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Papa no Japão. “Desde jovem senti estima por estas terras”

23 nov, 2019 - 10:02 • Aura Miguel , Filipe d'Avillez

Na chegada a Tóquio Francisco evocou o exemplo dos primeiros missionários, incluindo São Francisco Xavier. Aos bispos disse que “proteger a vida” e promover o Evangelho são complementares.

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O Papa Francisco chegou este sábado ao Japão, cumprindo assim o sonho que desde jovem nutria de conhecer aquele país e de seguir nas pegadas dos primeiros missionários, muitos dos quais deram a vida pela evangelização.

Depois de enfrentar o temporal que se faz sentir em Tóquio, à saída do avião, Francisco viajou rapidamente para a nunciatura apostólica, onde vai pernoitar, mas teve ainda um encontro com os bispos japoneses, a quem confessou o amor pelo seu país.

“Não sei se sabeis, mas desde jovem senti simpatia e estima por estas terras. Passaram-se muitos anos desde aquele impulso missionário, cuja realização se fez esperar. Hoje, o Senhor dá-me a oportunidade de estar no vosso meio como peregrino missionário seguindo os passos de grandes testemunhas da fé”, disse Francisco aos bispos.

De seguida o Papa referiu que se passam 470 anos desde a chegada dos primeiros missionários e, falando diretamente de São Francisco Xavier, disse “recordando-o, quero unir-me convosco para dar graças ao Senhor por todos aqueles que, ao longo dos séculos, se dedicaram a semear o Evangelho e a servir o povo japonês com grande unção e amor; tal dedicação conferiu uma fisionomia muito particular à Igreja japonesa”.

Depois de uma vaga de perseguições o cristianismo foi oficialmente banido do Japão e os poucos cristãos que se mantiveram tiveram de praticar a sua fé em segredo durante mais de dois séculos. “Pensemos também nos ‘cristãos escondidos’ da região de Nagasáqui, que mantiveram a fé durante várias gerações graças ao batismo, à oração e à catequese. Autênticas Igrejas domésticas que resplandeciam nesta terra, talvez sem o saberem, como espelhos da Família de Nazaré”, disse o Papa.

Foi precisamente em Nagasáqui que os Estados Unidos lançaram uma das duas bombas nucleares que acabariam por levar o Japão a render-se na Segunda Guerra Mundial. O fim das armas nucleares é um dos motivos da visita do Papa, cujo lema é “Proteger toda a vida”. Este é um apelo que é complementar à evangelização, disse Francisco.

“Proteger toda a vida significa, em primeiro lugar, ter um olhar contemplativo capaz de amar a vida de todo o povo que vos está confiado, para reconhecerdes nele, antes de mais nada, um dom do Senhor”, afirmou aos bispos japoneses.

“É o princípio da encarnação, capaz de nos ajudar – melhor do que outras considerações, válidas mas secundárias – a olhar cada vida como um dom gratuito. Proteger toda a vida e anunciar o Evangelho não são duas coisas separadas nem contrapostas, mas uma reclama e exige a outra. Ambas significam estar atentos e vigilantes relativamente a tudo aquilo que hoje possa impedir, nestas terras, o desenvolvimento integral das pessoas confiadas à luz do Evangelho de Jesus.”

Minoria criativa

Os católicos no Japão são cerca de 0,5% da população, que na maioria é budista ou xintoísta, mas que na prática é altamente secularizada. Reconhecendo as dificuldades dos bispos a este respeito, Francisco diz que na sua situação “a palavra mais forte e clara que se pode oferecer é a de um testemunho humilde, diário, aberto ao diálogo com as outras tradições religiosas.”

Assim, espera o Papa, poderá ser possível fazer frente aos muitos problemas que a sociedade enfrenta, não obstante a paz e o bem estar económico que se vivem no país. “Estamos cientes da existência de vários flagelos que ameaçam a vida de algumas pessoas das vossas comunidades, por várias razões atingidas pela solidão, o desespero e o isolamento. O aumento do número de suicídios nas vossas cidades, bem como o bullying e várias formas de consumo estão a criar novos tipos de alienação e desorientamento espiritual. E como tudo isto atinge especialmente os jovens!”

Com poucos recursos e poucos sacerdotes, Francisco recomenda à Igreja japonesa que invista nas famílias. “Sei que a messe é tanta, e os operários são poucos. Por isso vos encorajo a buscar, desenvolver e fazer crescer uma missão capaz de envolver as famílias e promover uma formação capaz de atingir as pessoas onde quer que estejam, tendo sempre em conta a realidade: o ponto de partida para todo o apostolado situa-se no lugar onde se encontram as pessoas, com os seus hábitos e ocupações. Aí devemos alcançar a alma das cidades, dos lugares de trabalho, das universidades, para acompanhar com o Evangelho da compaixão e da misericórdia os fiéis que nos foram confiados.”

A visita do Papa ao Japão prossegue até terça-feira da próxima semana. No domingo há uma agenda preenchida, com visitas a Nagasáqui e a Hiroshima, onde o enfoque serão as armas nucleares. Segunda-feira o Papa encontra-se com vítimas do “triplo desastre” de 2011, quando um sismo foi seguido de um tsunami e um desastre num reator nuclear. Segue-se um encontro privado com o imperador Naruhito, que acaba de tomar posse e, antes do almoço, um encontro com jovens. Depois de comer o Papa celebra missa pública em Tóquio e depois tem encontros com o primeiro-ministro e autoridades cívicas.

O último dia da visita começa com uma missa privada com jesuítas e depois uma visita à universidade católica Sophia, onde fará um último discurso antes de seguir para o aeroporto e partir de volta para Roma.

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