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Abusos sexuais

Ex-cardeal McCarrick declara-se inocente da acusação de abuso de menores

03 set, 2021 - 19:55 • Filipe d'Avillez

Caso seja condenado, o homem que chegou a ser um dos mais influentes da Igreja americana pode passar o resto dos seus dias atrás das grades.

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O ex-cardeal Theodore McCarrick declarou-se inocente, esta sexta-feira, da acusação de abuso sexual de menores, num tribunal no Massachussets, Estados Unidos.

A acusação de que é alvo nesta circunstância é de ter assediado e abusado sexualmente de um rapaz de 16 anos, em 1974. O rapaz – agora homem – não foi identificado, mas descreveu pormenorizadamente os incidentes, dizendo que um dos abusos de que foi alvo ocorreu no casamento do irmão e que depois o então sacerdote lhe terá dito para recitar orações para se livrar dos seus pecados.

Agora com 91 anos Theodore McCarrick chegou a ser um dos clérigos mais influentes da Igreja Católica nos Estados Unidos. Foi arcebispo de Washington, uma das principais figuras da Conferência Episcopal e muito próximo de Presidentes e até de Papas. Ironicamente, McCarrick foi um dos principais redatores das regras adotadas pelos bispos americanos para lidar com casos suspeitos de abusos sexuais de menores.

Foi em 2017 que veio a público a primeira alegação de que o então cardeal tinha abusado sexualmente de um menor. Essa acabaria por ser a primeira de uma torrente de alegações que incluíam mais casos de abuso de menores e ainda a existência de uma rede de jovens padres e seminaristas que McCarrick recrutava e com quem mantinha relações sexuais.

Soube-se então que durante o pontificado de Bento XVI já tinham sido dadas ordens verbais para que McCarrick se mantivesse afastado da vida pública, numa altura em que ainda se pensava que os seus comportamentos impróprios se limitavam a relações consensuais entre adultos, mas sem registo escrito oficial dessas indicações o prelado acabou por voltar a assumir posições de destaque durante o pontificado de Francisco.

Numa das poucas declarações públicas que fez antes de se remeter ao silêncio, McCarrick disse não ter qualquer memória de ter cometido os atos de que estava a ser acusado.

Depois do escândalo a Igreja elaborou um relatório para tentar averiguar o que tinha corrido mal na supervisão do caso de McCarrick e num processo interno expulsou-o primeiro do Colégio dos Cardeais e depois do sacerdócio em si, proibindo-o de exercer qualquer ministério ou de se identificar como padre católico.

O caso reabriu a crise dos abusos sexuais na Igreja americana, levando vários estados a suspender os prazos de prescrição para crimes desta natureza, o que espoletou uma nova vaga de processos contra as dioceses.

O relatório do Vaticano acabou por indicar que João Paulo II já tinha sido informado dos comportamentos de McCarrick, mas que não agiu de forma suficientemente firme perante as suspeitas.

Caso seja condenado por uma das várias acusações pelas quais responde agora na justiça civil, McCarrick, que se apresenta com saúde frágil poderá vir a morrer atrás das grades. Por enquanto está em liberdade, mediante o pagamento de fiança.

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