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Arcebispo de Évora

Por um bem maior, "este ano não se vai comer o borrego ao campo"

09 abr, 2020 - 11:59 • Ângela Roque

D. Francisco Senra Coelho pede que se cumpram as regras de isolamento, mas que isso não impeça que se vá olhando pelos familiares e amigos. Em entrevista à Renascença elogia a colaboração com as autoridades locais no combate à pandemia, e fala das tradições na diocese, que este ano terão de ser vividas de maneira diferente.

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Natural de Moçambique, mas minhoto de origem, o arcebispo de Évora conhece bem as tradições da região onde foi ordenado e serviu como padre. Percebe, por isso, o desgosto de quem este ano não pode ir passar a Páscoa à terra natal.

“Quero manifestar a minha solidariedade e abraçar cada família alentejana, porque custa não poder fazer as visitas normais. Este ano não se vai ao campo comer o borrego na segunda-feira de Páscoa, a nossa tradição tão encantadoramente ligada à natureza, tão ecológica. Sinto e compartilho esta limitação, mas percebo que é por um bem maior”, diz à Renascença.

Para bem de todos, D. Francisco Senra Coelho pede que se cumpram as regras de isolamento, mas que isso não impeça que se vá olhando pelos familiares e amigos que estejam mais sozinhos. “É preciso manter uma atenção muito grande à comunicação com os avós, com os bisavós, através do telefone, do WhatsApp. Porque hoje é possível, pela internet, fazermos reuniões familiares.”

Fazer-se próximo tem, de resto, sido a preocupação do próprio arcebispo de Évora. “Estou em casa, mas ativo e atento às necessidades da diocese, que é a mais extensa do país - com 150 paróquias - e abrange seis concelhos de Portalegre, dois de Santarém e um de Setúbal”, lembra. Para além de acompanhar a situação nos centros sociais paroquiais, misericórdias e fundações, tem contactado com os padres e comunidades religiosas.

“Tenho ligado aos sacerdotes, sobretudo aos mais idosos, porque temos padres que às vezes estão distantes do colega mais próximo 30 ou 40 quilómetros. Também estou a tentar telefonar a todos os que serviram a diocese, alguns durante mais de 50 anos, e que já estão nas suas reformas, muitos no norte de Portugal. Estes dias agora da Semana Santa são dedicados exatamente a isso”, sublinha o arcebispo, que já dedicou três cartas de reflexão espiritual e pastoral aos sacerdotes, aos religiosos e aos diáconos permanentes da diocese.

“Há muito empreendedorismo pastoral”

A suspensão das celebrações comunitárias não tem impedido a Igreja de comunicar com os seus fiéis.

“Tenho incentivado os padres a fazerem a celebração acontecer nas igrejas, mesmo sem povo, e a usarem os meios digitais para a transmitir”, diz D. Francisco Senra Coelho, sublinhando que “foi muito boa a resposta a este nível. Tem havido muita criatividade e empreendedorismo pastoral, que me alegra muito e que as pessoas reconhecem, porque vão enviando muitas mensagens a agradecer esta presença dos párocos junto delas”, refere.

O arcebispo elogia, também, a cooperação que tem existido com as autoridades locais de saúde e segurança. “Foram disponibilizadas duas estruturas militares, em Vendas Novas e em Extremoz, e tem havido um grande trabalho da GNR junto dos idosos que vivem mais sós e abandonados em áreas mais distantes, nos montes”.

A diocese também colocou à disposição várias estruturas. “É o caso do seminário maior de Évora e do seminário de São José de Vila Viçosa. São 25 quartos para os funcionários da saúde, médicos e enfermeiros, aqui no seminário maior, os restantes para os idosos. O de Vila Viçosa é totalmente para os idosos. Graças a Deus temos tido um trabalho de cooperação muito profíquo”, afirma o arcebispo, que faz questão de deixar uma mensagem de esperança. “Isto vai passar, se Deus quiser. Vamos fazer este sacrifício, viver estes momentos de privação, porque o bem maior merece, de facto, esta renúncia”.

Portugal registou até agora 380 mortes associadas à covid-19 e 13.141 infetados, segundo o último boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS).

Os primeiros casos conhecidos em Portugal surgiram há pouco mais de um mês e em meados de março o Governo mandou encerrar todas as escolas do país. Dias depois, 19 de março, decretou o Estado de Emergência, que já foi prorrogado por mais 15 dias.

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