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Luta contra o racismo. “Igreja tem um contributo decisivo anunciando a reconciliação"

16 jun, 2020 - 19:40 • Henrique Cunha

Em declarações à Renascença, o teólogo Jorge Cunha defende que não se consegue combater o racismo "através do programa da força", mas de “modificação da pessoa”.

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"A Igreja tem um contributo decisivo a dar" na discussão de fenómenos como o do racismo, afirma Jorge Cunha, professor na Faculdade de Teologia da Universidade Católica, doutorado em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade Gregoriana.

Ouvido pela Renascença, o sacerdote da Diocese do Porto diz que a Igreja tem o dever de proclamar "a boa nova da reconciliação".

Jorge Cunha adianta que não se consegue combater o racismo "através do programa da força", mas de “modificação da pessoa”.

"A única maneira que há para livrar o mundo do mal, para livrar as pessoas das afetações irregulares que têm, como é o racismo, necessita de um programa que não é só o programa da força. É o programa da modificação da pessoa”, refere o sacerdote, para esclarecer a seguir que “a pessoa só se modifica por um processo de conversão”.

“Sem esse processo de conversão a pessoa pode fazer muitos movimentos, muita ação, pode apelar, mas o resultado é ineficaz”, garante o professor da Universidade Católica.

Para o sacerdote, “ninguém muda a sua cabeça racista que não seja arrependendo-se, convertendo-se, mudando a sua cabeça”. E aqui a “Igreja tem um contributo muito grande e decisivo a dar, anunciando a boa nova da reconciliação, da reconciliação sacramental e da reconciliação que ajuda a curar as relações humanas para um processo de superação da violência, da opressão”.

Dito por outras palavras, “em sentido teológico, falta um processo de reconciliação, pois apenas por aí se pode moralizar o mundo. É devido à falta desta sequência que os movimentos cívicos que percorrem o mundo em busca da superação do racismo, do colonialismo e da escravatura são ineficazes”, sustenta.

“Aquilo que a Teologia chama ‘reconciliação’ é feito da aceitação prévia de que o mundo moralizado existe por uma dádiva divina e não pela força ilusória de um movimento, mesmo maioritário”, reforça o teólogo.

O professor de Moral da Faculdade de Teologia da Universidade Católica manifesta, por outro lado, a sua discordância pela forma como têm decorrido as manifestações contra o racismo.

"Nós devemos dizer às pessoas: muito bem os vossos ideais não são errados - a ideia da superação e da luta contra o racismo não está errada - o nosso problema está no método”, adianta Jorge Cunha, lembrando que é “aí que entra a mensagem do Evangelho, a mensagem da Igreja e o apelo à reconciliação porque nós podemos facilmente lutar contra uma coisa que só está na nossa cabeça, mas através do nosso ego nós não mudamos o mundo”.

“O mundo só se muda quando se religa à sua realidade, à sua verdade, à sua origem. Não se muda com atos de vontade e nós dizemos modestamente que a realidade vem de Deus, sejam quais forem as suas diferenças, as suas qualidades”, acrescenta.

O teólogo garante que “nós não mudamos o mundo” e assegura que “não podemos tentar intervir sobre o passado, pois isso é um delírio”.

“Apenas a conversão e a reconciliação são caminhos eficazes para superação do mal. É isso que a Igreja proclama e que tem uma importância civilizacional insubstituível”, remata o professor de catedrático na Faculdade de Teologia da Universidade Católica.

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