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Planeta é frágil como “uma flor de cerejeira”, diz Papa aos japoneses

25 nov, 2019 - 10:12 • Aura Miguel , Filipe d'Avillez

Num encontro com as autoridades civis do Japão, Francisco recordou que o nível de civilização de um povo mede-se pela atenção que dedica aos outros.

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Papa Francisco apela ao fim do uso de armas nucleares
Papa Francisco apela ao fim do uso de armas nucleares

O Papa Francisco recordou esta segunda-feira no Japão a importância de cuidar do planeta, evocando a imagem tradicional japonesa das cerejeiras em flor para transmitir a ideia da fragilidade da Terra.

Num discurso proferido diante do primeiro-ministro Shinzo Abe e das autoridades civis do país, Francisco referiu que a beleza natural do Japão já era assunto entre os cristãos desde 1579, quando o jesuíta Alexandre Valignano escreveu que “Quem quiser ver aquilo que Nosso Senhor deu ao homem, basta vir ao Japão para o contemplar”.

Esta beleza não pode, contudo, ser vista como um dado adquirido. “Nenhum visitante do Japão pode deixar de admirar a beleza natural deste país, celebrada ao longo dos séculos pelos seus poetas e artistas e simbolizada sobretudo pela imagem das cerejeiras em flor. No entanto, a delicadeza da flor de cerejeira lembra-nos a fragilidade da nossa casa comum, sujeita não só aos desastres naturais, mas também à ganância, exploração e devastação pela mão do homem.”

O Japão é um dos países mais ricos e tecnologicamente avançados do mundo, mas tal como já tinha feito esta segunda-feira na missa celebrada em Tóquio e no encontro com os jovens e com vítimas do sismo, tsunami e desastre nuclear de 2011, Francisco sublinhou que existem problemas e que o grau de civilização de uma sociedade não se mede em tecnologia ou dinheiro.

“A dignidade humana deve estar no centro de toda a atividade social, económica e política; é necessário promover a solidariedade entre gerações e deve-se, em todos os níveis da vida comunitária, demonstrar preocupação por quantos são esquecidos e excluídos. Penso particularmente nos jovens, que muitas vezes se sentem acabrunhados perante as dificuldades do crescimento, e também nos idosos e nas pessoas abandonadas que sofrem de isolamento.”

“Sabemos que, em última análise, o nível de civilização duma nação ou dum povo não se mede pelo seu poder económico, mas pela atenção que dedica aos necessitados e também pela capacidade de se tornarem fecundos e promotores de vida”, afirmou.

Antes de fazer o seu discurso o Papa ouviu o primeiro-ministro Shinzo Abe dirigir-lhe palavras de boas-vindas e evocar as raízes do cristianismo no Japão. Depois de esforços bem conseguidos por parte dos primeiros missionários no país, as autoridades japonesas proibiram o Cristianismo, perseguiram os fiéis e expulsaram os estrangeiros. A proibição da fé durou 220 anos. Porém, houve comunidades que resistiram em segredo, acreditando numa profecia que dizia que passadas sete gerações um padre voltaria através do mar.

“A resiliência necessária para manter a unidade entre esses círculos de crentes, e de manterem a fé ao longo do que foram, de facto, sete gerações é algo que nos abala até à alma ainda hoje, transcendendo o tempo, o espaço e até as diferenças religiosas”, disse o primeiro-ministro.

O ciclo de isolamento foi quebrado em 1865 quando foi dada autorização ao padre Bernard Petitjean para construir uma igreja em Nagasáqui. Poucos dias depois foi visitado por um grupo de 12 pessoas, incluindo mulheres e crianças, que vinham confirmar se a Igreja era católica, procurando uma imagem de Nossa Senhora, para espanto total do sacerdote, que acreditava que não existiam japoneses cristãos.

Tragicamente essa e outras comunidades católicas da zona de Nagasáqui foram quase eliminadas pela bomba atómica de 1945. O primeiro-ministro referiu-se a uma fotografia trágica que o Papa usou há uns anos para ilustrar o horror da guerra. “Na imagem está um rapaz novo, com cerca de 10 anos. Às costas carrega uma criança, com a cabeça inerte, olhos fechados, que parece ser seu irmão, o seu irmão mais novo. O espaço onde se encontra o rapaz, de pé e em sentido, firme como uma flecha, é o crematório. A criança que carrega às costas já tinha morrido e o rapaz vinha devolvê-lo à terra”.


A experiência traumática que o Japão viveu com as bombas atómicas de Hiroxima e Nagasáqui levam o país a ser firmemente contra as armas nucleares, disse o primeiro-ministro. “Enquanto o único país que experimentou o horror da devastação nuclear na guerra, o Japão é um país com a missão de liderar os esforços da comunidade internacional de chegarmos a um ‘mundo livre de armas nucleares’. Esta é a minha crença e o princípio firme do Governo japonês.”

O Papa Francisco termina a sua visita ao Japão na terça-feira, regressando a Roma.

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