”

Por fim, Varico Pereira perguntou se “já não é tempo da Catedral ter aqui um espaço de acolhimento dos peregrinos? Desse acolhimento que não passa só por disponibilizar uma credencial, que não passa só por disponibilizar informação? Que passa, essencialmente, por ter um espaço para acolher e confessar esses peregrinos?”

O deão da Catedral de Braga respondeu, referindo que o Cabido havia já destinado uma capela para os peregrinos de Santiago. No entanto, o pedido foi recusado. “Nós somos um monumento nacional, o que se faz aqui dentro não depende de nós, estamos sempre sujeitos à tutela da Direção Regional de Cultura do Norte. Já, há muito, que temos pedido esta capela de Santiago, mas não conseguimos que respeitassem a nossa vontade”.

Apresentam agora uma nova proposta, a transformação da Capela de São Geraldo num local de acolhimento de peregrinos. O cónego José Paulo Abreu realçou que era importante ter um espaço em que as pessoas se pudessem sentar antes de partir, rezar e obter informações logísticas. “Este tutti frutti que alimentaria a sacola do que parte e a alma do que vai caminhar”.

Vinho, águas termais e natureza

O historiador Cástor Pérez Casal garantiu que a investigação em torno do Caminho Jacobeu Minhoto Ribeiro ocorreu um pouco por acaso. Conheceu a história do Caminho e sabia que queria fazer algo pelo concelho onde trabalhava.

Apesar do seu trabalho, assumiu-se como apenas um peão neste amplo projeto. No entanto, alegra-o saber que, enquanto investigador, redescobriu e ressuscitou um caminho de peregrinos e, enquanto crente, que ajuda a renascer a dimensão espiritual.

“Apesar de ter o compromisso institucional e civil, como pessoa crente, foi importante recuperar a dimensão religiosa. Independentemente das outras dimensões, não há que esquecer que o Caminho de Santiago é um caminho espiritual”, enfatizou.

Explicou, ainda, que as três grandes dimensões do Caminho Jacobeu Minhoto Ribeiro são o vinho, as águas termais e a natureza. Para além disso, sublinhou que o nome dado ao percurso responde-se a si mesmo.

“O caminho, curiosamente, está ligado ao Minho, a tudo o que representa o Minho... O próprio rio Minho servia de guia para os peregrinos”. Além disso, “também está muito ligado ao vinho. Todos conhecem a máxima: ‘com pão e vinho, anda-se caminho’”. No fundo, o vinho ribeiro e a lavradora vinícola eram o sustento das muitas pessoas que percorriam aqueles caminhos.

O padre Carlos Vaz aproveitou para acrescentar que, além deste Caminho partir de Braga, “também o Caminho Português é chamado de Caminho Bracarense”. Para além disso, só em Braga existem seis paróquias do arciprestado que têm como patrono Santiago. A primeira delas é a paróquia da Sé e seguem-se a paróquia da Cividade, de Fraião, Esporões, Priscos e Santa Lucrécia.

O mesmo se verifica se olharmos para Vila Verde, Ponte da Barca, Arcos de Valdevez, Monção e Melgaço. Para Carlos Vaz, a influência e o culto que Santiago tinha em Braga “dá-nos o que pensar e sustenta ainda mais o caminho”.

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