20 set, 2019 - 15:52 • Filipe d'Avillez com Ecclesia
A Comissão Nacional Justiça e Paz lamenta o “silêncio penoso” que envolveu o assassinato e violação da irmã Maria Antónia Guerra Pinho, no passado dia 8 de setembro. A freira era conhecida localmente por “Tona”.
Numa nota enviada esta sexta-feira à Renascença, a Comissão diz que “Assistimos, consternados, à notícia da violação e assassinato de uma religiosa em S. João da Madeira.”
“Esta religiosa dedicava a sua vida ao serviço dos pobres e marginalizados. Este crime não se passou na Síria em guerra, ou no Iémen ou em outro país não-europeu em guerra. Foi entre nós, ‘dentro de portas’!”
Tal como fez o bispo do Porto, D. Manuel Linda, a comissão queixa-se da ineficiência da justiça e do silêncio tanto da comunicação social como de organizações que normalmente se manifestam quando são assassinadas mulheres.
“A lentidão e burocratização da justiça é-nos sobejamente conhecida: o mandado de detenção do criminoso não foi efetivado a tempo, apesar de uma tentativa de violação anterior. Estranhamente as organizações de mulheres e de apoio às vítimas de violência – doméstica ou outras – pouco disseram. No entanto tratou-se de um cruel feminicídio.”
“Constatamos que tem havido um silêncio penoso sobre este crime – salvo raras exceções – e perguntamos intimamente quais as razões deste silêncio: ‘lavamos as mãos’ da nossa responsabilidade individual e coletiva, como fez Pilatos?”, pergunta a comissão.
Por fim, a CNJP deixa um recado ao Governo. “a função de qualquer Governo e das instituições da sociedade civil é estarem ao serviço dos cidadãos mais vulneráveis, ao serviço dos que não têm voz (dos “descartados da sociedade”, como afirma o Papa Francisco). Mas, simultaneamente, devem estar ao serviço daqueles e daquelas que lutam pela justiça e fazem trabalho de promoção humana na solidariedade e na paz – como foi o caso do crime mencionado acima e que podia bem ter sido evitado.”
“E devem fazê-lo sem qualquer discriminação por causa de opções religiosas, origem social, sexo ou orientação sexual, idade, raça ou cultura, e outras”, diz a CNJP.
Bispo do Algarve fala em canonização
O bispo do Algarve considera que existe intenção de introdução do processo de canonização da irmã Maria Antónia Guerra.
Na homilia de uma missa a que presidiu em Alcantarilha, D. Manuel Quintas explicou que a religiosa portuguesa “dispensa de milagres porque foi fiel aos seus votos e ao seu compromisso” e considera-a “quase uma mártir”.
O bispo destaca que a irmã Maria Antónia Guerra “quis fazer bem também a alguém que tinha deixado a prisão há alguns meses, preso por tráfico, sequestro e abuso sexual”.
O suspeito do homicídio da irmã “Tona” já foi detido pela Polícia Judiciária.