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"Igualdade não significa uniformidade", diz Cardeal Patriarca sobre manifesto pela "liberdade de educação"

03 set, 2020 - 23:08 • Redação com Lusa

D. Manuel Clemente, subscritor do manifesto pelo direito dos pais a invocarem objeção de consciência às aulas de Educação para a Cidadania e o Desenvolvimento, diz que diferenças culturais "têm de estar presentes na escola e não podem iludir a prevalência dos pais na formação dos filhos".

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O Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, defendeu esta quinta-feira que "igualdade não significa uniformidade", ao explicar os motivos que o levaram a subscrever um manifesto pela "liberdade de educação" nas escolas, no qual quase uma centena de personalidades portuguesas pedem que seja respeitada a objeção de consciência dos pais às aulas de Educação para a Cidadania e o Desenvolvimento.

"É muito importante na resposta educativa, sobretudo no que diz respeito à formação humana, que haja um contributo das famílias", algo que, destaca D. Manuel Clemente, está previsto "quer na declaração universal dos Direitos Humanos, quer na Constituição da República Portuguesa".

"Os pais são os primeiros responsáveis pela formação dos seus filhos e das suas filhas, enquanto são menores. E por isso é muito importante esta presença dos pais, enfim, do projeto familiar dentro do projeto da escola. Que não haja aqui contradição, mas complemento."

As declarações foram proferidas à margem da apresentação do livro "Aprender a Ser Cigano Hoje", de Mirna Montenegro (Editorial Cáritas), na Feira do Livro de Lisboa - que, nas palavras do cardeal, permitiu uma "oportuna reflexão sobre a comunidade cigana em Portugal".

D. Manuel Clemente traça paralelismos entre a situação da comunidade cigana, "que sendo uma comunidade que coexiste connosco há meio milénio, ainda é muito pouco percebida", e o direito dos pais e encarregados de educação a invocarem objeção de consciência para que os filhos não frequentem a disciplina de Educação para a Cidadania e o Desenvolvimento.

"Como disse em relação à comunidade cigana e à presença das famílias ciganas nas comunidades escolares – porque se trata de uma cultura própria – digo em geral em relação a tantas outras culturas, porque em ambiente de pluralismo nós não temos todos exatamente as mesmas ideias acerca das coisas. Por exemplo, no caso da comunidade cigana mas não só, o facto de se acentuar a identidade feminina e a identidade masculina, os papéis tradicionais, etc, tem de ser tido em conta, porque isso não é necessariamente contrário à igualdade de base. Igualdade não significa uniformidade. Estas e outras questões, que são culturais e que têm muita prevalência na formação humana das pessoas, têm de estar presentes na escola e não podem iludir a prevalência dos pais na formação dos filhos – conforme é reconhecido, repito, por tratados internacionais e nacionais."

Questionado sobre se o direito à objeção de consciência tendo em conta que a disciplina é obrigatória, o Cardeal Patiarca de Lisboa diz que, "quando a contradição for absoluta, então com certeza".

"É para isso que existe objeção de consciência, em relação a esse ponto como em relação a outros pontos em que, enfim, alguma instituição ou alguma forma social nos queira impor algo que vai contra os princípios básicos que nos alimentam."

Comentários
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  • Augusto
    07 set, 2020 Lsboa 13:30
    Uniformidade era o que existia durante a DITADURA, e a Igreja Catolica pouco ou nada protestou.
  • Desabafo Assim
    07 set, 2020 12:34
    Justiça, quem deve ser penalizado, arcar com a pena, o soldado que pisa a fronteira ou o comandante que o ordenou? Neste caso não existe dúvidas, é disciplina militar, funcional, no patamar cívico a quem deve obediência, um menor, ao pai ou ao estado? Pouco me interessa desenvolvimentos do caso só quero salientar que se trata de um caso atípico, a instituição foi completamente apanhada de surpresa, a hierarquia não poderia ir contra a força de lei, uma embrulhada, as leis são todas para serem cumpridas com rigor, aos taxistas e policias não é exigido o uso de cinto de segurança nas localidades, ponto assente, quer se ache justo ou injusto, não pode ser consentida a insubordinação, assentamos nisso, leis definidas por nós mesmos em comunidade. Naturalmente que insubordinações não devem ser premiadas mas para esses casos atípicos temos juízes para apurar responsáveis e inocentar quem deve ser inocentado.
  • Anónimo
    04 set, 2020 19:42
    Pena é que não houvesse destas indignações quando eu era criança porque assim alegava objecção de consciência para não ir a aula nenhuma do que quer que fosse...

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