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As 100 viagens (que são 500) da jornalista cuja bochecha é uma relíquia de João Paulo II

13 mai, 2019 - 20:06 • Filipe d'Avillez

A homenagem feita a Aura Miguel pela centena de viagens papais foi rica em revelações e memórias de episódios sobre aquela que foi a pioneira do jornalismo feminino na Renascença.

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Quatro bispos, três diretores de informação e uma mão cheia de outras personalidades, incluindo políticos, fizeram questão de marcar presença na homenagem prestada esta segunda-feira à jornalista Aura Miguel, no auditório da Renascença.

O motivo foi o completar de 100 viagens a acompanhar o Papa – aliás, três Papas – que começou em 1987, a uma Polónia ainda ensombrada pela Cortina de Ferro.

Durante cerca de hora e meia foram várias as histórias que se ouviram sobre a carreira de Aura Miguel, incluindo uma vez em que furou o protocolo para chegar junto a João Paulo II, que simpaticamente lhe respondeu a algumas perguntas. No final a jornalista percebeu que o gravador estava avariado e como os nervos a tinham impedido de prestar atenção ao que o Papa lhe dizia, tudo se perdeu. “Deus não quis”, conclui.

Mas essa oportunidade perdida é apenas uma memória curiosa numa longa lista de sucessos e marcos importantes, entre os quais se destaca o convite feito pelo mesmo Papa polaco para ser uma dos 14 jornalistas que escreveu as meditações para a Via Sacra de Sexta-feira Santa, em Roma.

“Foi inimaginável. Foi o momento mais comovente e que me permitiu agradecer ao Papa de tal forma que ele passou sempre a cumprimentar-me com uma festinha na cara, o que faz da minha bochecha uma relíquia de João Paulo II”, concluiu, provocando gargalhadas entre as dezenas de pessoas que encheram o auditório.

Entre os convidados da sessão de homenagem estava João Amaral, diretor de informação no ano em que Aura Miguel foi convidada a acompanhar a tal viagem à Polónia, por sugestão do agora cónego João Seabra. Amaral mostrou-se satisfeito pelo longevidade da carreira que pôs em marcha, mas atribui a Aura Miguel outro marco não menos importante.

“O padre João Seabra chamou-me a atenção para a Aura que já fazia algum jornalismo escrito. Ela queria ser diplomata, mas eu consegui convencê-la a entrar para a Renascença. Mas tive também de convencer a administração a deixá-la entrar, porque na altura não havia uma única mulher jornalista na redação da jornalista. Hoje a diretora de informação é uma mulher. Tudo isto se deve à Aura. Foi o contributo mais importante que ela deu”, sublinha.

José Luís Ramos Pinheiro, que também foi diretor de informação e atualmente faz parte do Conselho de Administração da Renascença, diz que é difícil imaginar hoje como era difícil para os interessados acompanhar o Papa antes de Aura Miguel se tornar uma vaticanista regular. “Ninguém se lembra como era. A sociedade portuguesa tinha dificuldade em aceder à informação sobre o dia-a-dia dos Papas”.

Já a atual diretora de informação, Graça Franco, provocou algum espanto ao dizer que não eram 100 as viagens que a Renascença celebrava, são muitas mais: “Por cada viagem que a Aura faz com o Papa, faz pelo menos quatro dentro de Portugal, a terras e grupos, para falar sobre os Papas e as viagens papais, pelo que são pelo menos 500 viagens em torno do Papa”.

Aprender com os não crentes

Aura Miguel não esconde o facto de ser católica praticante e é por isso com um sentido profundo de missão que exerce o seu trabalho.

Questionada pelo jornalista José Pedro Frazão, que moderou as conversas, disse que “ser crente faz muita diferença. Para quem tem fé, ter os olhos fixos em Pedro é uma grande emoção”.

Mas fez questão de ressalvar o muito que já aprendeu também com colegas que não partilham a sua fé. “Quando comecei era muito jovem e aprendi imenso com o Victor Simpson, agora da Associated Press, que é judeu e a quem o Papa chamava muitas vezes para falar, porque admirava muito a sua maneira de trabalhar.”

Instada a dizer o que é que aprendeu com os diferentes Papas que já acompanhou, Aura Miguel recordou que teve a oportunidade de perguntar diretamente a João Paulo II como é que podia ser melhor jornalista. “É preciso discernir sempre”, respondeu. “Com o Bento XVI aprendi a alargar os horizontes da razão e com o Papa Francisco a perceber que a realidade é superior à ideia, na realidade é que se joga tudo.”

E depois de 100 viagens, não se torna monótono acompanhar o Papa? Aura Miguel explica qual é o seu segredo. “É sempre uma emoção entrar na barca de Pedro, que agora é um avião. Tento viver tudo como se fosse sempre a primeira vez.”

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