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No Japão, Papa pede aos católicos que sejam antídoto a uma sociedade de consumo

25 nov, 2019 - 07:41 • Aura Miguel , Filipe d'Avillez

Francisco sublinhou os perigos sociais de uma sociedade demasiado focada no consumo, na competição e na produtividade, como é a japonesa.

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O Papa Francisco pede aos católicos que sejam um contratestemunho numa sociedade demasiado preocupada com a produtividade e o consumo.

Na missa que celebrou esta segunda-feira em Tóquio, no Japão, Francisco elenco alguns dos perigos de uma sociedade moderna como é a japonesa, nomeadamente a exclusão social.

É a liberdade humana que fica ameaçada “quando ficamos prisioneiros do círculo vicioso da ansiedade e da competição, ou quando concentramos toda a nossa atenção e as nossas melhores energias na busca obstinada e frenética de produtividade e consumismo como único critério para medir e avaliar as nossas opções ou definir quem somos e quanto valemos. Medida essa, que pouco a pouco nos torna impermeáveis ou insensíveis às coisas importantes, levando o coração a palpitar pelas coisas supérfluas ou efémeras. Como oprime e enreda a alma a ânsia gerada por pensar que tudo pode ser produzido, conquistado e controlado!”, disse Francisco.

“Numa sociedade como o Japão com uma economia altamente desenvolvida, não são poucas as pessoas socialmente isoladas que permanecem à margem, incapazes de entender o significado da vida e da sua própria existência. A casa, a escola e a comunidade, destinadas a ser lugares onde cada um apoia e ajuda os outros, estão a deteriorar-se cada vez mais pela excessiva competição na busca do lucro e da eficiência.”

“Muitas pessoas sentem-se confusas e inquietas, ficam sobrecarregadas pelas demasiadas exigências e preocupações que lhes tiram a paz e o equilíbrio”, lamenta o Papa, convidando a sociedade em geral a “repensar as nossas opções diárias para não acabarmos entalados ou fechados na busca do êxito a todo o custo, incluindo a custo da própria vida. As atitudes mundanas que buscam e perseguem apenas o próprio lucro ou benefício neste mundo, e o egoísmo que pretende a felicidade individual, subtil mas realmente conseguem apenas tornar-nos infelizes e escravos, para além de dificultar o desenvolvimento duma sociedade verdadeiramente harmoniosa e humana”.

Neste contexto, os cristãos são chamados a dar testemunho de um estilo de vida diferente. “como comunidade cristã somos convidados a proteger toda a vida e testemunhar, com sabedoria e coragem, um estilo marcado pela gratuidade e compaixão, pela generosidade e a escuta simples, um estilo capaz de abraçar e receber a vida como se apresenta.”

“Somos convidados a ser comunidade que desenvolva uma pedagogia capaz de acolher tudo o que não é perfeito, tudo o que não é puro nem destilado, mas lá por isso não menos digno de amor. Por acaso uma pessoa portadora de deficiência, uma pessoa frágil não é digna de amor? (…) Uma pessoa, mesmo que seja estrangeira, tenha errado, se encontre doente ou numa prisão, não é digna de amor?”, concluiu Francisco, ecoando palavras que já tinha dirigido aos jovens na Jornada Mundial da Juventude, no Panamá, no início de 2019.

Esta foi a última missa pública que Francisco celebrou no Japão. Ainda esta segunda-feira o Papa terá um encontro com o primeiro-ministro Shinzo Abe, seguido de um encontro com as autoridades civis, aos quais fará um discurso.

A visita do Papa ao Japão termina na terça-feira com uma visita à universidade católica de Tóquio. Depois Francisco regressa a Roma.

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