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Exposição "Saudades dos Cartuxos" evoca 60 anos da presença dos monges em Évora

18 out, 2019 - 12:45 • Rosário Silva

Iniciativa da Fundação Eugénio de Almeida inclui fotografias de Daniel Blaufuks, Mark Power, José M. Rodrigues, Paulo Catrica ou Nacho Doce. Mostra será inaugurada a 26 de outubro.

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Depois de uma emocionada despedida aos monges cartuxos, com uma eucaristia muito participada e a abertura de clausura, a cidade de Évora volta a lembrar a comunidade orante que nos últimos 60 anos se fundiu com a história da cidade museu.

Desta vez, é a Fundação Eugénio de Almeida (FEA) que assinala a despedida dos monges Cartuxos do Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli, com um programa agendado para 26 de outubro, no Auditório e Centro de Arte e Cultura da FEA.

O monge, que se tornou no “rosto” da comunidade cartusiana junto dos eborenses, o padre Antão Lopez, monge cartuxo, em Évora, há 55 anos e prior da Cartuxa de Santa Maria Scala Coeli desde 1989, vai estar à conversa com José Manuel Fernandes, o diretor do jornal Observador. Um diálogo, marcado para as 17 horas desse dia, e que pretende ser um desfiar de memórias e vivências do seu percurso monástico e da relação da Cartuxa com a Fundação e com a cidade.

Uma hora mais tarde, por volta das 18 horas, no Centro de Arte e Cultura (CAC), é inaugurada a exposição “Saudades dos Cartuxos”. Trata-se de uma mostra de fotografia e vídeo que lembra a presença dos monges no Mosteiro, desde a década de 60 (séc. XX) até aos dias de hoje.

“Abandonando a Cartuxa, os monges brancos mudam de solidão, destinam-se a outros desertos que a sua oração há-de habitar”, sublinha o curador e diretor do CAC, José Alberto Ferreira.

A exposição integra trabalhos de grandes fotógrafos, como Daniel Blaufuks, Mark Power, José M. Rodrigues, Paulo Catrica, Nacho Doce, entre outros.

Os visitantes vão poder, também, acompanhar, numa espécie de “linha do tempo em imagens”, alguns momentos históricos da Cartuxa de Évora ou visitas de personalidades destacadas do panorama político e cultural nacional.

Sobre a pertinência desta mostra, José Alberto Ferreira justifica-a, também, pelo facto de os monges levarem consigo “a saudade do espaço do convento, da cidade, dos crentes que lhes aquecem os domingos e da paisagem na qual fazem o seu passeio semanal”.

“São imagens que a memória assimilou”, adianta o curador, “e que os suportes digitais permitem”. São fotografias que surgem como “lugares de saudade”, tal como a “saudade se manifesta como lugar fotográfico, o lugar de todas as fotos da Cartuxa e dos Cartuxos”, refere.

A acompanhar a inauguração, bem como a conversa com o padre Antão Lopez, vai estar o arcebispo de Évora, que é também o presidente do conselho de administração da FEA.

“Há um sentimento de profunda gratidão pelo grande testemunho que os monges cartuxos nos souberam legar e sentimo-nos herdeiros desse testemunho de valorização do ser humano”, diz o prelado, assegurando que

os cartuxos “jamais se desvincularão desta cidade, que lhe está grata pelos 60 anos de presença silenciosa e orante.”

A Cartuxa de Évora e a Fundação Eugénio de Almeida

Foi em 1587, que os primeiros monges fundaram o Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli, na cidade de Évora. Três séculos depois, os ventos da História determinariam a expulsão da Ordem de São Bruno, votando o mosteiro ao abandono e vandalismo.

Regressariam a Évora, em 1960, pela mão de Vasco Maria Eugénio de Almeida, o instituidor da FEA e um grande mecenas da cidade, tendo investido tempo e recursos para restaurar o mosteiro e a sua comunidade de Cartuxos, devolvendo à cidade um autentico tesouro artístico, mas, sobretudo, espiritual.

Depois da sua morte, a FEA continuou a assegurar a manutenção e preservação de Santa Maria Scala Coeli, tal como era vontade do seu fundador, tendo sido possível, durante quase seis décadas, que os monges ali permanecessem em silêncio e oração.

Em 1977, chegaram a ser 22, os monges cartusianos, mas com a diminuição de vocações por toda a Europa, a comunidade acabou por diminuir, ficando reduzida a quatro monges: o Padre Antão Lopez, espanhol, de 85 anos, o Padre Isidoro, espanhol, de 92, o Irmão José, espanhol, de 91, e o Irmão António, o único português, de 82 anos.

Recentemente, receberam a indicação do Capítulo Geral da Ordem (fundada em 1140) de que teriam que mudar-se para a Cartuxa de Montalegre, a cerca de 20 quilómetros de Barcelona, o que acontece no final deste mês. É também o fim da presença das ordens masculinas de clausura, em Portugal.

«A extinção da Cartuxa de Évora provoca em nós a tristeza muda das perguntas sem resposta», escreve historiador José Mattoso, num texto sobre a despedida dos Monges Cartuxos, incluído na publicação que acompanha a exposição “Saudades dos Cartuxos”.

A mostra é inaugurada, às 18 horas, do próximo dia 26, no Centro de Arte e Cultura da FEA.
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