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Entrevista

"Paróquias deviam procurar presos da comunidade e ajudar na reinserção"

19 nov, 2019 - 13:20 • Liliana Monteiro

O coordenador da Pastoral Penitenciária defende que a reabilitação de reclusos "não cabe apenas às prisões". Família, paróquias e empresas têm um papel muito importante a desempenhar na reinserção de quem passou pela prisão.

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Há mais de quatro décadas a fazer visitas aos estabelecimentos prisionais, o padre João Gonçalves, coordenador da Pastoral Penitenciária, é claro.

"A recuperação dos reclusos não depende apenas do sistema penitenciário", defende em entrevista à Renascença. "A prisão faz o que pode com educadores e psicólogos, trabalho e escola."

Lembrando que "um preso faz parte da sociedade, está privado da liberdade durante um tempo, mas depois regressa’, o padre João Gonçalves constata, com pesar, que muitas vezes os reclusos são abandonados pelas famílias entre muros.

"Desaparecem os laços de afetividade, não há visitas e é duro ver os outros a recebê-las", sublinha. E quando são libertados, essa ligação familiar está perdida e não há zona de conforto nem acolhimento.

À Renascença, o padre João Gonçalves revela também que as paróquias, que acolhem grande parte das comunidades, "deviam ver quem está preso", perceber "porquê e do que precisam", em vez de "rejeitar essas pessoas". O coordenador da Pastoral Penitenciária considera que é preciso olhar para estas pessoas de forma diferente porque precisam de ser ajudadas.

Além das paróquias, também a comunidade laboral, as empresas, podem ajudar. "Uma fábrica, um restaurante ou um café, aqui os ex-reclusos deviam ser melhor acolhidos, embora muita gente precise de trabalho, deve ajudar-se estas pessoas que estão fragilizadas."

"Infelizmente", acrescenta o coordenador, os ex-reclusos "ouvem frequentemente coisas como 'Estiveste na cadeia? O que fizeste nos últimos anos?’ ou [lidam com] pessoas que denunciam ‘Tens aqui a trabalhar alguém que esteve na cadeia’", acabando o ex-recluso por ser despedido no final desse dia de trabalho.

O Coordenador da Pastoral Penitenciária alerta para o facto de a reabilitação de quem comete crimes não caber apenas às prisões, sendo as famílias, as empresas e as paróquias motores importantes de dinamização e reintegração destas pessoas na sociedade.

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