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Crise pandémica

Paróquias do Porto prestes a esgotar capacidade solidária. “Estado tem de responder”

21 dez, 2020 - 12:03 • Henrique Cunha

“Este tempo de império Covid levou a fome a muitos lares", afirmam os párocos da cidade, que pedem mais ação do Governo e da sociedade civil.

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As paróquias da cidade do Porto estão à beira de esgotar a capacidade solidária e apelam "ao Estado que responda ao problema do desemprego". Os párocos da cidade "decidiram dar a conhecer a sua preocupação ao verificarem que este tempo de império Covid levou a fome a muitos lares".

“Vão-se esgotando as capacidades de as paróquias acudirem a tantas situações de emergência", referem.

Entre março e dezembro, 16 paróquias da cidade doaram mais de 660 mil euros para ajudar "a travar a fome", mas, de acordo com o padre Fernando Milheiro, pároco de Campanhã e vigário de Porto Nascente, "verificamos que não é possível ir muito mais além”.

“E também verificamos que os pobres não podem ir muito mais além", acrescenta. Isto é “os pobres são aqueles que se colocaram numa situação em que eles próprios não podem resolver os seus problemas", daí o apelo ao Estado "para que cuide do emprego" e à sociedade civil, "para que colabore no apoio aos que, de repente, se tornaram pobres ou caíram em situação de desemprego".

O "Governo tem ido pelo lado do subsídio e de algumas isenções", diz o padre Milheiro, defendendo que "também é preciso ir pelo outro lado, porque o trabalho é a forma de cada um contribuir para o bem da sociedade”.

“Portanto, a todos devia ser garantido o trabalho. Garantido e até exigido, para que contribua para o bem da sociedade", sublinha.

No entanto, o sacerdote sublinha que “a forma de organizar o trabalho, isso já não é da nossa responsabilidade indicar. São deveres de o Estado organizar o trabalho das pessoas, de modo a que todos contribuam para o bem da sociedade. E que não haja uma parte de gente mais ou menos marginal que viva dependente e sem possibilidades de ultrapassar essa sua maneira de viver".

“Quando nós falamos também da responsabilidade da sociedade civil é exatamente para isso. É que se desenvolvam as relações de vizinhança de modo que não haja ninguém que fique assim absolutamente arrumado para o lado. Nós fazemos sempre apelo para que as famílias cuidem e se preocupem com aqueles que estão a seu lado e por isso nós temos formas de chegar a cada um. Não chegaremos a toda a parte, claro que não”, sublinha.

Os sacerdotes revelam que foi “através de uma sondagem que 16 das 26 paróquias do Porto disseram o que têm dado, desde março a dezembro” e que partilham essa informação “sem ares de reivindicação nem de protagonismo, mas no sentido de ver colocada na agenda pública a realidade da fome que está a chegar a muitos pelo desemprego, doença e outras causas”.

“Estas 16 paróquias da cidade do Porto já doaram mais de 664.907 euros para travar a fome e noutros apoios sociais”, aponta.

“Em cabazes e alimentos (respostas sociais não institucionais) os organismos, grupos e movimentos paroquiais gastaram 81.330€, tendo beneficiado 942 famílias, o que representa 2.558 pessoas. O apoio em medicamentos, farmácia, rendas de casa, faturas de eletricidade e água, alojamento foi de mais de 63.532€; e as refeições oferecidas nas paróquias ou fora representam 506.543€”, revelam as paróquias.

Os apoios dados pelas paróquias atingem todo o tipo de pessoas: “crianças, idosos e adultos, pessoas com deficiência, jovens e gente em situação de sem-abrigo”.

Os párocos concluem que “parece urgente que se reforcem as respostas e seja definido um programa integrado de apoio nesta que é a maior crise das últimas décadas”.

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