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Papa desafia à rejeição do “fanatismo” e ao anúncio da “libertação”

29 jun, 2021 - 11:43 • Aura Miguel

Francisco considera que “só uma Igreja liberta é uma Igreja credível” e que, a necessidade de libertação é para todos.

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Pedro e Paulo são “duas colunas angulares da Igreja”, mas “no centro da sua história, não está a própria destreza, mas o encontro com Cristo que lhes mudou a vida”, disse o Papa esta manhã, explicando que os dois apóstolos “fizeram a experiência de um amor que os curou e libertou e, por isso, tornaram-se apóstolos e ministros de libertação para os outros”.

Na missa solene que celebrou na Basílica de São Pedro, em honra dos apóstolos Pedro e Paulo, o Santo Padre comparou as dificuldades que, na sua época, aqueles dois apóstolos viveram com os tempos atuais na vida da Igreja.

Pedro, foi libertado "do medo, dos cálculos baseados apenas nas seguranças humanas, das preocupações mundanas”, porque Cristo infundiu nele “a coragem de arriscar tudo e a alegria de se sentir pescador de homens”. E Paulo “foi libertado daquele zelo religioso que o tornara fanático na defesa das tradições”, porque “era um fundamentalista”.

Francisco considera que “só uma Igreja liberta é uma Igreja credível” e que, a necessidade de libertação é para todos.

“Como Pedro, somos chamados a ser libertos da sensação da derrota face à nossa pesca por vezes malsucedida; a ser libertos do medo que nos paralisa e torna medrosos, fechando-nos nas nossas seguranças e tirando-nos a coragem da profecia”, disse o Papa. E acrescentou: “Como Paulo, somos chamados a ser libertos das hipocrisias da exterioridade; libertos da tentação de nos impormos com a força do mundo, em vez da debilidade que deixa espaço a Deus; libertos duma observância religiosa que nos torna rígidos e inflexíveis; libertos de vínculos ambíguos com o poder e do medo de ser incompreendidos e atacados”.

No final da homilia, o Papa saudou a delegação do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla, enviada pelo Patriarca Bartolomeu: "a vossa amável presença é um sinal precioso de unidade no caminho de libertação das distâncias que, escandalosamente, dividem os crentes em Cristo", afirmou.

A marcar a celebração esteve, ainda, a entrega de pálios - uma insígnia feita com a lã de dois cordeiros brancos e simboliza o Bom Pastor, que carrega nos ombros o cordeiro até dar a sua própria vida pelo rebanho - a 34 novos arcebispos metropolitas.

O pálio é envergado pelos arcebispos metropolitas nas suas dioceses e nas da sua província eclesiástica, sistema administrativo que remonta à divisão civil do Império Romano, depois da paz de Constantino (313); em Portugal há três províncias eclesiásticas: Braga, Lisboa e Évora.

“Muitos criticam e debatem, mas poucos testemunham”

Durante o Angelus, Francisco lamentou que, dentro da Igreja, fala-se muito mas, na prática, não se faz nada. “É triste ver que muitos falam, comentam e debatem, mas poucos testemunham”, afirmou.

“As testemunhas não se perdem em palavras, mas dão frutos. Não se lamentam dos outros e do mundo, mas começam por si mesmos. Lembram-nos que Deus não deve ser demonstrado, mas mostrado com o próprio testemunho, não anunciado com proclamações, mas testemunhado pelo exemplo”, explicou Francisco.

O Papa sublinhou ainda que, “olhando para as vidas de Pedro e Paulo, pode surgir uma objeção, porque ambos foram testemunhas, mas nem sempre exemplares, foram pecadores: Pedro negou Jesus e Paulo perseguiu os cristãos”. E acrescentou: “Mas - este é o ponto - eles também testemunharam as suas quedas. São Pedro, por exemplo, podia ter dito aos evangelistas: ‘Não escrevam os erros que cometi, façam um Evangelho mais ligeiro’. Mas não, a sua história sai nua e crua nos Evangelhos, com todas as suas misérias. O mesmo faz São Paulo, que nas suas cartas conta erros e fraquezas”.

Francisco concluiu que a verdadeira testemunha “parte sempre da verdade sobre si mesmo, da luta contra o próprio dualismo e falsidade” e que o Senhor “pode fazer grandes coisas através de nós quando não nos importamos em defender nossa imagem, mas somos transparentes com Ele e com os outros”.

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